Tarde fria de domingo e eu trancado no meu quarto mexendo no Facebook. Um amigo compartilha uma foto curiosa. Nela, está escrito: “crianças não pensam em preconceitos, elas são inteligentes demais pra isso”. A foto é de um jovem punk que, agachado, deixa uma criança negra impressionada tocar na sua jaqueta. A foto normalmente provoca um sentimento de admiração, e chama a atenção por ser um símbolo que quebra estereótipos.
Mesmo tendo amigos que são ou foram punks, conheço pouca coisa sobre esse movimento, mas sei da visão deturpada a quem sempre a mídia atribuiu a eles. Opiniões à parte, nunca vou me esquecer de um dia, quando tinha por volta de 20 anos, em que passei de ônibus em frente ao vão livre do MASP. Lá, um grupo de punks entregava mantimentos a mendigos. Foi ali que eu tinha entendido como o estereótipo deixava as pessoas cegas, mesmo que essas tivessem consciência dos males do preconceito.
O mesmo acontece para outros grupos. Conheço pessoas “de família” incapazes de dizer um “eu te amo” para os filhos. Por outro lado, já vi pessoas “tortas” que fazem de tudo pelas pessoas que amam. Conheço evangélicos que mesmo se dizendo com Deus no coração, possuem a frieza de uma pedra e preconceitos sem limites. Já outros evangélicos são capazes de dar a própria vida para ajudar o próximo. O mesmo acontece com ateus, judeus, católicos, umbandistas, etc. Vi gente de classe alta tendo fortes laços de amizade com pessoas da periferia. Já outros, paupérrimos, ostentam um desejo de ambição e segregação que impressiona. Quem disse que na periferia não existe fãs do rock, da música clássica e até indiana? Sim, existe. Conheço pessoas que possuem estilos de vida considerados “errados” e que têm o coração mais nobre do que alguns que se dizem com uma vida regrada. Gente intelectual que só pronuncia asneira. Pessoas sem grau de instrução que são capazes de falar da vida como poucos. Adolescentes maduros, decididos e responsáveis. Adultos irresponsáveis, infantis e sem futuro.
É por isso que eu digo: não adianta olhar e julgar o ser humano apenas pelo sistema ou grupo em que ele vive. Até porque, todos eles são feitos por pessoas constituídas de individualidade, gostos e preferências. Aqui entra o velho ditado que diz “as aparências enganam”.
E a minha curiosidade de jornalista acabou me fazendo pesquisar a origem dessa foto. Segundo o blog polonês “Suburbia Bomb”, ela foi tirada no começo de 2011, durante a Parada do Orgulho Gay em Boulevard Anspach, em Bruxelas, capital da Bélgica. Certamente é uma imagem que merece ser compartilhada, pois mostra como é possível conviver com diferenças, e principalmente, o mundo carregado de rótulos e estereótipos em que ainda vivemos. Se essa foto lhe causou algum tipo de surpresa, independente das suas convicções morais e éticas, pode ser que esse tipo de mundo esteja mais próximo do que você imagina...
Danilo Moreira
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FOTO: http://suburbiabomb.blogspot.com.br/2011/08/little-bit-of-fait-in-humanity.html