quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Imoralidades - Parte 2


Conto com três partes. Narrador fictício.

- E isso que você e sua namorada estão fazendo aqui também não deixa de ser desrespeito tanto quanto os exemplos que você acabou de me dar?

- Claro que não. – respondeu ele, taxativo. – Todos nós somos seres civilizados, porém, antes disso, somos animais com instintos sendo controlados a todo custo. Instintos que são necessários, com por exemplo, para que o senhor encontre o seu amor, faça sua família, ou simplesmente, para curtir a sua vida.

Resolvi sentar na grama, pois não conseguia esconder a minha pasmaceira (misturado com curiosidade) sobre a teoria que aquele jovem estava praticamente me dizendo. Simpaticamente, ele também sentou, colocando sua namorada no colo. Ela preferiu que ele abrisse as pernas e ela ficasse sentada entre elas, o que me causou um certo incômodo ao olhar.

Enquanto a abraçava, o rapaz continuou:

- Veja bem: a sociedade é hipócrita ao ter vergonha dos seus instintos. Quantas tragédias poderiam ter sido evitadas se as pessoas apenas tivessem mais liberdade em fazer aquilo que seus corpos realmente estavam querendo? Estou falando de vidas infelizes, meu senhor. Gente que enlouquece ou se mata pelos julgamentos da moralidade, enquanto os moralistas provocavam atitudes imorais. Todos nós viemos do sexo. Todos nós vivemos para o sexo! Todos nós só continuaremos nossas gerações através do sexo! Então, por quê a vergonha disso?

- Você está confundindo as coisas. – interferi. – O ser humano não pode só viver de instintos, senão o mundo seria o caos. Tem que haver uma regra moral, algo que mantenha a ordem. Eu até te entendo, mas não concordo. Ser hipócrita é uma coisa, ser escancaradamente imoral é outra. Nós não precisamos de gente de instintos soltos por aí como animais selvagens ávidos pelos genitais de seus machos ou fêmeas, precisamos sim é de pessoas civilizadas, cidadãs, que respeitem a todos e pelo menos respeitem a moral de uma sociedade, mesmo que falsa.

- E isso não é ser hipócrita, meu senhor? Sou jovem, sinto tesão pela minha namorada. Meu corpo pede o corpo dela. Se não obedeço ao meu corpo, se eu me entrego à minha rotina e deixo de satisfazer os meus desejos, ele com certeza vai reclamar, vai afetar o meu humor, a minha saúde, a minha vida social, e até o meu relacionamento. Isso tudo, é claro, com o tempo. Por que não fazer amor onde bem entendo? Na praça, na rua, na escada de algum prédio, no carro, qual o problema se não estou fazendo mal a ninguém? Duvido que o senhor já não teve essa vontade, isso se já não o fez...

- Bem...

Lembrei-me na adolescência, foi até na época da liberação sexual, do movimento hippie, do naturismo, onde peguei uma vizinha e fizemos amor na escada do prédio dela. Houve também uma vez em que eu ficara com uma garota na calçada da minha casa mas para disfarçar, fizemos encostados a um carro estacionado. Não ia contar aquilo ao garoto, pois, apesar de tudo, era diferente. Ambos foram à noite, com extrema preocupação de alguém pegar...

- Eu não. – respondi. – Nunca tive esses desejos libertinos. Sexo pra mim só entre quatro paredes. Não preciso ficar me exibindo como vocês.

A menina me fitou de cima a baixo. Parecia não ter acreditado no que eu havia dito.

continua...


Danilo Moreira


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FOTO: http://muddypickles.files.wordpress.com/2009/08/17_01_mascaras.jpg


3 comentários:

Bruno Silva disse...

Sorri durante todo o conto. A hipocrisia impera, realmente, em nossos dias. O discurso, tanto do senhor, quanto do jovem, parece-me pertinente. Lembrei da história da sexualidade de Foucault, e toda sua análise social a partir da ótica sexual. Em parte, o jovem tem razão em eleger o sexo como propósito central de nossos dias. Porém é leviano pensar do jeito que ele pensa. O impudor daquela cena transgride qualquer lógica de comportamento.

Quando o senhor lembrava-se de seu tempo. E da resignificação das situações. Me veio a ideia de como praticamos bastante atos (uso de drogas, etc) com outro intuito: não mais por revolução ou quebra de tabus, e sim pelo incontrolável anseio de nossos corpos.

Bom conto.
Mesmo construído por falas [ não é minha preferência ] está imperdível!

Rafael Sperling disse...

Opa, e aí?
Desculpa a demora pra responder, tenho estado meio sem tempo de responder aos comentários todos...
valeu pela visita!
Abraço

Marcelo A. disse...

Fala, Danilão!

Cara, desculpa só agora conferir seu post. Essa semana foi pesada, aconteceram algumas coisas... enfim, deixa pra lá!

Nossa, filosófico mesmo! As questões levantadas pelo rapaz são pertinentes. Mas, as defendidas pelo senhor também são! É a faca de dois "legumes", né? Falta agora ver o desfecho e aí, eu comento melhor...

Passando na útltima parte. Me espere lá!

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