segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Moradores de rua apresentam stand up na Praça do Patriarca


Hoje o Ponto Três vai abrir espaço para um convite.

Amanhã (10), às 9h, a Praça do Patriarca, no Centro de São Paulo, recebe o “Stand-up Comendigos”. Trata-se de uma comédia stand up feita por moradores de rua. Utilizando da magia e da espontaneidade do teatro ao ar livre, a peça promete ser um gostoso espetáculo de improvisação, humor e consciência, tendo a realidade das ruas como tema principal.

O trabalho artístico feito por esse pessoal é fantástico. Tive o primeiro contato com eles por meio de Tião Nicomedes, escritor, jornalista e ex-morador de rua, engajado em vários projetos para ajudar e dar voz a essa população, dentre eles o teatro. Ele é uma das histórias contadas no livro-reportagem que eu e mais cinco colegas da faculdade produzimos no ano passado, sobre pessoas em situação de vulnerabilidade social que usam o teatro como forma de expressão. Esse ano tive o prazer em revê-lo no II Salão Nacional de Jornalistas Escritores, no Memorial da América Latina, e fiquei sabendo dessa apresentação.

Portanto, se você tem um coração aberto, gosta de ver a mistura de arte e conscientização, passe na Praça do Patriarca amanhã, às 9h. E se puder, colabore com esse trabalho, nem que seja com uma moeda. A peça vai arrecadar fundos para ajudar uma companheira que fica nas imediações da Sé.

Para completar, colo abaixo um texto escrito nas palavras do próprio Tião:

“Pessoal, é o seguinte. Na próxima terça-feira estrearemos pelas ruas do Centro de SP com a baboseira do ‘Stand up Comendigo’. Quem quiser conferir de perto a cara de pau e o destalento da gente de rua, cola na Patriarca pela manhã, às 9hs em diante. Mas venha de bom humor e de bom amor! Revira as calças aí, senta a marreta e já quebra o porquinho, e trás moedas pra encher o nosso chapéu! Junta as notas velhas aí de 2 reais, e trás pra gente!

E quem puder ajudar, ou souber, a Marli ta desesperada pra sair da rua, pra deixar a Praça da Sé, mas vaga de albergue ela não quer, então tem que ser coisa barata ou alguma ocupação que aceite e não discrimine. Sabe como é, pessoa com muito tempo de rua, a cabeça pira, fica deteriorada, ainda mais mulher de idade... Aí já viu né? Cada um real já garante pelo menos o almoço da nossa amiga-irmã-companheira no restaurante popular. Já é um começo. A trupe por enquanto são só duas pessoas, mais a ideia é crescer. E num futuro, quem sabe, achar mais pessoas de talento na rua e que tem só como recurso último, acreditar em sonhos.”

Se você curtiu, então, compartilhe, e se puder, compareça amanhã. A população de rua agradece.

Muito obrigado, e até a próxima!


Danilo Moreira

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Foto: Bruna Sousa

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Vinte e oito


Uma primavera, duas fases. Na primeira, vida agitada. Rotina dividida entre estágio e faculdade. Trabalho de conclusão de curso. Amigos, barzinhos, teatros, shows, boemia, pessoas especiais, vivências, dificuldades e experiências. Etapas concluídas. Quatro anos executados com sucesso. Apaguei a luz da antiga sala. Despedi-me de tudo com lágrimas nos olhos. Tornei-me uma pessoa muito melhor.

Mudei-me para uma nova sala. Esta tem cheiro de incertezas. Em certos momentos, fede a nada. Olho para a janela. Um povo estava acordado. Juntei-me a eles. Voltei a olhar para a sala. Nada, e mais nada de novo. Olho na estante. Meu primeiro livro finalmente foi publicado. Na outra estante observo orgulhosamente o canudo que recebi na Colação de Grau. Sento no chão. Olho para o teto. Sons de recordações e cobranças se distorcem enquanto penetram nos meus ouvidos. Penso. Arrumo e completo papéis que esperam há anos por mim. Mas os que vêm do futuro são poucos.

Os trinta estão ali, no horizonte. E sinceramente, nem ligo. Sinto uma certa pressão no ar para “ter as coisas de acordo com a minha idade”, afinal, quase todos os meus amigos do colégio já construíram uma família, por exemplo. Mas tenho a minha liberdade. Ainda posso pegar uma mochila e sumir pelo mundo. Posso mesmo? Lá dentro, várias vozes dão e inventam inúmeros motivos para dizer que “Não”. Como odeio essas vozes! Mas de fato estou preso a muita coisa. Na verdade, estou no chão, refém do futuro, que não chega ou vem picotado. Não posso voar muito alto.

Vejo um cinza diante dos meus olhos. Ainda sim, lá dentro, as cores se multiplicam. Ainda vão emergir e surpreender a todos, quem sabe? Talvez novas revoluções estremeçam essa sala, ou o prédio inteiro. Inclusive construirão novos pilares. Ou, como às vezes acontece, tudo vai ficar só na promessa, e vai entrar para a pasta das dívidas internas.

Seja bem vindo, 28. Só não repare a bagunça, o cinza e o cheiro de incertezas. Ainda estou tentando arrumar essa sala com a experiência que tenho de outras primaveras.

Aos poucos, tudo vai dar certo. 


Danilo Moreira

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Foto: Ultradownloads
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