sábado, 14 de janeiro de 2012

Dercy: de volta aos holofotes


Antes de começar a falar sobre o assunto, quero apenas dizer que faz muito tempo que não escrevo um texto desse tipo na seção Ponto de Vista. E estava fazendo falta. Por isso, peço desculpas de antemão caso apareçam alguns erros.

Segue a opinião de um jovem telespectador, que simplesmente adora teledramaturgia, seja ela como for.

Ouvir falar de uma série para Dercy Gonçalves é algo que me fez brilhar os olhos. Desde pequeno via aquela senhora desbocada em tudo quanto era programa de televisão. Palavrão na minha casa, pelo menos naquela época, era intolerável, ainda que fosse no final dos anos 80/inicio dos anos 90. Mas, quando ela entrava na televisão, mesmo vendo uma criança de 6/7 anos assistindo, os meus pais caíam na gargalhada. E de certa forma, aprendi naquela época que palavrão era feio, mas com a Dercy, não era. Meu fascínio por aquele temperamento excêntrico aumentou quando vi alguns filmes dela, reprisados até hoje pela Tv Cultura de SP.

Agora, como uma espécie de fênix, ressurge sob os holofotes Dercy Gonçalves, através da série “Dercy de Verdade”, de Maria Adelaide Amaral (que também produziu uma biografia sobre a atriz, chamado “Dercy, de Cabo a Rabo”) e dirigido pelo excelente Jorge Fernando. Confesso que me desagradou muito essa minissérie ter apenas 4 capítulos, para retratar quase 101 anos de vida da atriz.

Deve ser por conta disso que “Dercy de verdade” teve um ritmo muito acelerado, com fatos aleatórios e intercalados com as duas atrizes que a interpretam – Heloísa Périssé, que a faz mais nova, e Fafy Siqueira, que a interpreta mais velha – além da própria Dercy em imagens de arquivo. Fuçando no Twitter logo após a exibição do primeiro capítulo, encontrei muitos comentários positivos sobre a série (aliás, finalmente, foi a primeira vez que eu li gente falando algo diferente de “essa velha boca-suja fez hora extra na Terra”), mas, em especial, a observação da trilha sonora ser muito semelhante a utilizada na novela Chocolate com Pimenta (2003), de Walcyr Carrasco. Nisso eu acredito que a produção pecou, pois, a trilha sonora, na minha opinião, é parte da personalidade da série, e ela deveria ter a sua própria.

Heloísa Périssé está excelente no papel da atriz quando mais nova. Ela consegue nos fazer rir com os palavrões e a irreverência da mesma forma que Dercy conseguia. Até os exageros nas expressões faciais ela conseguiu fazer muito bem. Porém, não sei se essa é a intenção da série, mas pelo menos nos dois primeiros capítulos, senti uma Dercy um pouco estrelista, que gostava de fazer tudo ao seu modo e que chegava às vezes até a ser arrogante, mas que no fim dava tudo certo. É evidente também a carga de problemas e de perseguições que ela acumulou ao longo da vida (também, com uma personalidade daquela, eu imaginava que seria assim). Já Fafy Siqueira como Dercy para mim não é novidade, já que ela também apareceu na série Dalva e Herivelto - uma canção de amor (2010). A diferença é que a caracterização nesta microssérie, ao meu ver, está mais fiel à original, e também faz bonito.

Agora, a bandeira inicial da série, de mostrar uma Dercy “de verdade”, talvez pelo poucos capítulos, talvez fosse um equivoco. Vi uma mulher destemperada, que sofreu os preconceitos de sua época, tinha um amor incondicional pelo teatro, uma severidade moral com sua filha, que “namorou 13 anos e casou virgem”, e o que mais? Sim, tenho certeza que tinha muito mais para ser mostrado. Tenho certeza de que Dercy era muito mais do que 4 capítulos.

Fascinante é ver como ela conseguia ser ela mesma em plenos anos 20/30/40, com todo aquele moralismo e convencionalismo que fazia parte daquela sociedade. Talvez seja isso que a tenha levado ao estrelato. As peças em que atuava eram completamente diferentes de tudo aquilo. As pessoas que pagavam para assisti-la, pareciam querer embarcar num mundo mais cru, mais humano, onde falar palavrão, fazer gestos vulgares, fazer deboches mais descarados, não era feio nem falta de classe, mas apenas, um jeito mais humano de ser.

Talvez essa era a mensagem da minissérie: a Dercy de verdade era aquela mesma, sensível, sofrida, escrachada, desbocada, guerreira, severa quando necessário, mas, acima de tudo, um ser humano como a gente, com suas qualidades e defeitos.

Caso você queira saber mais sobre a série, clique aqui.

Danilo Moreira

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FOTO: http://www.portaldasnoticias.com/dercy-de-verdade-saiba-como-sera-a-nova-minisserie-da-globo/

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