terça-feira, 31 de dezembro de 2013

25 lições que levarei de 2013


Olá!

Andei bem sumido do blog, ainda mais agora que estou trabalhando bastante. Mas não poderia encerrar 2013 sem deixar um post especial. Dessa vez resolvi fazer diferente e listar 25 lições que aprendi durante estes doze meses:

1 – Nem todo ano começa em janeiro. Alguns só começam quando a gente quer.

2 – Concluir a faculdade é apenas o começo de tudo.

3 – A família é base, mas a vida é nossa.

4 – Assim como a privacidade, o silêncio está cada vez mais escasso no nosso dia a dia. Por isso, se ainda o tiver, aproveite-o.

5 – Um gesto solidário descompromissado é mais nobre e verdadeiro do que o feito apenas por laços de sangue.

6 – Às vezes, a vida nos dá um presente: realiza aquele antigo sonho, da maneira mais inesperada e especial possível.

7 – Pior do que errar é agonizar em eternas dúvidas.

8 – Um simples “bom dia” pode ser a porta de entrada para criar laços, alguns surpreendentemente especiais.

9 – Podemos viver dentro em ternos e gravatas, cargos, status, regras e tabus, mas no fundo, não passamos de animais sentimentais, que reagem ao mundo de acordo com a frequência de atenção que recebem ou não recebem.

10 – O profano pode ser apenas um ponto de vista mal trabalhado. O divino também.

11 – Os anos da faculdade realmente são os melhores.

12 – Uma revolução não começa pela revolta, mas sim pela consciência do todo. Se começar apenas pela revolta, é só uma forma mais radical de alienação.   

13 – Pensar positivamente ou negativamente não faz a menor diferença se no fim você não sai do lugar.

14 – Toda frustração vem de uma expectativa, inclusive desnecessária.

15 – A nossa vida é feita de fases. Ruins ou boas, todas elas, mais cedo ou mais tarde, vão acabar.

16 – Existem mais corpos querendo se saciarem, mais corações que precisam de atenção, e mais pessoas infelizes em vidas falsas do que a gente imagina.

17 – Desconfie de tudo que carregue a expressão “o poder do povo”.

18 – Quebrar regras tem como principal norma assumir consequências.

19 – Muitos não querem justiça, querem apenas o poder de dizer o que é justo.

20 – A nossa vida também é feita das escolhas e consequências dos outros.    

21 – Um bom guerreiro é aquele que também consegue derrubar as ditaduras internas.

22 – Nem todo atraso é ruim. Às vezes ele veio para evitar atrasos piores.

23 – O sexo é o único regime puramente democrático. E mesmo assim, sempre terão pessoas que só vivem para tentar lhe dar golpes autoritários.

24 – Assim como somos especiais para uns, somos totalmente dispensáveis para outros. Aceite isso.  

25 – Devemos agradecer por tudo que conquistamos e por estarmos melhor que outras pessoas, mas não é errado querermos buscar sempre mais.    

E você, o que aprendeu de especial em 2013?

Feliz 2014, e até mais!

Danilo Moreira

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Foto: http://janelaflutuante.blogspot.com.br/2011/09/resolvi-voltar.html

domingo, 13 de outubro de 2013

Vai dormir que é melhor...


Suspiro.
Abraço o corpo.
Encolho-me nas pernas,
Na dor,
No vazio,
No relógio estático,
Nos ponteiros atrasados,
No silêncio do tempo.

Aí vem o sono,
Acaricia os meus olhos,
Com força nos dedos,
E um sorriso irritante:
- Vai dormir que é melhor.

Nem consigo responder...

Danilo Moreira
Maio/2013

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Foto: http://babiely.wordpress.com/2013/02/11/amnesia-consentida/

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Moradores de rua apresentam stand up na Praça do Patriarca


Hoje o Ponto Três vai abrir espaço para um convite.

Amanhã (10), às 9h, a Praça do Patriarca, no Centro de São Paulo, recebe o “Stand-up Comendigos”. Trata-se de uma comédia stand up feita por moradores de rua. Utilizando da magia e da espontaneidade do teatro ao ar livre, a peça promete ser um gostoso espetáculo de improvisação, humor e consciência, tendo a realidade das ruas como tema principal.

O trabalho artístico feito por esse pessoal é fantástico. Tive o primeiro contato com eles por meio de Tião Nicomedes, escritor, jornalista e ex-morador de rua, engajado em vários projetos para ajudar e dar voz a essa população, dentre eles o teatro. Ele é uma das histórias contadas no livro-reportagem que eu e mais cinco colegas da faculdade produzimos no ano passado, sobre pessoas em situação de vulnerabilidade social que usam o teatro como forma de expressão. Esse ano tive o prazer em revê-lo no II Salão Nacional de Jornalistas Escritores, no Memorial da América Latina, e fiquei sabendo dessa apresentação.

Portanto, se você tem um coração aberto, gosta de ver a mistura de arte e conscientização, passe na Praça do Patriarca amanhã, às 9h. E se puder, colabore com esse trabalho, nem que seja com uma moeda. A peça vai arrecadar fundos para ajudar uma companheira que fica nas imediações da Sé.

Para completar, colo abaixo um texto escrito nas palavras do próprio Tião:

“Pessoal, é o seguinte. Na próxima terça-feira estrearemos pelas ruas do Centro de SP com a baboseira do ‘Stand up Comendigo’. Quem quiser conferir de perto a cara de pau e o destalento da gente de rua, cola na Patriarca pela manhã, às 9hs em diante. Mas venha de bom humor e de bom amor! Revira as calças aí, senta a marreta e já quebra o porquinho, e trás moedas pra encher o nosso chapéu! Junta as notas velhas aí de 2 reais, e trás pra gente!

E quem puder ajudar, ou souber, a Marli ta desesperada pra sair da rua, pra deixar a Praça da Sé, mas vaga de albergue ela não quer, então tem que ser coisa barata ou alguma ocupação que aceite e não discrimine. Sabe como é, pessoa com muito tempo de rua, a cabeça pira, fica deteriorada, ainda mais mulher de idade... Aí já viu né? Cada um real já garante pelo menos o almoço da nossa amiga-irmã-companheira no restaurante popular. Já é um começo. A trupe por enquanto são só duas pessoas, mais a ideia é crescer. E num futuro, quem sabe, achar mais pessoas de talento na rua e que tem só como recurso último, acreditar em sonhos.”

Se você curtiu, então, compartilhe, e se puder, compareça amanhã. A população de rua agradece.

Muito obrigado, e até a próxima!


Danilo Moreira

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Foto: Bruna Sousa

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Vinte e oito


Uma primavera, duas fases. Na primeira, vida agitada. Rotina dividida entre estágio e faculdade. Trabalho de conclusão de curso. Amigos, barzinhos, teatros, shows, boemia, pessoas especiais, vivências, dificuldades e experiências. Etapas concluídas. Quatro anos executados com sucesso. Apaguei a luz da antiga sala. Despedi-me de tudo com lágrimas nos olhos. Tornei-me uma pessoa muito melhor.

Mudei-me para uma nova sala. Esta tem cheiro de incertezas. Em certos momentos, fede a nada. Olho para a janela. Um povo estava acordado. Juntei-me a eles. Voltei a olhar para a sala. Nada, e mais nada de novo. Olho na estante. Meu primeiro livro finalmente foi publicado. Na outra estante observo orgulhosamente o canudo que recebi na Colação de Grau. Sento no chão. Olho para o teto. Sons de recordações e cobranças se distorcem enquanto penetram nos meus ouvidos. Penso. Arrumo e completo papéis que esperam há anos por mim. Mas os que vêm do futuro são poucos.

Os trinta estão ali, no horizonte. E sinceramente, nem ligo. Sinto uma certa pressão no ar para “ter as coisas de acordo com a minha idade”, afinal, quase todos os meus amigos do colégio já construíram uma família, por exemplo. Mas tenho a minha liberdade. Ainda posso pegar uma mochila e sumir pelo mundo. Posso mesmo? Lá dentro, várias vozes dão e inventam inúmeros motivos para dizer que “Não”. Como odeio essas vozes! Mas de fato estou preso a muita coisa. Na verdade, estou no chão, refém do futuro, que não chega ou vem picotado. Não posso voar muito alto.

Vejo um cinza diante dos meus olhos. Ainda sim, lá dentro, as cores se multiplicam. Ainda vão emergir e surpreender a todos, quem sabe? Talvez novas revoluções estremeçam essa sala, ou o prédio inteiro. Inclusive construirão novos pilares. Ou, como às vezes acontece, tudo vai ficar só na promessa, e vai entrar para a pasta das dívidas internas.

Seja bem vindo, 28. Só não repare a bagunça, o cinza e o cheiro de incertezas. Ainda estou tentando arrumar essa sala com a experiência que tenho de outras primaveras.

Aos poucos, tudo vai dar certo. 


Danilo Moreira

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Foto: Ultradownloads

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Eu gosto de mulher


– Aqui no quarto podemos conversar. Aconteceu alguma coisa, filho?

– Bem... Lembra quando eu era pequeno, e adorava brincar de casinha, detestava jogar futebol com os amigos, e vivia brincando com as meninas da rua? E na adolescência, quando eu colecionava posters do Backstreet Boys, dançava com todo aquele rebolado, e sempre comentava da roupa das meninas?

– S-Sei. O que tem?

– Bem... Eu só fiz aquilo pra agradar vocês, mas na verdade não tem nada a ver comigo. Na verdade... Eu quero dizer que... a partir de hoje, eu estou me assumindo com um... Heterossexual.  

– O QUÊ?

– Sim, um heterossexual. Eu gosto de mulher.

– Você é louco? Ficou ruim das ideias? Quer que te chamem de homofóbico por aí?

– Mas eu não tenho nada contra os homossexuais. Pelo contrário. Acho bacana que exista essa diversidade. Eu só estou dizendo que eu gosto de mulher.

– Para com isso, filho! Pelo amor de Deus! Não foi essa criação que eu te dei! As pessoas têm liberdade para serem o que quiserem. Não existe mais essa de “Eu gosto de mulher! Eu gosto de mulher”! Isso pega mal hoje em dia! Parece que você foi vítima dessa cultura arcaica em que homem tem que se afirmar como "macho" o tempo todo! Nós somos uma família moderna, aceitamos todas as diferenças. E você falando com esse orgulho todo que gosta de mulher chega a ser ofensivo! Fala sério, pra você dizer isso, é porque na verdade curte é um homem, mas tem vergonha de admitir, vai!

– Não, pai, eu realmente gosto de mulher! É sério! E eu não quero ofender ninguém. Eu só toquei nesse assunto porque eu não aguento m...

– Nós o criamos para ter a mente aberta para tudo! Qual a parte disso você ainda não entendeu? Não queremos ser taxados por aí de conservadores e preconceituosos. Prezamos pela liberdade, meu filho, pelo direito de cada um amar quem quiser! Mas isso que você está fazendo é ridículo!

– Mas pai...

– Chega! Pegue todo esse seu machismo e suma daqui!

***

– Isso aí, rapaz! Tem que afirmar mesmo que gosta de mulher! Esse mundo anda muito moderninho pro meu gosto!

– Mas vô, eu apenas comentei que gosto de mulher porque eu estou cansado de ser rotulado por causa das minhas roupas, pelo meu jeito de ser. Não me importa o que os outros gostam. Eu respeito a orientação sexual de todo mundo.

– Para com isso, filho! Fala a verdade! Você foi muito corajoso ao ter falado isso pro seu pai, que é todo metido a moderninho. Isso não é normal! Deus fez o homem para gostar de mulher e vice-versa!

– Eu acho normal sim um cara ficar com outro homem. E eu sou ateu, vô.

– Não importa. Pra mim o que vale é que você é macho, mesmo com essas roupas, esse jeito de falar afeminado, pelo menos você tá indo contra essa “onda” toda e se afirmando como o homem que devemos ser!

– Mas não tem nada a ver. Eu só quero ser EU mesmo!

– Chega de papo! Vamos ao jogo no Pacaembu amanhã. Você precisa de mais testosterona...

O rapaz bufou. Achou inútil tentar explicar... Trancou-se no seu quarto, e excitado com o corpo de uma morena nua em um site pornô, tirou os tênis, despiu-se da camiseta e da saia de couro preferida que usava. Precisava relaxar ao máximo, pelo menos para aliviar aquela estranha sensação de não pertencer a este mundo...

Danilo Moreira

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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A Mesma



Levantou da cama com a mesma vontade de caminhar.
Voltou pregado na mesma cruz que insiste em carregar.


Danilo Moreira

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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Louca vida


Louca, louca vida,
Montanha russa de sentimentos.
Da queda que vira salto.
Do recato que se torna imoral.
Doces surpresas ao lado de amargos silêncios.
Controles de passos ao lado de descompassos perversos.
Essa louca que nos tece com o tempo.
Muda cores, rostos, sabores e desejos.
Vai, continue a me provocar com essas vitrines,
Que eu, como bom consumidor que tento ser,
Vou medindo os preços que posso pagar.

Que posso,
E devo pagar.

Danilo Moreira

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Foto: Google

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Portugueis

Quando foi postado em 2007 no meu antigo blog "Em Linhas...", esse poema criou polêmica nos comentários. É uma pequena alfinetada bem humorada no português nosso de cada dia, no auge de Seu Creysson (Claudio Manoel) do extinto Casseta e Planeta Urgente. Após cinco anos e uma reforma ortográfica mal aceita, será que alguma coisa mudou? Ou piorou?


Eu escrevo errado portugueis
Prusque eu num sou portugueis
Eu sou brasileiro e falo brasileiro
Portugueis não tem pizza
Num tem cachaça
Num tem catimba
Num tem tchau
Num tem bucho

E nóis escreve assim por que nóis é gente dessas gente
Dessas gente q tem colegial compreto, mais num sabe leitura direito
Dessas gente q trabaia todos sol e todas lua
Dessas gente q paga mais conta que acumula
Dessas gente tão gente como a gente

Se tu num gostou do meu brasileiro
Intaum ache coisa melhor
Por que eu sou o que sou
E de quem falo num tenho dó
Se tu quer melhorar alguma coisa
Largue de gasta o seu gogó
Dá os teus pulo cumpade!

Num tenho tempo pra intende de economia
Num tenho saco pra ler pulitica
Num tenho tempo nem pra ler Casmurro

Mas sabe... té q tenho curiosidade...

Danilo Moreira

Texto adaptado. Versão original publicada em 12 de outubro de 2007, no blog "Em Linhas..." 

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Foto: http://images.uncyc.org/pt/thumb/0/0c/Creysson.jpg/200px-Creysson.jpg

domingo, 28 de julho de 2013

Quando vamos protestar contra o Individualismo?


Agora escrevo em uma madrugada fria de domingo, ouvindo uma rádio que curto muito para conseguir me concentrar, enquanto lá fora, altas batidas de funk carioca estremecem a janela e não deixam meus familiares e outros vizinhos dormirem. Não é de hoje, nem de ontem, nem de semana passada que essa cena se repete, mesmo com denúncias. E nem será “de amanhã”. Quem se importa com o descanso dos outros quando está satisfazendo as suas próprias necessidades? E experimente reclamar para ver. Você está errado, sempre.

Certas situações que vivi nas últimas semanas me fizeram pensar o quanto a sociedade brasileira se transforma em determinado aspecto, mas por outro lado, continua a mesma coisa. Veja abaixo algumas junções que fiz de coisas que li e ouvi nessas últimas semanas:

“Eu quero protestar contra o Estado, então preciso ir contra tudo que ele representa. Vou quebrar bancos, carros de imprensa, bancas de jornal, lojas, concessionárias (afinal, é tudo comercio, é tudo burguesia, não?). Danem-se os prejuízos, o Estado foi atingido. O Estado faz coisa muito pior conosco todos os dias. Só assim pra nos ouvirem!”

“Eu faço parte de uma minoria que foi há anos perseguida e hostilizada pela Igreja ou outras religiões, vou atingir os seus símbolos para mostrar que não me dobro a eles. Vou quebrar santos, vou ficar seminu e beijar meu par na frente de todos, é pra chocar! Vou xingar os peregrinos, afinal, eles fazem parte dessa raça alienada, preconceituosa, que ainda promove a segregação das minorias. Vou obter respeito assim! Só dessa forma vão nos ouvir!”

 “Sou religioso, homem de Deus, vou repudiar esse povo moderninho que quer ser gay, lésbica. Isso não é de Deus! É aberração!”

“Sou a favor desse partido, tudo que o outro faça pela minha cidade, não importa, não presta, não vale, não me representa, eu quero mesmo é o meu partido no poder porque ele vai melhorar esse país.”

“[Discorda de mim em qualquer um desses pontos?] Você é um alienado! ALIENADO! A-LI-E-NA-DO (banalizaram essa palavra?)! Vai estudar! Sai do Facebook! Vai pra rua!”

Ou, indo para o âmbito pessoal:

“Se o meu filho aprontou algo na escola e a professora o repreendeu, a culpa não é do meu filho, é da escola que não soube educá-lo. Puni-lo? Claro que não. Eu educo. Ele errou, mas quem não erra, mesmo que o erro dele tenha sido um crime, mas é meu filho! A culpa é do Estado que não dá educação decente!”

“Eu não quero saber da sua vida, mas poxa, custa ME ouvir todas as vezes que me ligar para ouvir os MEUS problemas? Mas eu ouvi o que você me falou (você falou o quê mesmo?), mas agora ME escuta, deixe EU desabafar, deixar EU falar de MIM!

“Se eu encontrar um amigo meu numa fila de ônibus e ele me chamar, eu entro e furo, que sorte! Ei, olha aquela vaca furando fila lá na frente! Eu já estava aqui, não aceito isso! Falta de respeito!”

 “EU quero um namorado que ME ouça, ME compreenda, seja gentil COMIGO, ME ame, ME respeite, ME encha de mimos, repare no MEU cabelo, na MINHA roupa, etc.”

“Eu quero uma namorada gostosa, que ME compreenda, ME respeite, ME deixe livre, seja MINHA companheira...”.

Já viu/ouviu todas essas frases em algum lugar?

Posso colocar diversas cenas que você já viu (como eu) ou até já viveu (como eu). Mas o que todas elas têm em comum? A prioridade se torna o “eu”, mesmo que seja um grupo em que eu faço parte, mas tudo parte do “eu”, do indivíduo, do que ele gosta e acredita. Não se pensa nas crenças, gostos e direitos do próximo. Não se coloca no seu lugar. Os MEUS direitos se tornam mais importantes que os seus direitos, mas os SEUS deveres comigo são, para mim, mais importantes que os seus direitos. A vontade de chamar a atenção para os próprios problemas ultrapassa até mesmo os objetivos coletivos. Estes podem, na verdade, conter um punhado de manifestações individualistas (veja bem, não estou generalizando!) em busca do melhor para si ou para seu grupo, mas não o que de fato é o melhor para TODOS. Se precisar prejudicar o próximo para conseguir o que é melhor para a sociedade (PARA MIM!), dane-se, o importante é chamar a atenção para a nossa (MINHA!) causa, a nossa (MINHA!) opinião, o nosso (MEU!) ponto de vista, os nossos (MEUS!) direitos. Argumentos? Tá na Bíblia (que EU acredito), na História (até onde EU conheço!), na MINHA experiência de vida, em tudo aquilo que EU sofri, etc. E proclamam-se intelectuais santificados contra o "diabo da Alienação", que alguns (eu, não) apelidaram carinhosamente de "TV Globo" ou de "Entretenimento" (porque hoje em dia é feio se entreter, certo?). Essa é a tal "consciência enquanto cidadão"?

Estou expondo tudo isso para dizer que por mais que a sociedade brasileira tenha buscado lutar pelos seus direitos, isso não significa que todos ali despertaram para um sentimento real de coletividade. O individualismo continua firme, predominante, intrínseco, através de cada voz que ataca a opinião contrária e o caráter do outro sem ouvir os argumentos, de cada um que passa por cima do respeito, da crença, dos direitos, do trabalho e da vida alheia para atingir seus objetivos, e até na mania de sempre culpar tudo e a todos mas não olhar para os seus próprios erros.

Quando vamos protestar contra o individualismo?

Danilo Moreira

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FOTO: http://averdadenomundo.blogspot.com.br/2012/12/a-hierarquia-do-treinamento-do-ego.html

domingo, 21 de julho de 2013

Dicas de segurança


– Essa cidade anda muito violenta, cara...

– Demais, brother. A qualquer momento você pode morrer de bobeira, por motivo banal.

– Por isso que eu resolvi te dar essas dicas que vou passar agora. Vai por mim, eu entendo de segurança. Não tem erro.

– Certo.

– Em primeiro lugar, quando sair de casa, olhe bem ao redor. Pode ter alguém em qualquer canto, observando a sua rotina na espera do momento certo para atacar. Evite comentar a sua vida com vizinhos. Nunca se sabe o que se passa na cabeça deles. Evite colocar algo no bolso quando estiver na rua. Dá a impressão tem algo de valor. Guarde o celular numa parte que nunca está visível.

– Mas e se eu estiver só de camiseta e bermuda?

– Esconda no tênis.

– Mas e se eu estiver de chinelo?

– Ah, coloque na cueca. O importante é que não esteja à vista. E nunca, nunca atenda o celular na rua. Se puder deixe a campainha apenas no modo vibra, assim ninguém fica sabendo que você tem aparelho, certo? Nada de ouvir música, nem no transporte público. Se quiser ouvir música, ouça em casa.

– Ahn... Certo...

– Outra coisa: se levar dinheiro, guarde notas em várias partes do corpo. Assim não tem perigo de alguém bater a sua carteira e levar tudo. Se puder, leve também uma carteira falsa em um bolso estratégico. E não ande com pouquíssimo dinheiro. Tem gente que morre assim, o bandido se irrita com poucos reais.

– Entendi.

– Se alguém lhe parar na rua, não importa o motivo, não pare, não dê confiança.

– Ninguém? Nem se uma pessoa, por exemplo, bem vestida, cara de que não faz mal a ninguém, me perguntar apenas onde fica tal rua, ou as horas? Eu gosto de ajudar.

– Não, ninguém. Não viu outro dia uns engravatados assaltando o povo lá no Centro? Não fale com ninguém. Siga o seu caminho. E se alguém o parar, mesmo que for por segundos, olhe para os lados, ponha as mãos nos bolsos para dar a entender que está de olho em seus pertences.

– Mas e se for um amigo meu?

– Cumprimente de longe. Não parem em locais públicos para conversarem. Nessa, alguém podem estar de olho em você e com a distração, vocês dois serão as vítimas. Outra coisa: use roupas discretas. Nada de cores chamativas. Dependendo de onde passar, nem vá muito arrumado para não ostentar um status falso. Deixe para os compromissos profissionais. E mesmo assim, se não puder evitar, caminhe muito rápido para ser o menos visto possível.

– Tá...

– Grude a mochila no corpo. Ande com ela na frente, se puder. Nunca a use nas costas ou de lado. Um criminoso conhece vários golpes para arrancá-la facilmente de você. E guarde coisas de valor nos bolsos mais fundos. Se puder amarre os zíperes com algo que dificulte a sua abertura.

– Mas, até pra mim ficaria difícil depois abrir e fechar...

– Melhor ferrar com a sua mão do que perder tudo de uma hora para outra, não?

– É... Verdade...

– Na balada, vá com muitos amigos. E só puxe conversa com quem você sente confiança. Não beba nada que te oferecerem. Pode ser o golpe do “boa noite, Cinderela”. Aliás, falando em diversão, esqueça essa coisa de sentar em algum banco de praça para relaxar, ler um livro, ver a vida, descansar. É dar sorte para o azar. Hoje em dia esses espaços públicos só são utilizados por viciados em crack e trombadinhas. Nós temos as nossas casas para isso. Tem muito assalto acontecendo em parque também. Mesmo assim se for neles, coloque seus pertences colados ao seu corpo e nunca deixe de olhar para os lados.

– Entendi.

–Ah, e se alguém bater no seu portão atenda à distância. Nunca permita que entrem em sua casa. Se for alguma visita, abra o portão mas sempre de olho nos arredores. Essa pode ser a oportunidade para invadirem a sua residência. Tenha o telefone sempre perto caso ouça algum barulho estranho em seu quintal. 

– Sei lá, acho isso tudo meio paranoia... Parece um cão com as orelhas sempre em pé...

– Nada disso. É melhor prevenir do que remediar. Você sabia que a maioria dos furtos acontece por causa da distração da pessoa? Quantas vezes eu e você já vimos gente com a carteira quase caindo do bolso? Ou mexendo tranquilamente num chamativo iPhone em locais com muito movimento? Não adianta, não podemos relaxar. Tudo que temos foi pago com o nosso suor, enquanto pra esse povo que nos rouba, nem a nossa vida vale. Aprenda isso, amigo, são os tempos atuais. Vivemos em uma selva. Temos que nos proteger o tempo todo. Sempre terá alguém à espreita para te roubar alguma coisa, te fazer algum mal. Ninguém liga para os prejuízos do próximo.  

– É, talvez... Mas sei lá. Fale a verdade, mesmo com todos esses cuidados, você realmente acha que vou VIVER mais seguro?

– Bem... Depende. Se você tiver no lugar errado e na hora errada e levar uma bala perdida... Não viu no Datena aquele caso do rapaz dormindo na cama, num sobrado, que levou um tiro?

– Sim... O papo está bom, mas preciso ir. Pode deixar que eu pago a conta.

– Obrigado. Faz bem em ir embora agora. Tá tendo muito arrastão em restaurante e barzinhos nessa hora. Mas tome cuidado no caminho pra casa também. Aumentaram os latrocínios... E quando abrir a carteira, faça-o sempre de costas para a rua. Aquele pessoal sentado ali, no bar do outro lado da rua, pode estar de olho no que você tem de valor.

– Eh... Ok. Obrigado pelas dicas. Me sinto mais tranquilo, eu acho...

– E tem mais...

– Amigo, desculpe te interromper mas eu preciso te dizer uma coisa..

– O que?

– Você tá muito abatido...

– É que eu ando tendo insônia. Também, ando muito estressado. Não consigo relaxar. Faz muito tempo que eu não vinha em barzinho. Acho que não vou durar muito.

A risada quis demonstrar que isso tinha sido uma piada, mas o outro amigo não riu. Do jeito que ele ia, podia ser verdade...


Danilo Moreira

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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Antes e Depois - Atriz de "Corra, Lola, Corra"

Corra, Lola, Corra (1998)

Uma corrida contra o tempo. Objetivo: recuperar, em 20 minutos, o dinheiro que o namorado deve a uma quadrilha. Câmeras enlouquecidas, trilha sonora frenética, imagens alucinantes e três desfechos diferentes da mesma história. Quem assistiu o filme “Corra, Lola, Corra” (Lola Rennt - 1998), produção alemã assinada pelo diretor Tom Tykwer, sempre vai lembrar daquela garota de cabelos avermelhados e desgrenhados numa corrida faz até o espectador acelerar a respiração. E hoje, a Sessão Antes e Depois vai falar um pouco da atriz que deu vida (e fôlego!) à garota mais “São Silvestre” do Cinema. 

Franka Potente nasceu em 22 de julho de 1974 em Münster, Alemanha. É filha de uma enfermeira, um professor e é a mais velha de dois irmãos. Cresceu na cidade vizinha Dülmen. Seu sobrenome vem do seu bisavô italiano, um siciliano que imigrou para o país no século XIX. Aos 17 anos, decidiu terminar seus estudos fazendo intercambio em Houston, Texas, nos Estados Unidos. O desejo de ser atriz, que já se manifestava desde pequena, começou a criar corpo naquele país.

Em 1994, de volta à terra natal, matriculou-se na Otto Falkenberg School of Performing Arts, uma escola de Artes Cênicas, em Munique, enquanto fazia bicos fora do horário de estudos. Sua primeira aparição foi em “Aufbruch” (1995), filme montado por estudantes. Pouco tempo depois, foi descoberta por uma agente no banheiro de uma boate. Estreou profissionalmente com a personagem Anna no filme “Nach Funf im Urwald”, dirigido pelo então namorado Hans Christian Schmid. O desempenho lhe rendeu elogios da crítica e o prêmio Bavarian Film Prize 1995 para Jovens Talentos.

Potente concluiu seus estudos na Lee Strasberg Theater Institute em Nova York e voltou à Europa em 1997. Passou a atuar em produções televisivas e cinematográficas da Alemanha e também da França. Em 1998, seu currículo já somava 13 trabalhos.

Tom Tykwer e Franka Potente
No mesmo ano, seu nome foi lançado mundialmente com o papel de Lola no filme que leva o nome da personagem. Como também é cantora, também compôs algumas músicas para o longa. Somente na Alemanha “Corra, Lola, Corra” arrecadou US$22 milhões. A produção recebeu vários prêmios como a Sundance Film Festival (1998) na categoria de Melhor Filme – Voto Popular e melhor filme estrangeiro pela Independent Spirit Awards (1999). Dentre as indicações, Melhor Filme Estrangeiro pela British Academy of Film & Television Arts (BAFTA) e 2º Grande Prêmio Cinema Brasil (2001). Na terra do Tio Sam, foi bem recebido pela crítica no Festival de Cinema de Toronto, o que abriu as portas da indústria norte-americana para a atriz.

Franka, porém, concentrou seus trabalhos na Alemanha, principalmente o filme de terror “Anatomie” (2000) e “The Princess and the Warrior” (2000).  No cinema norte-americano, atuou em “Storytelling” (2001), em “Blow” (Profissão de Risco), ao lado de Johnny Depp, no papel de Barbara Buckley; em “A Identidade Bourne” (2002) e “A Supremacia Bourne” (2004) como Marie Kreutz, ao lado de Matt Damon. Em 2006, atuou em “Romulus”, drama australiano, ao lado de Eric Bana, e foi indicada como melhor atriz pelo Australian Film Industry Award.  No mesmo ano dirigiu a comedia muda” Der die Tollkirsche ausgräbt”. Em 2008, apareceu no filme “Che”, como a personagem Tamara, que estreou no Festival de Cannes no mesmo ano. Atuou também em “Xangai”, filme lançado somente na China.

A atriz no seriado Copper
Em 2011, atuou no drama “The Sinking of the Laconia”, da BBC. No ano passado, atuou como Eva na série da BBC Americana “Copper”, que está em sua segunda temporada.

De 1998 a 2002, Franka namorou o diretor Tom Tykwer. Em 2011, deu a luz a uma menina. Atualmente, aos 38 anos é casada com o ator Derek Richardson.

Franka, ao lado de Derek Richardson 

E essa foi mais uma Sessão Antes e Depois. Até a próxima!  

Danilo Moreira  

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Fontes:
http://www.franka-potente.org/
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-10295/
http://supernovo.net/colunas/frames-por-segundo/corra-lola-corra-critica/
http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-18840/biografia/
http://en.wikipedia.org/wiki/Franka_Potente
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-10295/curiosidades/
http://www.labcom.ubi.pt/files/jornadas_cinema_digital/apresentacao_corra_lola.pdf
http://www.sundance.org/
http://www.cineclick.com.br/falando-em-filmes/noticias/veja-os-indicados-do-2-grande-premio-cinema-brasil
http://www.gq-magazin.de/tags/p/franka-potente

Foto: 
http://www.overmundo.com.br/overblog/7-elementos-estruturais-em-corra-lola-corra
http://www.rp-online.de/gesellschaft/leute/franka-potente-ein-deutscher-filmstar-1.1973370 
http://collider.com/copper-review/
http://www.promiflash.de/klammheimlich-franka-potente-hat-sich-getraut-12082422.html

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ei, você é alienado!


Em alguns momentos, os ecos das manifestações produzem certas ressonâncias estranhas...

Domingo, enquanto corria o jogo entre Brasil e Espanha (que não me animei para assistir, mas acabei assistindo), observei nas mídias sociais um conflito curioso. Quem comentava sobre a partida, se manifestava como torcedor, comemorava a cada gol feito, virava alvo de certos indivíduos que se consideravam “legítimos lutadores por um país melhor”. E pensando bem, esse tipo de hostilidade é parecido com o que acontece com militantes de partidos, religiosos, e até quem apenas faz comentários simples de algum tipo de entretenimento (curiosamente, não vejo ninguém reclamar de quem curte atrações norte-americanas, por que será?). O negócio agora é ir pra rua, protestar contra todos os problemas do país, e não “relaxar” em nenhum momento.

Mas, quais são mesmo as pautas dos protestos em geral?

Dentre as várias, está a que é contra os gastos excessivos da Copa, a manipulação da mídia, e incentivar mais investimentos em Saúde e Educação. Certo. Agora, isso significa que ninguém mais pode gostar de futebol, curtir uma ficção, relaxar por algumas horas embarcando em algum tipo de história? Todos precisam, de uma forma que beira a neura, protestar contra tudo que está errado no país?

Essa forma radical de ver as coisas é um perigo para quem se diz consciente. Extinguir todos os partidos realmente vai acabar com a corrupção? Eliminar a Globo da face da Terra, como muitos sonham, vai mesmo diminuir a manipulação da mídia brasileira e deixar a população menos alienada? Não falar mais de futebol, não torcer a favor da seleção, não consumir qualquer tipo de entretenimento sob o receio do “vampiro da alienação”, vai mesmo tornar alguém mais consciente dos problemas do país? Extinguir as crenças religiosas vai tornar as pessoas com a mente mais aberta e totalmente livre de preconceitos? Protestar apenas na rua é a única forma de mudar o país?

Posso ter usado um tom até radical no parágrafo anterior, mas é assim que muita gente age, julgando a consciência política das pessoas apenas por uma pequena amostra dos seus gostos pessoais e crenças e pior, vomitando frases revolucionárias com certo ar de superioridade. Acho preocupante quando o desejo de mudar se torna um grito tão alto que não aceita opiniões de pessoas que até concordam, mas não são iguais àquela voz, ou não atuam no mesmo ritmo por conta de limitações ou por terem os seus próprios conceitos. Às vezes falam mais baixo, ou não falam – escrevem, cantam, se fazem ouvir de outras formas. E não pararam as suas vidas e nem deixaram de lado tudo aquilo que gostam por conta disso. Mas se elas estão engajadas na mesma luta e fazem por onde, a meu ver, isso é o que importa.

Se for seguir esse pensamento radical, ninguém que participou e participa dos protestos poderá torcer pelo seu time de coração, nem assistir ou comentar sobre qualquer tipo de entretenimento que gosta de assistir para relaxar. Aliás, para que consumir entretenimento, quando se tem um país inteiro para mudar? E aí que entra o ponto principal: alguém por acaso realmente faz isso? Ah, hipocrisia detected.

Os únicos, a meu ver, que realmente seguiram à risca esse tal “padrão de vida pró-luta” foram os militantes que no começo dos anos 70, auge do regime militar e da repressão, foram para a luta armada. Abandonaram as suas famílias para viverem clandestinamente, em condições precárias, respirando a causa e sofrendo as consequências 24h por dia. Mas não vivemos exatamente aqueles tempos e nem, por enquanto, somos obrigados a frear completamente nossas vidas para lutar contra as causas (Quais mesmo? Você se lembra de todas?).

Precisamos aprender a separar o joio do trigo. Nem todo mundo que é fanático por futebol, consome determinados entretenimentos, possui alguma crença religiosa, ou atua em algum partido, é necessariamente O alienado. A alienação começa quando tudo isso é posto acima dos problemas do país como uma forte anestesia. E é claro que existe gente assim e que precisa acordar com urgência. E não é indo para a rua. Antes disso, é aprendendo a pensar. Ir à rua ou às mídias sociais como um robô que repete frases revolucionárias feitas, pra mim, não é protestar, e posar com uma consciência que na verdade não amadureceu.

Em outras palavras, devemos tomar cuidado para que esse pensamento tão radicalista (e que felizmente ocupa a cabeça da minoria) não continue a reforçar, agora sob o pretexto da gana de mudança, as mesmas manias de rotulações, julgamentos e preconceitos a que todos nós somos submetidos, de uma forma ou de outra, no dia-a-dia. É o velho ditado de não deixar se levar pelas aparências.

A ideia aqui não é defender a Globo, as religiões, a Copa ou determinados partidos, mas sim, fazer pensar até que ponto boa parte do povo acordou. Muitos sabem que precisam gritar para mudar alguma coisa, mas no que diz respeito a pensar primeiro antes de falar, o sono ainda pode estar profundo...

Danilo Moreira

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FOTO: http://www.artigosecronicas.com.br/o-perigo-de-apontar-o-dedo/ (Google)

domingo, 23 de junho de 2013

O país dos acordados

Av. Faria Lima - 17/06/2013 - Manifestantes gritam para
pessoas na sacada de um prédio comercial
♪Vem, vem, vem pra rua vem, contra o aumento!♪

Essa é a terceira vez que tento escrever sobre o assunto com receio de ser mais do mesmo. Na primeira, talvez por ter vivido a História tão intensamente, ainda estava extasiado com tudo. Saíram três páginas. Na segunda, mais sutileza e olhar direcionado para os rumos dessa mesma História. Já agora, com a cabeça mais distante, vou tentar expressar o que penso sobre o que estamos vivendo nessas semanas.

Alguém me disse uma vez, em 2012, que o aumento da passagem de ônibus (já cara) foi empurrado para a próxima gestão, e quando acontecesse seria um estardalhaço. Por isso não me surpreendi quando vi jovens nas ruas protestarem contra o valor de 3,20. Porém, conforme o crescimento dos protestos e junto com a violência – que aqui em São Paulo, a meu ver, chegou ao seu ápice com as repressões policiais extremas no Quarto Ato (13/06) – senti que a luta era muito maior. A tal ferida da acomodação brasileira recebeu vários tiros com balas de borracha. E doeu. A grande imprensa, acostumada a rotular (“manifestantes vândalos”, “mimados”, “rebeldes sem causa”, não era isso?), também sentiu esses tiros ao ver seus próprios funcionários feridos até em locais fora das manifestações. Doeu também em quem nada tinha a ver com a história, mas estava no local errado – ou era a tropa de choque que estava? Doeu nos olhos de quem estava em casa e viu a quantidade de pessoas jogadas à própria sorte com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha. Doeu até mesmo no Estado, que viu o quanto tinha passado dos limites. Preso por porte de vinagre? Uau... E então, não era mais só 0,20. Era a corrupção, a repressão, a PEC 37, o projeto conhecido como “Cura Gay”, e uma série de outras reivindicações.

E então, incomodado com a situação (mais do que eu mesmo imaginava), cedi ao coro do “Vem pra rua” e fui ao Quinto Ato (17/06), auxiliado pelo grupo que o pessoal da minha antiga faculdade montou no Facebook, tanto para nos encontrarmos quanto para nos atualizar de tudo que acontecia nos arredores. Vi as ruas lotadas de várias gerações, cartazes, prédios com panos brancos e acenos, gente fora dos carros protestando como podiam. E (surpresa!) não vi nenhum policial durante todo o trajeto que percorri (Av. Faria Lima, Juscelino Kubitscheck, Brigadeiro Luis Antônio e Paulista). Ouvia nossas vozes ecoando forte, e as reivindicações berradas com toda a força da garganta. Protesto pacífico. Ironicamente, estive nas vias em que mais passei raiva com ônibus. E agora, eu via aquelas mesmas linhas paradas para nós passarmos. Aqueles mesmos semáforos que tanto ferraram com a minha vida, agora não me paravam mais. Que sensação! Senti a minha geração respondendo à altura as coisas que as anteriores sempre jogavam na nossa cara: “Essa juventude de hoje não quer nada com nada!”. Foi provado que não é bem assim.

Av. Juscelino Kubitschek - Parada no trânsito,
senhora ergue seu cartaz para os manifestantes, que aplaudem

Mais protestos pelo país, confronto ou cenas inusitadas com a policia, casos de saques e depredações (e de manifestantes fazendo de tudo para conter as mesmas), e tarifas em algumas cidades foram reduzidas, inclusive em São Paulo. Mas, como disse, não eram mais só 20 centavos. A partir daí, fazer protesto virou rotina. Tornou-se mania. Muita gente agora quer ir à rua, mas sem ter um foco. Manifestações são marcadas por perfis estranhos. “O povo acordou, vamos protestar contra tudo!” Todo bairro quer fazer o seu barulho. Depois das 17 horas, olho nos noticiários para saber onde as manifestações bloquearam dessa vez. Globo suspendendo as novelas para cobrir o Palácio do Itamaraty sendo incendiado? “Uau... tem coisa errada aí...” “Fora partidos!” “Fora Dilma!” “Fora prefeito!” “Fora Globo!” “Fora governador!” E quem vai entrar no lugar? “Essa tal minoria infiltrada destrói o que vê pela frente apenas por destruir, ou tem algo oculto nessa história?” “Podemos sofrer algum tipo de golpe?” “Quem sabe...” E então, um clima de desconfiança também se manifestou no tal povo acordado.

E daqui para frente, o que vem por aí?

Torço para que os protestos continuem, mas com foco. Que não deixemos de protestar, seja na rua, nas redes sociais, ou de qualquer outra forma. Mas apenas gritar palavras de ordem não resolve o problema. De nada adianta apenas berrar contra as injustiças se não se acompanha tudo que tem sido feito pelos candidatos que você escolheu nas eleições. Votar nulo resolve mesmo o problema? Ou apenas muda os nomes? E a tal memória curta do brasileiro, infelizmente, vai se manifestar?

A prova de que realmente o povo acordou começa agora, não deixando que esse sentimento forte de ação e mudança seja ofuscado pelo tempo ou direcionado para utopias. É preciso cuidado com grupos de má fé, que se aproveitam de grandes mobilizações para agir a favor de seus próprios interesses. É necessário ter foco, conhecimento e informação, para lutar por cada causa a seu tempo e de maneira pacífica (porque, ao contrário do que muitos falam, saquear lojas e depredar ônibus para mim é um tipo de vandalismo que reforça os estereótipos da grande mídia e pode dar mais argumentos a favor da repressão aos manifestantes sérios). 

Estação Pinheiros - Das cinco escadas ouve-se
um coro: ♪O povo acordou...♪

Me sinto satisfeito por testemunhar essa história, e continuo a fazer a minha parte dentro do que posso. O governo parece ter entendido o recado. As indignações ultrapassaram as redes sociais. Agora, são gritos, cartazes, faixas, mãos erguidas, panos brancos e um desejo de arrumar a casa. Aqui e em outras partes do mundo.

Na sexta-feira, enquanto estava na Linha Esmeralda, vi um vagão barulhento como de costume. Mas, ao tirar o fone de ouvido, me senti bem: todos comentavam sobre a situação do país, os rumos da política, os protestos. Nas calçadas da Av. Paulista, idem. Na recepção da clinica que passei, também. Quando poderia imaginar que um dia eu veria os rumos do país sendo discutidos com tanta frequência? Não era disso que muita gente reclamava? “O povo só fala de futebol e novela, enquanto os políticos fazem o que querem”. Pois é, agora, o país está em pauta. Ninguém, por mais que odeie política, passou ileso por essa fase. O Brasil deixou de ser o “país com tudo errado” para “o país que precisa de conserto”. E isso já é um ganho precioso.

Posso, talvez, ter escrito mais do mesmo. Ou escrito alguma bobagem, já que estamos ainda em uma fase indefinida. E eu já estou de saco cheio de tentar escrever algo sobre o assunto (pronto, falei!). Não tem problema, acho que mais do que nunca o blog precisa ter um registro desse período tão importante na nossa história. Só torço mesmo é para que nada disso caia no esquecimento e voltemos a ser a aquela nação que apenas ri de tudo.  

Que a luta continue, com a cabeça e os olhos bem abertos para o bom senso.  

Danilo Moreira

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FOTO: Acervo pessoal (fotos de celular - tive um pequeno problema no dia, não deu pra tirar fotos melhores)
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