quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Felicidade entre os ferros do ônibus




Setembro de 2012. Final de uma tarde de domingo. Saída do SESC Interlagos, na zona sul de São Paulo. Show da banda Ultraje a Rigor. Uma muvuca seguia rumo ao ponto de ônibus. Eu e mais três amigos esperávamos por qualquer um que nos levasse a um “ponto mais acessível” a outras linhas. Ao encostar uma lotação, um bolo de gente se formou ao redor, e as escadas ficaram inacessíveis. “Vamos nesse!”, falei ao meu amigo. No fim, ficamos. Tivemos que esperar por outro.

Foi então que veio um ônibus, piso baixo, com enormes degraus. Subimos nós quatro. O casal de amigos se sentou em bancos de idosos. Eu e meu outro amigo ficamos em pé, ao lado deles. 

Ruas depois, uma mulher loira, baixinha, com três crianças, subiu alvoroçada. Falavam alto. Riam muito. Faziam festa. A mulher não era mal vestida. Muito menos as suas crianças. Encostaram-se justamente no meio do corredor. Pelo fato do coletivo estar vazio, era possível escolher o local em que poderiam ficar. E escolheram ficar ali.

E como se não bastasse, decidiram promover mais animação àquela viagem. A criança mais velha – devia ter pouco mais de 10 anos – formou junto com a mãe um sanduíche, junto com as duas crianças menores, que ficaram no meio. A mulher se segurou entre dois ferros, e pôs-se a balançar com eles, acompanhando os movimentos do ônibus. Balanços logo foram acompanhados de gritos exaltados. Tinha transformado o coletivo em um playground. 

Um idoso, de chapéu, entrou no local. A minha amiga, do casal, ofereceu o lugar para sentar. Creio que ele pensou em ir, mas o playground deve o ter desanimado de tentar subir. 

E a brincadeira continuava, com a tal mulher se jogando com os filhos entre os ferros, como se estivesse num barco viking do extinto Playcenter. Barco apertado, diga-se de passagem. Mas isso ela resolveu tirar de letra. Quem estivesse perto que aguentasse as consequências. Jogava seu corpo contra quem estivesse atrás. E ria. Gritava. Divertia-se junto com as crianças. O barulho começou a incomodar as pessoas. Cabeças se viravam para trás, mas, numa apatia de quem estava acostumado com situações incômodas dentro dos ônibus, evitaram qualquer manifestação. Meu amigo, que tinha ficado em pé, foi acertado várias vezes nas costas, mas para não arrumar confusão, preferiu apenas se distanciar da mulher.

“Veja, o pão e circo... É disso que o povo gosta.”  – comentou comigo, irônico. 

E a alegria continuava. Não sei se aquela mulher e seus filhos conheceram um parque de diversões alguma vez na vida, mas a sensação que transmitiam era a que realmente estavam em um, mesmo que aqueles ferros não tenham sido fabricados para ter essa sensação. E quem estava perto, para ela, que se danasse. Infelizmente, o tal idoso, de chapéu, era o premiado naquele minuto. Foi jogado para o lado com violência. Nisso, os meus dois amigos, o casal, que estava sentados, ficaram indignados, e se manifestaram contra a mulher.

“Você é louca! Olha o senhor idoso aí!”

Estragaram a alegria da mulher. Chatos. Diante disso, ela não fez outra coisa a não ser ficar indignada. E a alegria com as crianças mudou, mais rápido que o tempo em São Paulo, para um surto de agressividade e descontrole.

“Calem essa boca! Vocês estão incomodados com a felicidade alheia! Brasileiro não pode ser feliz que todo mundo se incomoda!”

A partir daí, o que se seguiu foi uma sucessão de palavras de baixo calão, trocadas entre a mulher, os meus amigos, e também o senhor idoso, que foi inclusive recebeu histéricas ameaças de agressão por parte dela.

E enlouquecida, até o ponto que descemos, ela provocou. Meus amigos e o idoso se tornaram vilões. Uma outra mulher também a defendeu, dizendo que os incomodados que fossem pegar um taxi. Injustiça. Que absurdo destruir a felicidade alheia, mesmo que ela se resumisse em se pendurar em ferros de ônibus. Vendo que a mesma queria exibir a seu conceito de felicidade da mesma forma que alguém pendura uma melancia no pescoço, meus amigos decidiram não dar mais atenção. Mas ela queria atenção. E foi os provocando até onde descemos.

“Eu quero ver quem vai impedir a minha felicidade. Vejam meus, filhos, não abaixem a cabeça pra ninguém! Sejam felizes! Não deixem ninguém estragar a felicidade de vocês!” – disse, sentindo-se imponente.

“Sim, mamãe, a gente não vai abaixar a cabeça pra ninguém!” – respondeu uma das crianças, como se falassem a uma super heroína perante os inimigos cruéis.

E foi assim que descemos. A mulher ainda se vangloriando da tal felicidade, e meus amigos, os vilões cruéis e sem humanidade, ainda sentindo pena daquela espécie de pavão bizarro de virtudes.

É assim que vamos caminhando, com pessoas como ela sendo felizes, mas tão felizes, que continuarão se pendurando em ferros de ônibus, empurrando e ameaçando idosos de agressão, e ensinando as suas crianças a acreditarem que estão sempre certas. 

Um futuro emocionante nos aguarda. Pelo menos nos transportes coletivos, que já são um reduto de felicidade cotidiana.

Danilo Moreira


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FOTO: http://ascartasqueeunaoenvio.blogspot.com.br/2009/09/gente-folgada.html 


domingo, 16 de dezembro de 2012

Quatro anos



Vila Mariana, zona sul de São Paulo, 11 da manhã.

Ouço aquelas risadas. Muitas. Por um momento, esqueço que estou na sala de aula de uma faculdade. Parece que estou em casa. O professor também. Mas, não é indisciplina. Nem desordem. É intimidade construída ao longo de quatro anos. São amigos, que entre um slide o outro, riem, filosofam, questionam, debatem como se falassem com um parente. E tudo acaba numa grande gargalhada. Quatro anos. Era de se esperar que acabasse assim, nessa grande brincadeira tão séria. 

Uns fazem planos para o futuro. Vieram de longe, mesmo que o longe ainda fique na mesma zona sul de São Paulo, ou no extremo da zona leste. Mudaram o visual. Amadureceram. Traçam planos. Ou então, o futuro a Deus pertence. Não importa. O que precisam mesmo é terminar tudo aquilo, apresentar o TCC, resolver todas as pendências que ficaram.

Saio da faculdade. O silêncio dos corredores tão característico do Matutino não é mais o mesmo. Entraram novas turmas. Calouros barulhentos, deslumbrados com todo aquele universo da graduação. E eu caminhando devagar, com cansaço nas costas, prazos na cabeça, e um pequeno sentimento de saudade de tudo aquilo, sensação que aos poucos começa a me abraçar. 

Subo na biblioteca, não tão vazia como antes. Grupos de “bixos” e de outros semestres se aglomeram. Pegam livros, jornais. Falam de matérias que eu nem me lembro mais. Alguns professores de que falam mal conheço. Reclamam de trabalhos pesados com tensão e receio na voz. Eu rio por dentro. “Eles não sabem o que os esperam ainda...” – penso. Sento-me na mesa onde se encontra meu grupo de TCC . Reunião. Todos sérios. Sisudos. E pensar que há quatro anos, mal falava com alguns deles. Outros eu já tinha visto em todos os estados possíveis: felizes, bravos, deprimidos, eufóricos, bêbados... E agora, todos eles ali na minha frente, com postura de profissionais, dialogando entre si com a tensão dos prazos traduzida nas palavras secas e objetivas e nas dores na cabeça e no estômago.

Problemas resolvidos, hora de almoçar. Entro mais uma vez naquele restaurante com nome de personagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo, num casarão antigo, de mesas apertadas e receptividade enorme, a ponto de já chamar o dono pelo nome. Comida caseira. Amigos me acompanham. Discutimos assuntos que vão de política ao tamanho da linguiça no prato. Hora de ir para o estágio. Me despeço de todos. “Sexta tem pastel na feira do Ana Rosa, né?”. “Sim, tem!”. À noite, tem barzinho. Amigos de vários semestres reunidos em uma mesa. Risos. Danças. Bebidas. Papos. Beijos. Todos perguntam entre si: “E aí, tem planos para o ano que vem?”. Ano que vem tudo muda. Muda? Ou recomeça? Ou volta a ser o que era antes da faculdade?

Tintas na mão. Novas caras e corpos sendo pintados. “Vem, vem, vem bixo, vem!”. Trote com ar de despedida da turma mais veterana. “Aproveitem, bixarada, quatro anos passam rápido!” E passam. Não tenho mais paciência para ouvir slides e anotar explicações do professor. Não consigo mais acordar no horário. Preciso dormir, mas não posso. Aquelas paredes que antes me fascinavam pelo ar maduro da universidade, agora me parecem comuns como qualquer outra. Mas, não paro de olhá-las, agora com uma sensação estranha. Quando poderei olhá-las novamente? O mesmo faço com as pessoas ao meu redor ali, como aquela faxineira que sempre cruzo no elevador, ou com os antigos casarões vizinhos sendo engolidos pela especulação imobiliária. O passado nostálgico, dividindo espaço com o presente tenso do TCC, e se espremendo com o temor e os planos do futuro.

Curioso é ver como coisas tão simples e cotidianas, de repente, irão se tornar apenas mais um pedaço da série de lembranças que ocupam o nosso armário de recordações. Um ciclo de quatro anos se fecha. Agora, incógnitas surgem, poucas certezas aliviam a sensação de pisar no escuro. E a saudade... bem, vai tomando forma e criando corpo.

Sinal de que valeu a pena cada segundo. E valeu mesmo. Ganhei uma valiosa bagagem e que será muito bem guardada, com carinho. Obrigado a todos que participaram dessa história. E continuem participando até o dia em que a vida, o destino e a rotina deixarem.

Que venha o futuro.


Danilo Moreira

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 FOTO: acervo pessoal

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sobre novelas e umbigos



A novela global “Avenida Brasil”, de João Emanuel Carneiro, é certamente um sucesso da teledramaturgia recente. A história protagonizada por Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves) tem rendido à Globo, nas últimas semanas, picos que beiram os 50 pontos de audiência, índice que nem últimos capítulos de outras novelas conseguiram atingir.

Por conta dessa repercussão é inevitável que o assunto seja mencionado nas redes sociais. O que chama a atenção é a crítica hipócrita por parte da turma que se considera “consciente” em cima de quem vê novelas. Afirma-se, de maneira geral, que ela é um instrumento de manipulação, e quem as assiste são pessoas “fúteis”, “alienadas” e que “não se importam com a política e o que acontece no país”.

Hipócrita sim. Tão hipócrita quanto quem diz que não assiste novela por ser pura ficção, mas chora só em saber que um novo livro da saga Crepúsculo vai ser lançado. Tão hipócrita quanto quem diz que o povo “se droga” com as novelas, mas que deixa de ir trabalhar para ver a partida de futebol do seu time. Tão hipócrita quanto quem fala que assistir novela é fugir da realidade, mas que conta os dias para assistir seriados americanos como “The Walking Dead” e realmente acredita que vai haver um “apocalipse zumbi”. Tão hipócrita quanto aqueles que criticam quem compra bijuterias semelhantes às usadas pela protagonista da novela, mas enche o quarto de posters, revistas e objetos que lembram o seu cantor ou banda preferidos. Tão hipócrita quanto quem critica UFC como estímulo a violência, mas assiste desde pequeno filmes de luta às vezes mais sangrentos. Tão hipócrita quanto quem prega o boicote à Globo por ela ser manipuladora, mas assiste atrações da Record e outras concorrentes que não passam de cópias mal feitas da “Vênus Platinada”, e às vezes, até mais apelativas e desumanas.

Vivemos sim em um país que precisa acordar para a sua realidade e acompanhar mais o trabalho dos governantes. E instrumentos para isso não faltam. Aqui em São Paulo, por exemplo, a Câmara Municipal possui um portal onde é possível até assistir ao vivo as Sessões Plenárias, saber o andamento de projetos importantes para seu bairro, ou ainda, acompanhar o trabalho e assiduidade do vereador que você escolheu. Você sabia disso, leitor? Se você é de outra cidade, já verificou se aí existe esse recurso? E sobre o trabalho do governador do seu Estado?

Agora, não consigo imaginar um mundo onde as pessoas apenas usem a televisão para assistir programas que discutam a realidade e a sociedade em que vivemos. E não tiro o mérito de desse tipo de conteúdo. Ele é importante. Precisa existir. Só que parece que falar de puro entretenimento virou pecado. Você não pode deixar um pouco de lado a sua realidade para embarcar em uma trama, seja ela qual for, que logo é estereotipado como alienado. Ora, se for por essa linha, todos nós então o somos. Todos, sem exceção.


É possível equilibrar. Você pode ser um cara que assiste "besteiróis" adolescentes americanos mas que sabe, por exemplo, o que o seu prefeito tem feito pela sua região. Mesmo sabendo que a novela é um produto feito para vender outros produtos, eu gosto. Assisto. Curto ver a narrativa, a construção dos personagens, rir com eles. Nem por isso, me considero um “robô manipulado pela mídia”. Sei que existem pessoas de fato alienadas, que realmente levam à sério coisas que não deveriam passar da tela da TV. E é errado. Mas culpar simplesmente um único produto pela alienação de um povo é algo impreciso. A mídia manipula, mas, cada pessoa tem o seu gosto, a sua forma de receber as informações e como vai usar aquilo para a sua vida. Assim como eu não acredito na consciência política de uma pessoa que pede voto nulo mas não se lembra em quem votou nas últimas eleições, não acredito que as pessoas que criticam as novelas como "o ópio do povo" também não consumam algo similar, mesmo que não seja brasileiro.

Busque o equilíbrio. Ninguém deve viver só de realidade ou de ficção. E pior, quem valoriza demais determinado produto midiático é o primeiro que deve baixar a cabeça e se atentar melhor àquilo que fala sobre o consumo dos outros.

E por fim, quem critica a tudo e a todos também é um alienado. Pois jamais será capaz de sentir orgulho de alguma coisa, e não sairá do senso comum de que “tudo está errado”. Quem realmente é inconformado com a sociedade berra menos e atua mais, pois almeja ver mais resultados do que problemas. E quem realmente é alienado está se lixando para essa discussão, e também tem a mesma linha de pensamento do “tudo está errado”, por isso, não sairá do seu sofá para se impor e muito menos para reclamar.

Em suma, vamos cuidar mais dos nossos umbigos e ser menos hipócritas. A sociedade já doente de egos e visões mal construídas agradece. 

Danilo Moreira

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FOTO: 
http://www.dtvusaforum.com/blogs/orrymain/189-director-mel-stuarts-death-brings-memories-willy-wonka-pure-imagination.html
http://www.tribunahoje.com/noticia/42409/entretenimento/2012/10/11/passado-negro-de-doroteia-vem-a-tona-em-gabriela-dancava-nua.html

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Atitudes


Olhe os olhos dos olhares dos olheiros.

Veja a cara de pau dos caras que não vão com a sua cara.

Sinta o sentimento fúnebre de não sentir nada do que mandam sentir.

Mire e atire no ego daqueles que possuem uma caixa de vidro pintado de falso ouro.

Quebre a seqüência desse mundo em decadência.

Beije cada metro quadrado do sentido dos seus sonhos.

Corte o laço de cada passo travado que impede o caminho de seu ponto de ônibus.

Adoce o pote de sal pingado que atirado detona tudo que está à nossa volta.

Destrone as vontades da sua mente confusa e que o confunde a passos cambaleantes.

Erga com imponência os tronos que você conquistou derrubando os capangas do fracasso.

Mostre as fotos e as histórias que você escreveu enquanto pisava nos fantasmas da sua cabeça.

E então, no fim de todas as guerras, todos os bombardeios, todas as traições e todas as atitudes erradas, sempre sobrará um aprendizado.

E é claro, muitas histórias para contar.

E no fim de cada confusão há sempre uma arte a ser mostrada.

Que a arte da sua vida seja cada vez mais bela, e eterna.


Danilo Moreira

Publicado originalmente no blog "Em Linhas...", em 05 de janeiro de 2008*

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FOTO: http://paulorenatoneto.blogspot.com.br/2009/12/le-parkour.html

* Texto adaptado

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Vinte e sete


Três dias fora de casa, quem diria. Dois shows da cantora que mais amo, Alanis Morissette, cortesia de três amigos. Bebidas. Abraços. Risadas. Trabalho de Conclusão de Curso. Um livro nascendo entre as minhas mãos e as de mais cinco amigos. A cada dia, novas cores, sabores e desejos. Coração que grita por socorro num angustiante silêncio forçado, que o tempo e aquela velha caixa de recordações e cobranças não consegue quebrar. Um marcante capítulo de quatro anos que ainda não me sinto preparado emocionalmente para encerrar. Expectativas para 2013, a nova página que terei que escrever, cujo enredo é uma incógnita que até me assusta.

E aquele relógio interno ainda me cobra. Sempre cobra. Nunca me deixa em paz. Eu sei que devo muito a mim mesmo. Devo, e sempre vou dever. Mas sei que conquistei muito mais do que esperava. Amigos de verdade. Respeito. Confiança. Personalidade. Independência. E tantas outras coisas.

É isso. Quero apenas agradecer a todo carinho que recebi no dia de ontem, em que completei mais um ano de vida. Feliz é o ser humano que tem pessoas que zelam por ele, sejam onde e como forem.

Até mais!

Danilo Moreira

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FOTO: http://entreamiigasnn.blogspot.com.br/2011/04/as-vezes-refletindo.html

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Miniconto - Rotina


Acordou. Levantou. Saiu. Trabalhou. Voltou. Jantou. Dormiu. Levantou. Saiu. Trabalhou. Voltou. Jantou. Dormiu. Acordou. Levantou. Saiu. Trabalhou. Voltou. Jantou. Dormiu. Levantou. Saiu. Trabalhou. Voltou. Jantou. Dormiu. Acordou. Levantou. Saiu. Trabalhou. Voltou. Jantou. Dormiu. Levantou. Saiu. Trabalhou. Voltou. Jantou. Dormiu. Acordou. Levantou. Saiu. Trabalhou. Voltou. Jantou. Dormiu. Levantou. Saiu. Trabalhou. Voltou. Jantou. Dorm...ZzZzZzZzZzZzZzZz

Morreu.

Danilo Moreira


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FOTO: http://programaescoladavida.blogspot.com.br/2010/05/libertar-criatividade-superar-rotina.html

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Amor Animal - A luta pela adoção de cães e gatos


Elas vivem em prol dos animais de estimação. Possuem dois, três, cinco ou mais deles dentro de suas casas. O tamanho do local onde moram não importa, o coração é que tem espaço de sobra para todos. Engajadas na luta pelos direitos dos animais, elas fazem a sua parte, ao lado de amigos e parceiros, retirando-os da rua e de maus tratos e encaminhando-os para adoção.

Gloria Tenório é funcionária pública. Casada, sem filhos, divide espaço em seu apartamento de três dormitórios na região da Consolação, centro de São Paulo, com 8 animais – 4 cachorros e 4 gatos, entre permanentes, em tratamento e aguardando adoção. A iniciativa começou há dois anos: “recebi um email pedindo ajuda para um cachorrinho que tinha ficado paraplégico e que foi atropelado na Rodovia Anchieta, e sugerindo visitas. Consegui dinheiro junto com os amigos e eu resolvi visitá-lo. Lá me informaram que a mesma protetora tinha recolhido outro cachorrinho, que estava perto de morrer. O cão, chamado Toby, já tinha 1 ano de idade e estava com um tumor no focinho. Segundo Gloria, os veterinários davam a ele apenas 3 meses de vida. Comovida, sem falar com o marido, decidiu que cuidaria dele durante esse período. O cão está com ela há 2 anos, num gradual processo de recuperação e tratamento.

Com ele, Gloria começou seu trabalho de busca por adoções, na qual acompanha as protetoras independentes, divulga e participa de campanhas e abrigos. “O Toby é muito arteiro, não muito sociável com outros cachorros, mas é engraçado que é só com os cães que tem dono. Quando levo algum novo animal abandonado em casa ele acolhe normalmente. [...] No final do ano retrasado, apareceu a Mel. Ela estava com várias lesões no corpo compatíveis com um provável arremesso de um carro em movimento. Ela tornou uma companheira e um equilíbrio emocional para o Toby e acabou ficando.” Ela já tinha duas cadelas antes de entrar no engajamento pela adoção. Já o abrigo de gatos, ela começou a partir de um resgate de uma gata e seus cinco filhotes, tendo sido 3 deles já adotados. Todos recebem tratamento de um veterinário, e dependendo do dia, enquanto Gloria e o marido saem para trabalhar, eles ficam num hotel para animais domésticos.

Para ela, o motivo principal para ainda existirem maus tratos aos cães e gatos se dá pelo fato que o ser humano se achar superior por ser racional, e por isso, não se imagina em seu papel biológico dentro de um sistema. Com isso, o animal, dotado de uma afetividade e amor incondicional, é o que sofre mais. “Quando você se coloca no lugar do outro, a primeira coisa que vai passar pela sua cabeça é que vai querer ser bem tratado. Quem não faz esse exercício diário com o próximo também não vai conseguir respeitar o animal.” Ela acredita que os maus tratos acontecem mais nos bairros periféricos.

Na opinião de Gloria, as redes sociais são uma vitrine para trazer à tona essas histórias que costumam ficar escondidas. Sempre que pode, anuncia fotos de animais para adoção. Ela mantém uma rede de contatos com amigos, inclusive veterinários, que também lutam pela adoção de animais, dentro e fora da internet. Após o animal ser adotado, Gloria continua mantendo contato com os adotantes, se colocando a disposição para auxiliá-los e até para receber os cães e gatos de volta, caso eles não consigam se adaptar ou seus donos desistam de cuidar deles.

Giselle Sarbouck é outra grande ativista em prol à defesa dos animais. Moradora da região do ABC, mantém em sua casa atualmente 10 animais – 8 cães e 2 gatas. Seu perfil no Facebook é dedicado exclusivamente à divulgação de animais para adoção. Antes de dar a entrevista, a moça havia acabado de chegar da cidade de Santos após levar um animal para uma adotante.

Ela fala da satisfação que sente ao atuar em prol dos direitos dos bichos: “eles dão vida à casa e sabem agradecer dia após dia pelo lar que possuem. A vida não teria graça sem eles, a dedicação vai além de ter uma casa. Eles precisam de passeios diários, boa alimentação, limites, companhia e acompanhamento veterinário. Isso que não é tão simples quando não se tem alguém para saber sobre os custos e o trabalho que geram... É uma responsabilidade muito grande, porém, gratificante.”
Para ela, os principais motivos de maus tratos se dão pelo fato da desestrutura das próprias famílias. “Ao menos com alguns casos que trabalhei, ficou nítido que ocorreram por pessoas de famílias desestruturadas, se é que em alguns casos eu posso efetivamente dizer que havia uma ‘família’ ali”, explica.

O trabalho de Giselle também é focado nos animais vítimas de maus tratos. Ela deixa bem claro que somente resgata aqueles que estão de fato em situação de perigo, ou seja, que necessitam de cuidados de um veterinário. Eles são vacinados, castrados, recebem um chip de identificação e são encaminhados para hotéis de sua confiança. A partir daí, ela inicia um processo de divulgação para que eles logo obtenham um lar de acordo com o seu perfil. Após o interesse de uma família, é firmado um acordo entre ela e os adotantes por meio do preenchimento de um termo.

Assim como Gloria, Giselle não deixa de acompanhar o animal após sua adoção. Ela mantém contato com as famílias adotantes e de um adestrador para lhe dar orientações. “A tendência de humanizar animais tem estragado e muito a relação dos animais com as pessoas, e por vezes podem ocorrer devoluções, gerando um trauma maior para o animal.”, conta.

Giselle, assim como Gloria, acredita que o poder público ainda não investiu adequadamente para evitar os maus tratos aos animais. Mas ela aponta medidas importantes já tomadas. “A criação de delegacia voltada para casos de maus-tratos aos animais é um grande passo. [...] O projeto de Lei para aumento de pena de maus-tratos aos animais no Código Penal já seria um grande avanço e espero que realmente seja aprovado. De fato observa-se que estamos caminhando em prol da proteção à vida animal, porém, há um grande caminho pela frente até que as medidas atinjam a eficácia no dia-a-dia”

Mesmo com um grande poder das redes sociais em provocar a comoção das pessoas perante a situação dos animais, Giselle afirma que ainda é pouco. “uma parte da população ainda chega a dar risada quando encontram pessoas que avisam que vão denunciar alguém por maus-tratos.”

O amor por animais de estimação é algo incondicional e que traz benefícios às pessoas. Para Giselle, os bichos possuem uma energia revitalizante: “não é a toa que usam cães em terapias com crianças, idosos e deficientes. Uma criança que tem um animalzinho desde pequena já aprende sobre respeito, limites, responsabilidades e amor incondicional. Giselle chega a dizer que uma casa sem animal sequer é um “lar doce lar”.

Gloria e Giselle são dois casos de vidas dedicadas e movidas pelo amor aos animais. São pessoas simples, anônimas, que fazem um trabalho que demanda tempo, cuidado, paciência e que só têm lhes trazido orgulho. Os bichinhos agradecem.

Danilo Moreira
Escrito em junho de 2012 para a disciplina de Jornalismo Literário

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Foto: http://www.adshopping.com.br/acontece.asp?id=188&ano=2011&mes=10

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sem assunto


- E aí? Vamos escrever sobre o quê hoje?
- Sei lá. Tem alguma ideia?
- Não. Acho que você é que deveria ter.
- Eu sei. Mas não tive até agora.
- ...
- ...
- E aí? Nada?
- Não. E você?
- Pensa em alguma coisa.
- Não consigo.
- Dormiu mal à noite, é?
- Não. Sonhei bastante até.
- Sonhou com o quê?
- Nada de importante. Sonhei que tinha me esquecido que estava de férias e acabei indo trabalhar. E o trabalho ficava no prédio da escola onde estudei.
- Sério? Que doideira! Podíamos escrever sobre isso.
- Isso o quê?
- Isso aí que você sonhou.
- Ah... Mas, o que isso tem de útil?
- Sei lá. Pode se tornar...
- Algo como o quê? Nunca se esqueça de que está de férias para não ir ao trabalho? Quem é que faz isso?
- Tá bom! Já entendi!
- E você, dormiu bem?
- Claro. Se você dormiu, óbvio que eu dormi também.
- Credo. Quem vê você falando assim pode até pensar que somos um casal, sabia?
- De certa forma sim, por que não?
- Não to gostando do rumo dessa conversa...
- Nossa, você não entendeu nada. Está lerdo hoje! Foco! E aí, o que vamos escrever?
- Deixa-me ver... Hum, na boa, cansei de ficar sentado. Vou deitar.
- Já?
- Sim. Me deu sono. Mas, deixa eu ver... Ah, não sei.
- Nenhuma ideia mesmo?
- Até tenho, mas é muita coisa. Nossa, cara, que sono.
- Ah não! Não dorme! Me ajuda!
- Tá bom. Sei lá, escreve aí “Conto nº...”
- Já escrevi.
- Agora põe... Ih, sei lá, algum cara aí que... que... Coloque algo como “Era uma noite quente...”
- E...?
- Sei lá, um cara, jovem, andando sem rumo.
- Isso! E aí?
- Hum... Daí ele vai...
- Tá, vai...
- Vai indo...
- Esse cara não para de andar não?
- Tá bom. Ele agora corre.
- Ai meu Deus... Corre do quê? E por quê?
- ...
- Ei cara! Ei! Ei! Acorda! Ah não! De novo! Outra vez isso... Não dorme não! Ei! O cara corria, e... E... ZzZzZzZz
E assim, mais uma vez, ele dormiu junto com a sua imaginação.

Danilo Moreira
© 2011

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Foto: http://vamoseducar2.blogspot.com.br/2011/02/baloes-para-hq.html

domingo, 15 de julho de 2012

Antes e Depois – Por onde anda a protagonista de Blossom?

Blossom, em 1991

Olá! Depois de um bom tempo, a Sessão Antes e Depois está de volta.

Nossa personagem de hoje vem dos anos 90. Quem não se lembra da série “Blossom”, exibida pelo SBT entre os anos 90 e começo dos anos 2000? A série norte-americana, criada por Don Reo (um dos produtores de “Eu, a patroa e as crianças”), foi exibida pela rede NBC, entre 1991 e 1995. Para quem não lembra, Blossom era a caçula da família Russo, composta pelo pai Nick (Ted Wass), um pai coruja, e os irmãos Antony (Michael Stoyanov), ex-usuário de drogas e Joey (Joey Lawrence), um típico jovem engraçado, com mais hormônios do que cérebro. Sua mãe abandonou a família para tentar a vida como cantora em Paris, obrigando a família a se reestruturar. Blossom vive os dilemas da adolescência à base de muito humor, ao lado de sua melhor amiga Six (Jenna Von Oÿ).

Mayim Bialik é o nome da atriz que deu vida à personagem. Mayim Bialik Hoya nasceu em San Diego (Califórnia – EUA), em 12 de dezembro de 1975. Neta de poloneses, húngaros e tchecoslovacos, foi criada em Los Angeles, dentro da religião judaica. Seu nome em hebraico significa “água”. Começou sua carreira fazendo participações em produções dos anos 1980, como no filme de terror “Pumpkinhead” (1988) e “Amigas para sempre” (1988) interpretando a personagem de Bette Midler quando criança, e nos seriados “MacGyver” (produzida entre 1985-1992), “The Facts of Life” (1979-1988) e Webster (1983-1989), além do clipe de “Liberian Girl” (1987), single de Michael Jackson. Ela também foi protagonista da série Molloy (1990).

Mayim se tornou mundialmente conhecida com a série “Blossom”, produzida pela emissora NBC de janeiro de 1991 até maio de 1995. No Brasil, a atração foi exibida (e muito reprisada) pelo SBT de 1997 até 2006 (entre várias mudanças de horários e interrupções).

Depois de Blossom, Mayim fez dublagens para alguns desenhos como “As Incríveis Aventuras de Jonny Quest” (produzido de 1996 até 1997), “Hey Arnold” (1996-2004), “Johnny Bravo” (1997-2004) e “Kim Possible” (2002-2007), e participações especiais em séries como “Fat Actress” e “A vida secreta de uma adolescente americana”.

Em 2000, a atriz recebeu o diploma de Bacharel em Neurociência, e Estudos da Cultura Judaica e Hebraica pela University of California, Los Angeles (UCLA). Em 2007, se tornou PhD em Neurociência. Casou-se em 2003 com Michael Stone, tendo dois filhos, Miles (nascido em 2005) e Frederick (nascido em 2008). Ela também atua em algumas ONGs da comunidade hebraica.

Familia: Miles, Michael, Frederick e a atriz
Mayim ficou durante algum tempo afastada da grande mídia e fazendo papeis de pouco destaque. Seu retorno aos holofotes veio a partir de 2009, com seu papel na 3º temporada da série “The Big Bang Theory”, como a Dra. Amy Farrah Fowler. Ela também voltou a contracenar com alguns atores do elenco de “Blossom”, numa participação na série “Till Death” em 2010. E hoje, continua atuando em “The Big Bang Theory”, além de ter publicado em maio o livro “Beyond The Sling: A Real-Life Guide To Raising Confident, Loving Children The Attachment Parenting Way”, que fala sobre um método de educação intuitiva, tomando como exemplo a aplicação do mesmo na criação dos seus próprios filhos.

E esta é Mayim Bialik hoje, aos 36 anos, fotografada no dia 13 deste mês no Comic-Con International 2012, em San Diego, Califórnia.

Mayim, no Comic-Con

A atriz em seu atual papel em "The Big Bang Theory" 

Bem, por hoje é só. No próximo post da sessão Antes e Depois você vai saber por onde anda o restante dos integrantes de “Blossom”. Não perca!

Até mais!

Danilo Moreira

Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/Mayim_Bialik
http://pt.wikipedia.org/wiki/Blossom
http://www.mayimbialik.net/bio.html
http://www.tvguide.com/celebrities/mayim-bialik/bio/165625
http://seriesedesenhos.com/br2/index.php?option=com_content&view=article&id=2247:qblosson-1991q&catid=84:series-1950-a-2009&Itemid=68
http://www.alohacriticon.com/elcriticon/article2635.html
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/atriz-de-big-bang-theory-lanca-livro-sobre-modo-controverso-de-criar-os-filhos

Fotos:

http://portaldatvaudiencia.wordpress.com/2010/01/02/protagonista-de-blossom-volta-a-atuar-na-tv/
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/atriz-de-big-bang-theory-lanca-livro-sobre-modo-controverso-de-criar-os-filhos
http://www.zimbio.com/pictures/1bItCBmvkN4/Bang+Theory+Press+Room+Comic+Con+International/KX6lLKKmcdl
http://www.smh.com.au/entertainment/tv-and-radio/in-theory-love-should-blossom-20120406-1wg2h.html

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Corra!



Corra com os ponteiros do relógio.
Corra com os fios que caem da tua cabeça.
Corra com a velocidade das cobranças.
Corra com a intensidade do teu remorso.
Corra com a vontade de ser livre.
Corra com o desejo de explodir os desejos.
Corra com o impulso de gritar.
Corra com a pressa de querer chegar.
Corra para não cair.
Corra para não parar no caminho.
Corra para não atrofiar as tuas pernas.
Corra para ultrapassar os teus medos.
Corra para ultrapassar o teu falso espelho.

Corra por correr.
Corra para não morrer por dentro.
Corra para não tropeçar.

- Corra!
- Ande!
- Corra!
- Ande!
- Corra!
- ANDE!
- CORRA!
- PARE!
- ANDE!
- CORRA!
- PARE!
- CORRA!
- PARE!
- ANDE!
- PARE!
- CORRAA!
- CORRAAAAAAAAAAAA!
- CORRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
- CORRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!


Corra... da vergonha...

Danilo Moreira

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FOTO: http://gilbertocarlos-cinema.blogspot.com.br/2010/05/um-quarto-final-para-o-filme-corra-lola.html

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Diferenças


Tarde fria de domingo e eu trancado no meu quarto mexendo no Facebook. Um amigo compartilha uma foto curiosa. Nela, está escrito: “crianças não pensam em preconceitos, elas são inteligentes demais pra isso”. A foto é de um jovem punk que, agachado, deixa uma criança negra impressionada tocar na sua jaqueta. A foto normalmente provoca um sentimento de admiração, e chama a atenção por ser um símbolo que quebra estereótipos.

Mesmo tendo amigos que são ou foram punks, conheço pouca coisa sobre esse movimento, mas sei da visão deturpada a quem sempre a mídia atribuiu a eles. Opiniões à parte, nunca vou me esquecer de um dia, quando tinha por volta de 20 anos, em que passei de ônibus em frente ao vão livre do MASP. Lá, um grupo de punks entregava mantimentos a mendigos. Foi ali que eu tinha entendido como o estereótipo deixava as pessoas cegas, mesmo que essas tivessem consciência dos males do preconceito.

O mesmo acontece para outros grupos. Conheço pessoas “de família” incapazes de dizer um “eu te amo” para os filhos. Por outro lado, já vi pessoas “tortas” que fazem de tudo pelas pessoas que amam. Conheço evangélicos que mesmo se dizendo com Deus no coração, possuem a frieza de uma pedra e preconceitos sem limites. Já outros evangélicos são capazes de dar a própria vida para ajudar o próximo. O mesmo acontece com ateus, judeus, católicos, umbandistas, etc. Vi gente de classe alta tendo fortes laços de amizade com pessoas da periferia. Já outros, paupérrimos, ostentam um desejo de ambição e segregação que impressiona. Quem disse que na periferia não existe fãs do rock, da música clássica e até indiana? Sim, existe. Conheço pessoas que possuem estilos de vida considerados “errados” e que têm o coração mais nobre do que alguns que se dizem com uma vida regrada. Gente intelectual que só pronuncia asneira. Pessoas sem grau de instrução que são capazes de falar da vida como poucos. Adolescentes maduros, decididos e responsáveis. Adultos irresponsáveis, infantis e sem futuro.

É por isso que eu digo: não adianta olhar e julgar o ser humano apenas pelo sistema ou grupo em que ele vive. Até porque, todos eles são feitos por pessoas constituídas de individualidade, gostos e preferências. Aqui entra o velho ditado que diz “as aparências enganam”.

E a minha curiosidade de jornalista acabou me fazendo pesquisar a origem dessa foto. Segundo o blog polonês “Suburbia Bomb”, ela foi tirada no começo de 2011, durante a Parada do Orgulho Gay em Boulevard Anspach, em Bruxelas, capital da Bélgica. Certamente é uma imagem que merece ser compartilhada, pois mostra como é possível conviver com diferenças, e principalmente, o mundo carregado de rótulos e estereótipos em que ainda vivemos. Se essa foto lhe causou algum tipo de surpresa, independente das suas convicções morais e éticas, pode ser que esse tipo de mundo esteja mais próximo do que você imagina...

Danilo Moreira

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FOTO: http://suburbiabomb.blogspot.com.br/2011/08/little-bit-of-fait-in-humanity.html

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Os três educados


Era um ônibus lotado. Em um banco perto da porta, um homem estava sentado. Em volta, um rapaz com uma mochila e outro com a mão no bolso. Havia também uma garota com a sua bolsa, cuidadosamente amparada pelos seus braços.

De repente, o tal homem se levantou do banco para descer no próximo ponto.

Sim, um banco vazio!

Olhares entre os três em volta, a garota, o rapaz de mochila e o com a mão no bolso:

“Eu quero sentar, mas vai que o outro tá precisando... Seria ganância demais da minha parte me jogar no banco.”

Silêncio. Ninguém sentou. Para não parecer fome do lugar, cada um dos três disfarçou, olhando para os prédios da Avenida Santo Amaro que passavam lentamente por causa do trânsito e dos constantes semáforos. O lugar continuava vazio... E os três queriam sentar. Mas ambos se consideravam um exemplo de educação, coisa que todo mundo sabe que era o que menos existia dentro de um ônibus, além, é claro, da velocidade (pelo menos em São Paulo).

Um dos homens, o de mochila, olhou para a garota:

- Pode sentar, moça.

- Não, obrigada. – respondeu ela, disfarçando-se de modesta. – Pode sentar.

O homem sorriu. Olhou para o rapaz que estava com a mão no bolso:

- Pode sentar.

- Não fera, que é isso, pode sentar.

- Não, pode sentar você.

- Não, obrigado. – e olhou para a moça. – Senta, moça.

- Não, não, pode sentar.

Ambos haviam trabalhado o dia inteiro. Estavam com as pernas cansadas. Mesmo assim, não desistiam de querer mostrar o quanto eram gentis com o outro.

- Pode sentar.

- Pode sentar, moça.

- Pode sentar.

- Pode sentar, moço.

- Pode sentar.

- Senta ae, mano.

- Não, pode sentar.

- Senta aí...

Foi então que, de repente, para a surpresa de todos, surgiu, não se sabe de onde, uma senhora de feições carrancudas. Acelerada, esbarrou na moça e não pediu desculpas. Empurrou com o corpo o rapaz que estava com mochila:

- Se vocês três não vão sentar, eu sento.

E sentou, ficando com a cara para cima e com toda a tranqüilidade do mundo.

Os três se olharam. O sentimento era o mesmo: “xingar aquela velha folgada e arrogante.” Respiraram fundo. Não iam fazer nada. Ela era uma senhora de idade. Era total falta de educação maltratar os idosos...

E os três, com sorrisos disfarçados nos rostos e egos orgulhosos, chegaram a um consenso de que foi melhor assim, afinal de contas, eles não eram como todos os outros ali, que não pensavam em mais nada além do próprio umbigo. Eles eram pessoas bem educadas, que não iriam morrer por causa de um lugar... mesmo que uma pessoa mal educada tenha levado aquele banco de presente...

E por trás daquela postura civilizada foi possível perceber o que realmente, naquele momento, eles sentiam por dentro:

“Ora, sua velha #$%#@$%@&%...”

Pois é, como era bom ter educação... principalmente com quem merecia justamente o contrário.


Danilo Moreira

Postado originalmente no blog "Em Linhas...", em 25 de junho de 2007. *
© 2011

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FOTO: http://omundodemloves.blogspot.com.br/2010/05/onibus-lotado.html

* Texto revisado

terça-feira, 5 de junho de 2012

Linhas especiais...


Hoje, o Ponto Três abre espaço para falar de outro blog muito especial. Ele foi um divisor de águas na minha vida enquanto blogueiro.

Iniciado exatamente em 05 de junho de 2007, o “Em Linhas...” tinha uma proposta de ser aquele caderno em branco (apesar o layout todo preto, rs) que pegamos para escrever tudo aquilo que pensamos. Foram 94 postagens em 1 ano, 3 meses e 5 dias de funcionamento.

Até 2007, eu mostrava os meus textos, na maioria manuscritos, apenas para amigos e parentes. Mas tinha uma curiosidade em saber como pessoas desconhecidas reagiriam ao ver o que eu escrevia e opinarem sem as influências da intimidade. Baseado num blog de uma amiga, iniciei em 22 de abril do mesmo ano o “Toca das Letras”. Mas, com o tempo, quis algo maior, mais conceituado. Como virginiano perfeccionista que sou, decidi criar outro blog, com novo layout, proposta e nome. Nascia, assim, o “Em Linhas...” e começava ali, definitivamente, a minha relação com a blogosfera, que dura até hoje.

Com ele aprendi muito. Descobri as comunidades de blogueiros no Orkut (e tópicos como o famoso “Comente no blog acima” – o céu e o inferno do blogueiro amador). Fiz vários amigos, uns que se perderam com o tempo, outros que continuam até hoje e que já tive o prazer de conhecer pessoalmente. Aprendi que comentário é moeda de troca, mas não é o principal. Entendi que NUNCA você estará sozinho. O que você escreve, não importa em qual lugar do mundo, com certeza será lido por alguém, mesmo que por cima. Vi como existem pessoas que sabem comentar, e outras que sabem apenas causar comentários, especialmente quando dizem coisas inúteis.

Lá, iniciei o que considero o extremo do meu lado poeta no marcador “Delírios”, que ainda tem continuidade neste blog. Um conto, chamado “O Concurso de Atrizes”, que critica a televisão enquanto entretenimento sem conteúdo, recentemente se tornou uma peça de teatro, que apresentei com o grupo da minha faculdade no começo deste ano.

O “Em Linhas...” veio numa fase em que eu tinha 21/22 anos. Naquela época, nem sonhava em ser jornalista. Era um jovem de moicano, roupas largas, escritor amador, operador de telemarketing, capaz de ouvir de Madonna à Janis Joplin, com um relacionamento intenso com uma garota fantástica, e com alguns problemas familiares. O blog foi um retrato importante dessa época, e que foi escrito para conter palavras que poderiam ser compartilhadas com qualquer pessoa e se possível, em qualquer tempo. Por motivos pessoais, decidi deixar de postar nele em 10 de setembro de 2008, mas não tive coragem de excluí-lo. Ele ainda continua aberto para visitação e inclusive para comentários, mas hoje, ele não passa de uma bela lição do que é um blog, e um belo retrato do que já fui.

Como comemoração, alguns textos do “Em Linhas...” passarão a ser postados aqui, no Ponto Três. Espero que gostem.

E a todos que adoravam o blog, mais uma vez, muito obrigado.

Até à próxima!

Danilo Moreira

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Foto: Acervo pessoal

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sons especiais na praça de alimentação


Já tinha ouvido aquela voz algumas vezes naquela praça de alimentação do Shopping Light, no Centro de São Paulo. Todas as noites das sextas-feiras, com seu violão e uma voz afinada, aquele rapaz desconhecido tocava em um pequeno palco improvisado e mal situado. Na bagagem, um repertório variado, com clássicos da MPB e conhecidas baladas internacionais. Disputava com seu talento um pouco de atenção das pessoas em meio àquele barulho misturado de conversas e talheres. Ao fim de uma música, ouvia uma, duas palmas, e agradecia discretamente com a cabeça.

Mas, naquele dia, enquanto eu me acomodava em uma das mesas com meu jantar, reparei que uma senhora bem idosa, negra, com um lenço elegante na cabeça, batia palmas com mais empolgação que os demais. Ela estava bem na frente do músico, sozinha, e pelo prato vazio, já tinha comido há algum tempo. O rapaz tinha acabado de tocar “Do you wanna dance?”, de Johnny Rivers, e ela, comovida, pediu mais. E ele, não dando muita atenção, continuou com seu repertório, com clássicos de Eric Clapton, Nando Reis, Djavan, Richard Marx, entre outros. Ao fim de uma música, o cantor foi aplaudido euforicamente pela senhora, e surpreso, enrubesceu-se. A mulher então chamou o rapaz de canto e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. Ele sorriu. Então, pôs-se a tocar uma música que ela tinha sugerido, do Lionel Ritchie. E assim foi com outras.

As mesas em volta já começavam a ficar vazias por conta do horário de fechamento do shopping. Eu ainda comia bem devagar, apenas obervando os dois, curioso com a forma que se interagiam. A mulher sorria, batia palmas, brincava e acompanhava os gestos do rapaz, como se mesmo sentada também fizesse parte daquele palco. E ele ia junto, animado com a atenção especial que recebia, deixando que ela escolhesse, ao fim de cada música, qual a próxima a ser cantada. A apresentação, com finalidade de puro entretenimento, agora tinha ganhado um novo significado: ele fez a diferença na vida de uma pessoa, transformou aquele momento em algo inesquecível para alguém. E pelo brilho que seus olhos mostravam, isso já parecia o suficiente para deixá-lo satisfeito.

Olhei no relógio, vi que precisava ir embora. Passei ao lado do palco só para ver mais de perto aqueles dois. A senhora ainda continuava cantarolando, e o rapaz terminava de tocar mais uma música do Johnny Rivers. Era a última. Com toda a educação, despediu-se do público, deixando seu telefone para shows. A senhora o aplaudiu de pé, deu-lhe parabéns, agradeceu por tê-la feito se divertir tanto. Sorridente, o rapaz também a agradeceu por tê-lo ouvido.

São em casos assim que a gente percebe como não precisa de muito para transformar dias comuns em momentos especiais.

Danilo Moreira

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FOTO: http://aldeiatem.com/blog/?p=2999

sábado, 28 de abril de 2012

Nick

Estava mal naquela noite de outubro de 2000. Pela primeira vez, eu tinha sentido a dor de perder um cão de estimação, ainda mais daquela maneira trágica. Fui até o espaço onde você e ele conviviam. Olhei para a casinha dele, e desolado, encostei-me na parede, e comecei a chorar. Você ainda era novo, cheio de vida, pentelho, e me recordo bem que naquele dia, você simplesmente deixou a sua agitação quase compulsiva de lado e parou só para me observar. Sentou e ficou me olhando chorar. Prestou atenção em cada palavra de desabafo que eu te disse. Viu como aquele adolescente de 15 anos, um moleque magrelo metido a durão, desmoronava pela primeira vez daquele jeito, diante de uma morte que você também foi testemunha. Fechei os olhos, entrei numa viagem pela memória, pelos bons momentos que tive com aquele cão. Mas, um barulho de patas interrompeu aquela viagem e me trouxe de volta para o presente: era você, pulando, me chamando para brincar. Foi então que entendi, quando olhei novamente para os seus olhos, que o que você queria mesmo era tirar aquela dor que eu estava sentindo, da melhor maneira que você sabia: me fazendo rir.

Nunca mais esqueci desse seu gesto. Nunca mais esqueci da maneira como sempre se preocupou comigo. Mesmo há anos você não morando mais aqui em casa, sempre te considerei daqui, e você, todas as vezes que ia te visitar na casa do meu irmão, também sempre me tratou com um mesmo carinho, como se ainda fosse da sua, até aquela última vez, quando novamente, aqueles seus olhos me disseram um obrigado, por estar ali, enquanto você tentava ficar em pé, mas não conseguia mais, devido à sua idade avançada.

E hoje, recebi a noticia que você teve que partir. Eu sabia que logo isso ia acontecer, devido às suas limitações físicas cada vez mais cruéis. Mas mesmo assim, sabendo como foi, dói, ainda que no fundo tudo tenha acontecido para amenizar o seu sofrimento... Realmente é uma crueldade que os cães, maiores exemplos de amor incondicional e perdão, tenham uma vida tão curta em relação à que costuma ter o ser humano, às vezes mais duro que uma pedra e tão nojento quanto os ratos.

Obrigado por ter existido. Obrigado por tudo que fez por mim, e pela minha família. Às vezes acho que Deus criara os cães para mostrar que não precisa de muito para amar. As vezes um olho brilhando, uma companhia silenciosa do lado, ou mesmo um simples convite para brincar, podem ser mais do que suficientes.

Descanse em paz, Nick. 
(1997-2012)



Danilo Moreira

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FOTO: acervo pessoal

terça-feira, 13 de março de 2012

Delírio - Hedonismo


Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade. Busque a felicidade.

[Você não é homem!]
[Você magoou pessoas!]
[Você não serve para nada!]
[Você tem que ter medo!]
[Você vai morrer!]
[Que coisa de útil você fez pela sua vida?]
[Você não sabe se defender!]
 [Você é o culpado de tudo!]
[Você é excluído!]
 [Ninguém gosta de você!]
[O mundo está uma merda!]
[As pessoas não prestam!]
 [Você é muito certinho!]
[Você não aproveita a sua vida!]
[Você não sabe conversar!]
[Você é muito careta!]
[Você está fora da moda!]

Corpos [Você é fraco!] Bundas [Você não é gente!] Carros [Você nunca conseguiu amar alguém!] Sexo [Você tem roupas horríveis!] Shopping [Você tem um corpo horroroso!] Dinheiro [Você beija mal!] Bebida [Você é ruim de cama!] Tênis [Não se enturmou!] Drogas [Errou a vida toda!] Marcas [Só leva desaforo!] Puteiros [Não tem filosofia de vida!] Mulheres [É capacho dos outros!] Homens [Você não sabe falar!] Chicotes [Sempre apanhou dos outros!] Pés [É um pobre coitado!]

ERGO A BANDEIRA DO PRAZER NA PLATAFORMA DOS TEMPOS MODERNOS!

PROVO A TUDO COM VONTADE DE TIRAR O GOSTO AMARGO DEIXADO PELOS MEUS DEFEITOS E FRACASSOS.

O PRAZER QUE ME EXCITA.
O PRAZER QUE ME LIBERTA.
O PRAZER QUE ME SATISFAZ.
O PRAZER QUE ME FAZ SENTIR RICO.
O PRAZER QUE ME FAZ SENTIR HOMEM.
O PRAZER QUE ME FAZ SENTIR COMPLETO.
O PRAZER QUE ME FAZ SENTIR SEDADO.
O PRAZER QUE ME FAZ SENTIR AMADO.
O PRAZER QUE ME FAZ SENTIR ACEITO.
O PRAZER QUE ME FAZ SENTIR MODERNO.
O PRAZER QUE ME DÁ PRAZER.

ENQUANTO ISSO, OS PRODUTOS DEFEITUOSOS NO DEPÓSITO DO EGO VÃO SENDO
ESQUECIDOS ATÉ PERDEREM DE VEZ O PRAZO DE VALIDADE.

ATÉ O DIA EM QUE O PRAZER VIRAR OBRIGAÇÃO, E A OBRIGAÇÃO SE TORNAR UMA PRISÃO.

O QUE FARÁ QUANDO VOCÊ APODRECER?

Danilo Moreira
novembro de 2011

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FOTO: http://carolinaleitedasilva.blogspot.com/2011/02/hedonismo.html

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A nossa vitrine nas mídias sociais


Enquanto eu navegava pelo Facebook, uma amiga compartilhou um link de uma matéria da sessão TechTudo do portal G1. Segundo a  matéria, algumas empresas brasileiras já teriam deixado de lado o tradicional curriculum vitae e passado a utilizar como critério de seleção de candidatos a consulta do que andam publicando nos perfis das suas mídias sociais.

A notícia me deixou com uma pulga atrás da orelha. Será que já vivemos em tempos em que as redes sociais passaram a ser uma espécie de Big Brother Curricular, onde TUDO que escrevemos é observado e analisado por várias empresas?

O fato é que vivemos na era em que a privacidade praticamente está morta. Em todo lugar somos vigiados por câmeras. Tudo que acontece conosco faz parte de uma rede mundial, onde quanto mais o fato for inusitado e provocar algum tipo de reação, mais pessoas tomam conhecimento dele. Pode ser por exemplo um comentário bem humorado seu, mas se as pessoas acharam interessante, vão compartilhar.

Talvez seja o momento das pessoas monitorarem mais o que postam e o que compartilham nas redes sociais, afinal, vivemos sendo bombardeados (e dando atenção) o tempo todo por informações inúteis, e querendo ou não, que podem depor contra nós em situações como a descrita na matéria do G1. Ao mesmo tempo, é algo que particularmente me intriga e me leva a lhe jogar uma reflexão, leitor. Será que ter uma postura sempre politicamente correta nas redes não é uma forma de mascarar o ser humano que você realmente é? Ou precisamos nos fechar dentro de uma imagem montada e planejada, tendo um rígido controle sobre cada letra que escrevemos ou compartilhamos?

Pense nisso.

Danilo Moreira

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FOTO: http://aquintaonda.blogspot.com/2010/07/tse-publica-regras-para-redes-sociais.html

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O bloco do vandalismo e as máscaras do Carnaval



Vandalismo. Essa é a palavra que mais traduz a final da apuração do grupo especial das escolas de samba de São Paulo 2012.

Para quem não sabe, na tarde de hoje (21), enquanto era anunciada as notas no quesito Comissão de Frente, o integrante da diretoria da Império de Casa Verde, Tiago Ciro Tadeu Faria, 29 anos, burlou a segurança e pulou para a mesa dos jurados e rasgou envelopes onde continham as votações. A partir daí, o que se viu foram várias torcidas promovendo quebra-quebra e muita confusão. Já do lado de fora, torcedores da Gaviões da Fiel atearam fogo a um carro alegórico da Pérola Negra. Cinco pessoas, incluindo o causador do tumulto e um torcedor da Gaviões (Cauê Santos Pereira, 20 anos, detido por atirar objetos), foram presas. Segundo informações exibidas no Jornal Nacional, Faria já tinha passagem na policia e já tinha até uma condenação desde 2005. 

Na maior parte das redes sociais, a Gaviões da Fiel foi apontada como a única e principal causadora do tumulto, como se outras escolas também não tivessem o seu grau de participação. Já boa parte da turma do “odeio carnaval” aplaudia de pé o fato e reforçava o seu pensamento de abolir o evento das terras brasileiras, além das piadas com tudo e com todos, de praxe (e admito, algumas muito bem feitas que nem o bom senso é capaz de conter o riso).

O fato é que isso abre o leque para várias questões polêmicas. Uma delas é a influência do fanatismo das torcidas nas escolas de samba. E outra questão, tão grave quanto, é sobre a incógnita que se formou diante da forma como foi feita a apuração, já que houve a troca de jurados, e uma reunião a portas fechadas com representantes das escolas que chegou a atrasar o início da apuração e acusações por parte de alguns membros de favorecimento e compra de votos. 

Não é novidade a suspeita (ou certeza) de que existe manipulação na votação das escolas de samba. O fato é que hoje se estourou uma bomba que talvez estivesse engasgada na garganta de muitos que acompanham aquele processo, e que de alguma forma se sentiam prejudicados. Acho que isso é mais que o suficiente para abrir os olhos de todos sobre o que acontece lá dentro. “Mas isso é Brasil, é comum. Se na política, no futebol, até na vida cotidiana, manipulações acontecem, porque na festa mais famosa do país isso também não poderia acontecer?”, diz o senso comum. “Em outras palavras, onde há fumaça, há fogo”.

E o resultado foi esse: vandalismo, um carro destruído de uma escola que nada tinha a ver com a história, e uma grande festa que terminou como uma notícia policial, e que terá desdobramentos.

Outra questão que também defendem é a abolição do Carnaval de São Paulo de torcidas e até de escolas ligadas à times de futebol, assunto que também não é novidade. Acredito que até poderia ajudar, mas se a intenção é acabar com a violência, de nada adianta abolir essas escolas do grupo especial, se os vândalos dentro das torcidas organizadas continuarem aprontando o que querem sob a sombra das cortinas da impunidade, seja no carnaval, ou nos próprios jogos.

Que o fato de hoje traga boas lições a todos. Pena que nem todas as pessoas têm maturidade ou a cabeça aberta, pelo menos, para entender onde estão mesmo os verdadeiros vilões e culpados dessa história. E não estou falando de nenhuma escola...

Mas, enfim, desejo apenas que seja feita a justiça, seja para quem for.

E agora pouco foi anunciado: a Mocidade Alegre é a campeã do Carnaval 2012. 

Até a próxima. E feliz ano novo!

Danilo Moreira

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Mais noticias sobre o assunto:

FOTO: Reprodução/ Tv Globo
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