sábado, 28 de abril de 2012

Nick

Estava mal naquela noite de outubro de 2000. Pela primeira vez, eu tinha sentido a dor de perder um cão de estimação, ainda mais daquela maneira trágica. Fui até o espaço onde você e ele conviviam. Olhei para a casinha dele, e desolado, encostei-me na parede, e comecei a chorar. Você ainda era novo, cheio de vida, pentelho, e me recordo bem que naquele dia, você simplesmente deixou a sua agitação quase compulsiva de lado e parou só para me observar. Sentou e ficou me olhando chorar. Prestou atenção em cada palavra de desabafo que eu te disse. Viu como aquele adolescente de 15 anos, um moleque magrelo metido a durão, desmoronava pela primeira vez daquele jeito, diante de uma morte que você também foi testemunha. Fechei os olhos, entrei numa viagem pela memória, pelos bons momentos que tive com aquele cão. Mas, um barulho de patas interrompeu aquela viagem e me trouxe de volta para o presente: era você, pulando, me chamando para brincar. Foi então que entendi, quando olhei novamente para os seus olhos, que o que você queria mesmo era tirar aquela dor que eu estava sentindo, da melhor maneira que você sabia: me fazendo rir.

Nunca mais esqueci desse seu gesto. Nunca mais esqueci da maneira como sempre se preocupou comigo. Mesmo há anos você não morando mais aqui em casa, sempre te considerei daqui, e você, todas as vezes que ia te visitar na casa do meu irmão, também sempre me tratou com um mesmo carinho, como se ainda fosse da sua, até aquela última vez, quando novamente, aqueles seus olhos me disseram um obrigado, por estar ali, enquanto você tentava ficar em pé, mas não conseguia mais, devido à sua idade avançada.

E hoje, recebi a noticia que você teve que partir. Eu sabia que logo isso ia acontecer, devido às suas limitações físicas cada vez mais cruéis. Mas mesmo assim, sabendo como foi, dói, ainda que no fundo tudo tenha acontecido para amenizar o seu sofrimento... Realmente é uma crueldade que os cães, maiores exemplos de amor incondicional e perdão, tenham uma vida tão curta em relação à que costuma ter o ser humano, às vezes mais duro que uma pedra e tão nojento quanto os ratos.

Obrigado por ter existido. Obrigado por tudo que fez por mim, e pela minha família. Às vezes acho que Deus criara os cães para mostrar que não precisa de muito para amar. As vezes um olho brilhando, uma companhia silenciosa do lado, ou mesmo um simples convite para brincar, podem ser mais do que suficientes.

Descanse em paz, Nick. 
(1997-2012)



Danilo Moreira

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FOTO: acervo pessoal
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