sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O escuro


Sua libido abre a braguilha e coloca-se para fora
Sente invadir-se da brisa dos desejos da carne
Acende os sentidos com as línguas da noite
Atiça a pele com o alisar de várias mãos
Exclama a respiração com vários movimentos prensados
Boca a boca
Olhos fechados
Dedos libertinos que apertam peles suadas
Cheiros de animais insaciáveis que invadem almas
Santos e pecadores se livram de algemas morais
A liberdade os oferece aos corpos daquele mundo
O perigo excita tanto quanto tudo que as mãos procuram
Zíperes se abrem
Braços falam
Bocas tateiam
Mentes gemem
Peles se esfregam
Cintos se rangem
Peitos se entrelaçam
Pernas se grudam
Pulmões respiram orgasmos
E a sinfonia de delírios adentra pela noite
Celebrando o poder supremo do instinto
Quem quiser participar dessa festa no escuro
Leve apenas o prato principal
E sem culpa.

Danilo Moreira

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Foto: http://poetaapto.wordpress.com/2012/07/09/beijo/

domingo, 17 de agosto de 2014

Agosto de 1999


Agosto de 1999. Sétima série. 

A sala estava em aula vaga. Em uma das carteiras quase na frente, destacava-se um garoto de 13 anos, magro e com olhos baixos. Estava reflexivo. Era um adolescente introvertido. Falava pouco. Sentia uma incompatibilidade com o mundo, e principalmente, para fazer amigos. Amava o mundo com a mesma intensidade que o odiava. Sentia constantemente uma vontade de desabafar. 

O garoto achava interessante o ato de contar histórias. Viu algumas vezes na tv, principalmente no desenho do Doug, o diário em que relatava as suas aventuras. Via também, no Castelo Rá-Tim-Bum da Tv Cultura, um os episódios em que o Nino resolveu escrever um livro. Ele até que gostava de escrever. Às vezes ele colocava no papel algumas coisas que o incomodava, ou passava as tardes contando histórias inventadas para um amigo de sua rua. 

Não via a hora de sair daquela sala. Já tinha xingado várias vezes um colega que insistia em pirraçá-lo. Era impressionante como querer ficar na sua era motivo para ser ainda mais importunado. Não iria bater nele. Sabia que era minoria. Ao ouvir o sino da saída, pegou sua mochila e disparou rumo sua casa, como sempre sem se despedir de ninguém. Já anoitecia e medroso como era, andava a passos acelerados. 

Já eram quase onze da noite quando se recolheu para seu pequeno quarto. Só havia uma cama com cabeceira de baú repleta de gibis em cima e uma cômoda marfim, na qual ficava seu gravador toca fitas, a pequena televisão de oito polegadas emprestada pelo irmão, que também tinha rádio. Ao lado, sua agenda escolar azul na qual costumava desabafar e marcar recados. 

Sentou na cama. Pegou seu travesseiro. Encostou-se ao baú. Iria aproveitar que seu irmão, que ficava no quarto ao lado, ainda não havia chegado do trabalho. Com o silêncio, poderia escrever a vontade. Sobre o que os poetas costumavam falar mesmo? Ah, mulheres, mulheres, mulheres! Ele não era muito de ler, só sabia mesmo ou pelo que via na televisão ou o que as professoras o mandavam ler. Pensou em uma linda garota qualquer. Resolveu exaltar sua beleza. Escreveu um poema em um estilo que, anos depois, descobriria que era semelhante aos poetas do Trovadorismo: exaltando uma mulher como um ser quase divino. Pronto. Intitulou-o de Imagem Sedutora e Atraente. Concluiu o seu primeiro poema. 

Após escrevê-lo, respirou fundo. Colocou as mãos atrás da cabeça. Percebeu que era isso que mais gostava: escrever. Era isso que ele queria fazer em sua vida. Era sua válvula de escape, o momento em que seu “eu” aparecia sem medo e respirava livremente, inclusive para falar o que pensava. 

Desligou o interruptor. Olhou para a lua, cujos raios escorriam pela janela. Enlaçou o travesseiro com seus braços magrelos, e dormiu, satisfeito com o que havia acabado de fazer. O poema ficou ali, guardado naquela agenda em cima da sua cômoda como uma criança que acabava de nascer. Agora repousava sob o manto do papel... 

E o universo dos seus sonhos finalmente encontrava seu lugar, seu espaço, e sua terra firme. 

Danilo Moreira
Criado inicialmente em agosto de 2009 (com adaptações).

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domingo, 3 de agosto de 2014

Proibido para menores


Era noite e Miguel, de nove anos, estava sozinho em casa. Viu que não tinha mais nada para fazer, decidiu ligar a televisão. Pegou o controle, passou por alguns canais e entortou os lábios. Nada de interessante até então.
Fez uma última tentativa e caiu em uma cena de novela. Nela, duas mulheres se beijavam. O menino arregalou os olhos. “Menina com menina? Isso não tá errado?”, pensou. Observou o casal. Eram duas atrizes que ele já tinha visto antes. Ele sabia o que era novela, sabia que ali era apenas uma encenação. Mas mesmo assim, sentiu estranheza. Em seguida, riu. Não tinha nada demais. Chegava a ser engraçada. “Mulher já se cumprimenta beijando mesmo”.
Neste momento, brotaram dedos em seu colo, arrancando o controle de si e mirando para a televisão como se fosse uma arma. Ela foi desligada.
– Já para seu quarto! Já falei pra não assistir novela que não é coisa pra sua idade!
– Mas, mãe!
– Sem conversa! Se não for por bem vai por mal!
Miguel baixou a cabeça e chateado, trancou-se no seu quarto. No cômodo ao lado, ouvia-se a conversa dos pais. –
– Amor, não precisava gritar com ele daquela forma. Era só desligar a televisão.
– Não quero saber! Novela não tem nada que preste, só traição, violência, mentiras, sexo, imoralidades... E agora entraram nessa moda de beijo gay e lésbico. É isso que querem ensinar pras crianças? Novela devia ser proibida para menores!
O menino encolheu-se nos joelhos e chorou até dormir.

No dia seguinte, seus olhos mal se abriam. Tinha que acordar cedo para ir ao colégio. Sentou-se à mesa, pegou seu chocolate quente e o bebeu com olhar concentrado. Sua mãe observava a televisão ao lado:
“Grupo de jovens ateiam fogo a mendigo no Centro da cidade e filmam toda a ação! Confira o vídeo!”
Curioso, o pai aumentou o volume do aparelho. Ao ouvir os berros do mendigo sendo incendiados e as gargalhadas ao fundo do vídeo, Miguel sentiu seu estomago se embrulhar. Virou a cabeça para a sua caneca de chocolate, tentando fugir daquela imagem, mas a televisão estava tão alta que o som invadia seus ouvidos. Decidiu falar com o pai para distrair-se da cena.
– Pai! O meu amigo da escola me convidou pra assistir “Os Loucos” na casa dele depois da aula? Posso? Diz que sim!
– Os Loucos? Aquele filme com aqueles adolescentes que aprontam de tudo? De jeito nenhum. Não tinham outro filme melhor pra assistir não?
– Mas pai!
– Seu pai está certo! Tem tantos filmes interessantes e educativos pra assistir. Já viram aquele novo da Disney, com aqueles bichinhos tão fofos? Aquilo é coisa pra tua idade!
Miguel baixou a cabeça. Levantou-se da mesa e foi arrumar-se para o colégio. Enquanto penteava os cabelos, ouviu os vidros da sua janela se estremecerem com o som alto de um carro que passava na rua. A frase, repetida várias vezes, era uma vez masculina pedindo para uma mulher tacar sua genital com força na cara dele. Ele já sabia o que aquilo queria dizer. Na verdade, ele ouvia mais detalhes da cena todos os fins de semana, quando o vizinho estava em casa e ligava o radio no último volume, ou quando ia nas festas dos primos e as tias colocavam aquelas músicas. Lembrou um dia, inclusive, quando era menor e quis imitar o jeito que um tio dançava. Todos riram, inclusive seus pais.

Entrou no carro do pai em silêncio. Ao ver a tristeza do filho, o homem apenas alisou sua cabeça. Em seguida, deu a partida. Miguel abriu um jogo em seu celular para se distrair. A todo momento era desconcentrado pelos palavrões que seu pai soltava ao xingar os motoqueiros ou motoristas que passavam por ele ou quando parava em algum semáforo.

No intervalo da escola, encontrou-se com alguns amigos. Um deles tinha nas mãos uma revista pornô, que pegara escondido dos pais. O menino olhou, impressionado com aquela modelo, que fazia caras e poses provocativas. Ao ouvir a voz do inspetor, os meninos disfarçaram. Passaram a fazer piadas de duplo sentido e a comentar das professoras mais bonitas.

À noite, família em casa, a mãe o chamou para jantar. Na televisão, sintonizada em um canal pago, um filme exibia um tira, que após perder a família num atentado criminoso, decidiu buscar vingança. Na sala, com um prato de comida na mão, o pai e mais um amigo não tiravam os olhos da cena. Em uma das lutas, o vingador estoura os olhos do inimigo apenas com os dedos. A mãe leva seu prato para a sala e chama Miguel para ir junto. Com o volume alto, potencializado pelas caixas de som, o menino observa corpos e mais corpos inimigos sendo abertos em sangue.
– Cara, você sabe que não sou de palpitar, mas esse filme não é muito violento pro seu filho, não?
– Que nada! É um clássico! A gente não assistiu quando era pequeno e matamos alguém? Meu filho é macho! Aguenta assistir numa boa!
E todos riram. Miguel, ainda mau humorado (ele queria ver Os Loucos, que os amigos já tinham assistido e encheram sua cabeça com elogios ao filme), levantou-se do sofá e disse que ia dormir.

 Encostou a cabeça junto ao travesseiro e logo pegou no sono. Mas não durou muito tempo. Acordou com barulhos de tiros. Colocou o travesseiro por cima da cabeça. Ouviu berros de uma mulher desesperada, berrando “Meu filho! Meu filho”!

No dia seguinte, enquanto tomava café, ouviu seu pai comentar que mataram um conhecido deles. A mãe disse que provavelmente ele estava envolvido com drogas. O pai achava que era assalto. A mãe disse que ele era inocente demais. O pai respondeu que ela era insensível demais. Os dois discutiram e em segundos passaram a se ofender com palavrões. Miguel tomava seu chocolate quente fingindo que não era com ele. Decidiu ir para a sala. Na televisão, o telejornal mostrava uma chacina em um bairro da periferia, com fotos dos corpos dos jovens ensacados e amontoados numa calçada. Pegou o controle e mudou de canal, desta vez da TV aberta. “Não perca! Os Loucos hoje, na sessão das 11, após a novela Estanho Mimo”, dizia a propaganda. Miguel sorriu. Seus pais certamente já estariam dormindo nesse horário. Finalmente conseguiria assistir o filme. A TV era a única alternativa, já que seu tablet estava bloqueado, assim como os notebooks dos pais.

Quando chegou a meia noite, abriu a porta do quarto, pegou o controle da TV e ligou bem baixo para assistir. Os adolescentes atrapalhados faziam de tudo para transar com duas garotas, e apenas se metiam em confusões. Nesse momento, viu uma sombra tampar a televisão. Era sua mãe, que tinha se levantado para pegar um copo d’água.
– O que foi que eu falei de assistir a essa porcaria? Por que me desobedeceu! Está de castigo, sem TV por duas semanas.
– Mas mããe!
– Não quero choro! Já falei que você precisa assistir a coisas educativas. Essas porcarias só tem sexo, violência e drogas. Vai dormir agora se não quiser que eu te leve à força!
Miguel arremessou o controle no sofá e saiu chorando para o quarto. Achava o filme apenas engraçado, mas tinha situações que ele já havia presenciado. Para ele, não era nada demais.
“Gente hipócrita” pensou, minutos antes de pegar no sono, quando suas lágrimas já começavam a secar.  
Finalmente ele tinha entendido aquela palavra que a professora vivia repetindo no colégio.

Danilo Moreira

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Foto: Google 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

NEEEEEEM te conto: Manual da Bisca estreia nova temporada em SP


Olá! O Ponto Três volta com uma dica cultural interessante para você que adora teatro e está a fim de rir. 
Depois de quase dois anos afastado do teatro, um tipo de arte da qual sou apaixonado, tive a honra na quinta-feira passada (22/7) de assistir à estreia de “Manual da Bisca”, comédia que iniciou nova temporada no teatro Maria Della Costa, em São Paulo. A peça é produzida pela Cia dos Tantos, grupo de teatro que integra os atores Janaína Maranhão, Thiago Tavares e Guy Davllis (que também dirige a atração). 

A história fala sobre tudo aquilo que toda mulher gostaria de ser, mesmo às escondidas. Janaína retrata de forma bem humorada diversos tipos de mulheres que são determinadas, que sabem o que querem e não sentem vergonha dos desejos, das ambições e do corpo nem sempre nos padrões determinados pela sociedade, e tudo isso sem perder a feminilidade e vivendo os dilemas do mundo moderno. O termo “bisca” é usado para designar a personalidade decidida destas meninas. 

Janaína e suas 14 “biscas” abusam de caras e bocas, brincam com a voz (NEEEEEEEEEEEEEEM), com corpo e interagem com outros atores e o público de forma descontraída e engraçada, chegando até mesmo a mexerem com o constrangimento masculino, ainda comum nos dias atuais, quando a mulher toma a iniciativa de “chegar junto”. Thiago e Guy encenam diversos tipos de homens – de um típico jovem da Geração Z ao marido desleixado – que lidam com estas “biscas” em situações comuns mas que de tão cotidianas acabam arrancando risos de quem assiste. 

O humor é escancarado, com piadas para quem tem a mente aberta, chega até mesmo a lembrar o estilo inconfundível de Dercy Gonçalves (1907-2008). Guy e Thiago também encantam com seus variados personagens. Uma das personagens de Guy, um típico rastafári descolado e desajeitado, arranca muitas gargalhadas da plateia. O “boy bombado” da balada, interpretado por Thiago e suas cantadas “estonteantes” também mostram o quanto a postura de macho-alfa-caçador às vezes pode ser patética. Mas não importa, se a mulher estiver a fim de se divertir com ele, ela deve curtir o momento e pronto.  

Manual da Bisca é uma lição bem humorada dentro de uma sociedade ainda tão machista. Todos rimos porque reconhecemos aquelas situações. Sabemos o quanto aquilo acontece, e ao vermos uma mulher brilhar daquela forma, se auto afirmando dentro de seus dilemas e problemas e se divertindo sem medo, abrimos um sorriso, no fundo, torcendo para que mais “biscas” como ela assumam as rédeas de sua vida e se importem menos com a opinião alheia.  

A peça é baseada no livro homônimo de Thiago. O grupo já apresentou outras peças como "Chapeuzinho Vermelho... Pela Estrada A Fora", “A Cigarra e a Formiga”, "A Galinha dos Ovos de Ouro" e "Ad Perpetuam...Depois do último tiro”, entre outros trabalhos. Para conhecer a página do grupo no Facebook, clique aqui.   

Manual da Bisca está em cartaz às quintas-feiras, às 21h, no teatro Maria Della Costa, na rua Paim, 72, na Bela Vista, em São Paulo. Os ingressos custam R$40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia). NEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEM pense em perder esta oportunidade de rir e se divertir muito! 

Danilo Moreira

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Foto: Manual da Bisca (Facebook)/Divulgação

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O soco


Nada como levar um grande soco, daqueles que fazem você cair com a boca no concreto. Foi essa a sensação generalizada após o jogo de ontem (8/7), em que a seleção brasileira perdeu de 7 a 1 para a Alemanha. E, dessa forma, chega ao fim a anestesia e o sonho de ser o campeão da chamada “Copa das Copas”.

Há dois meses, o assunto Copa do Mundo no Brasil era tratado com extremo pessimismo, em meio a greves e protestos em diversas regiões do País. Muitos estufavam o peito e diziam que iam torcer contra a seleção, ou que no máximo não sentiam ânimo para acompanhar os jogos. Eu mesmo brincava que caso o Brasil fosse eliminado, era bem provável que as pessoas sairiam às ruas para comemorar.

E então, começou a competição e vimos aquele país acinzentado por um pessimismo quase paranoico (que confesso, também fiz parte) se colorir de verde e amarelo, ansioso para curtir os feriados ou sair mais cedo do trabalho para assistir aos jogos, conhecer os gringos e fazer aquela bagunça com os amigos e a família, e é claro, torcer pela seleção. Diferente de alguns meses antes, ser a favor do time agora não era mais uma “heresia”, mas sim uma atitude patriota. E então, muitos foram para rua (quando não conseguiam entrar nos bares lotados), desta vez para curtir o jogo.

E agora, depois da derrota de ontem, não se fala em outra coisa. Fazem piadas, no melhor estilo brasileiro de rir das próprias tragédias (assim como eu via as pessoas fazerem ao se espremerem nas escadas do Terminal Grajaú, horas antes dos jogos do Brasil), procuram-se culpados, renasce o tal espírito revolucionário da moda, e alguns que torceram contra vomitam frases como “humilhação mesmo é o que o povo sofre todo dia, sem saúde e educação...”. Às vezes acho que existem muitas pessoas bipolares no Brasil, inclusive a própria grande imprensa, que ovaciona a seleção em um dia, e no outro, a nocauteia, com frases de impacto e adjetivos que mais lembram uma novela mexicana.

Não tenho vergonha em dizer que torci pela seleção, mesmo criticando os gastos excessivos da Copa. Não vejo sentido em descontar neles algo que envolve pessoas que estão em um nível bem superior. Estes são os verdadeiros alvos. Os jogadores estão fazendo o seu trabalho. É a mesma lógica de quem acredita que agredir um jornalista da Globo vai atingir a manipulação da mídia.

A seleção teve um péssimo desempenho neste último jogo e sofrerá as consequências disso por anos. Já quem apenas foi um espectador sofrerá apenas com o momento, mas será passageiro. Voltaremos às nossas rotinas normais, aos mesmos problemas sociais de todos os anos, e assim a vida seguirá. É por isso que o jornalista Leonardo Sakamoto afirma em seu blog que não devemos ficar tristes por muito tempo. Estamos de ressaca de um evento que, graças à mídia, foi tratado como algo gigantesco, de suma importância, e que de uma hora para outra despedaçou-se em piadas, ofensas e frustração. É apenas futebol. A moral de um país vai muito além de um evento esportivo.

Perdemos a Copa, mas tenho certeza que para muitas pessoas, assim como eu, o evento trouxe experiências inesquecíveis: ver os jogos com os amigos, as situações engraçadas e inusitadas, torcer, vibrar e se emocionar com gente que você nunca viu na vida e ter contato com pessoas de outras culturas e nacionalidades. Quem vivenciou tudo isso, certamente terá histórias para contar e independentemente se a seleção ganhou ou não, serão essas esses momentos especiais que carregarão para o resto da vida.

É o fim de um ciclo que com protestos ou não, aconteceu. E ponto. O fato é que com título ou não, continuamos a ser o mesmo país e com os mesmos problemas. O importante é que quem quis se divertir, se divertiu. Quem não quis, está se divertindo agora vendo a decepção dos outros. Mas, logo, todos voltarão definitivamente às suas rotinas normais.

Danilo Moreira

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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Cansaços...


Estou cansado de certas coisas.

Cansado de certas atitudes e palavras que vejo e leio por aí. De determinadas cenas que se repetem diante dos meus olhos e ouvidos todos os dias. Dos diálogos e situações estupidamente repetidos.

Estou cansado de certas paisagens.

Cansado de ruas fétidas e prédios úteis abandonados. De desviar de buracos e calçadas mal feitas. Do desequilíbrio de bairros entupidos de carros, empresas e gente e outros sem asfalto ou o mínimo de condições de moradia. De casas com grades em todos os lados e do medo estampado nos muros altos. Do cinza misturado com tinta descascada. Do verde sujo de papel de bala e de latas de alumínio. Do vermelho que escorre pelo asfalto. 

Estou cansado de certas discussões.

Cansado das pessoas que não sabem discutir. Daqueles que resumem a sociedade em PT e PSDB. Daquele que só faz piada de tudo. De quem não lê notícias e vomita todo tipo de ignorância. Daqueles que não experimentam algo ou uma marca e já a criticam sem conhecer.  De discussões que terminam em ofensas baratas. De opiniões que nascem e ecoam de mentes apodrecidas no universo dos estereótipos e dogmas. De querer falar e não saber como. De só saber dizer as palavras certas depois que a oportunidade se foi.

Estou cansado de certos discursos.

Cansado de propagandas políticas cheias de clichês. Das pessoas ignorantes que se apoderam da expressão “o poder do povo” e berram como se fossem donas da razão. Das promessas que nunca são cumpridas e vivem tendo prazo renovado. Das promessas de pessoas que no fundo apenas querem ser simpáticas, mas não têm palavra. 

Estou cansado de certas desculpas.

Cansado de quem sempre rebate palavras sinceras de incentivo com pessimismo. De quem nunca cumpre o que promete porque sempre está atrasado dando desculpas para adiar outras promessas atrasadas.  De tentar inventar desculpas para não assumir os próprios fracassos. De gente que sempre inventa uma desculpa para adiar-se do mundo. 

Estou cansado de certos apertos.

Cansado dos mesmos ônibus e trens lotados, não importa o horário. Da quantidade de vozes e sons estúpidos e vazios que invadem meus ouvidos sem licença. Das bocas que berram ignorância ao mesmo tempo. Das vezes que as nossas vontades apertam o nosso peito e são maiores do que o nosso universo.

Estou cansado de certos sentimentos.

Cansado de ver amores mal resolvidos. De gente que odeia tudo. Das pessoas que amam fingir que amam a todos. Daqueles que vivem carentes de atenção mesmo com todos os abraços do mundo. Do amor que chega errado ou nunca vem.  Do medo bandido que rouba o tempo e a vontade de arriscar.  

Estou cansado de estar cansado. 

Melhor voltar a caminhar. 

Porque cansado ou não, o tempo nunca terá dó de ninguém...

Danilo Moreira

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Foto: Br.Freepik

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Ponto Três: 5 anos!



Olá!

Hoje é uma data muito especial. Há exatos cinco anos, no dia 15 de fevereiro de 2009, estreava na blogosfera o Ponto Três.

Este blog simboliza um período de renovação. Tinha saído de uma fase muito turbulenta, encerrado meu antigo blog e me sentia frustrado com uma série de coisas na minha vida. Entrei 2009 decidido a virar o jogo. Comecei a fazer faculdade, investi em outros planos que estavam engavetados, e a blogosfera, ambiente da qual nunca saí, me levou a criar um novo “filho”. E então, inspirado no clima dos botecos, que são um ponto de encontro e de ideias, criei o Ponto Três, cujo número refere-se ao fato de ser o meu terceiro blog, após o Em Linhas... e o Toca das Letras.

Muita coisa aconteceu de lá para cá. Mudei do curso de Relações Públicas para Jornalismo, publiquei um livro, saí (finalmente!) do Telemarketing e fiz estágio numa das maiores casas legislativas do país. Fiz Teatro, apresentei duas peças, sendo uma de minha autoria, e hoje, com a graduação concluída, trabalho como repórter numa agência de comunicação, além de colaborar para outros sites. E no meio disso tudo, sempre procurei espaço para atualizar o blog com conteúdos que variam desde textos literários a artigos e crônicas sobre fatos do cotidiano, como os protestos em junho de 2013, a morte de Michael Jackson, e reportagens como a feita sobre a Virada Cultural 2011 no SESC Interlagos.

Certamente, a seção mais acessada do blog é a Antes e Depois, com matérias que relembram intérpretes de produções antigas e contam suas trajetórias de vida antes e depois do sucesso. Até hoje, o post campeão de visualizações é o Os atores de Castelo Ra-Tim-Bum, com cerca de 49,8 mil acessos desde a sua publicação em outubro de 2010. Outras seções também me marcaram pelo desafio de produzir, como a À flor da pele, com textos literários de cunho sensual, ou os Minicontos, com histórias contadas em poucas linhas.

Quando vejo os textos que produzi aqui, a única palavra que me vem na mente é “mudança”. Tudo mudou. A blogosfera não é mais a mesma de cinco anos atrás. Minha mentalidade em relação ao blog também. Antes, comentário era moeda de troca. Me esforçava mais para procurar parceiros e blogs interessantes. Hoje, mal consigo ter tempo necessário para pensar no que vou publicar. Mas tento. Sempre tento. Meu coração sempre cobra. É como aquele copo d’água que nosso corpo sempre irá pedir e você não terá coragem de recusar, porque sabe o quanto te faz bem.  Aqui é a minha vitrine. Aqui me sinto à vontade para falar o que acho certo ou válido para ser discutido, e sinceramente, fico mais satisfeito com poucos e enriquecedores comentários que recebo, do que a grande quantidade nos blogs populares, cuja maioria dos visitantes transforma o espaço em uma vala de mediocridade, ignorância, preconceito, hipocrisia, ofensas gratuitas e outros venenos. Não sei como os autores desses blogs conseguem respirar e produzir diante de tanta podridão. 

Coincidentemente, este blog ganha cinco velas em um ano que completo 15 anos como escritor. Escrever é a minha vida, minha paixão, seja no jornalismo, no teatro ou na literatura. Me sinto feliz em poder contribuir de alguma forma com o conhecimento dos leitores, ou mesmo mexer com os sentimentos, a memória, o coração, ou colocar um simples sorriso no rosto. É um prazer que não me custa nada além de tempo e que também me enriquece como ser humano.

E por fim, quero agradecer de coração aos 93 seguidores, aos blogueiros parceiros e amigos que me acompanham desde o começo, aos que vieram depois, aos elogios e críticas que recebi por aqui ou pessoalmente, aos que leem os textos e os compartilham espontaneamente nas mídias sociais, e por todo o carinho e aprendizado que me trouxeram durante essa meia década.

Quanto ao futuro, não quero prometer nada. Mas no que depender de mim, este espaço continuará sendo um ponto especial para todos os outros.

Muito obrigado, e até a próxima!

Danilo Moreira

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Foto: http://officesupplygeek.com/deals-and-sales/
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