domingo, 6 de dezembro de 2009

Imoralidades - Parte 1


Conto com três partes. Narrador fictício.

Engraçado como nós, pessoas com nossas ideologias e conflitos, nos deparamos por aí com cada coisa...

Estava eu indo trabalhar de terno e gravata, cabelos grisalhos alinhados com gel para trás, pasta recheada de papéis e um sorriso no rosto, quando olhei para o céu azul daquele começo de tarde. Lindo dia. Se pudesse, pararia por algumas horas, encostaria em algum banco de praça, tiraria meus sapatos de couro italiano, e esticaria os meus pés. Como não podia fazer nada disso, pelo menos, eu procurava ser um homem mais observador das coisas bonitas. Paisagens, monumentos, pássaros, pessoas, crianças... E uma praça. Era uma linda e enorme praça, cheia de grama, flores em muito verde. Ali não era uma região muito movimentada mas se via alguns moradores sentados nos bancos. Eu gostava de passar por ali, pois além da oportunidade de observar e respirar aquele ar puro, eu já poderia cortar um bom caminho até meu trabalho.

E resolvi naquele dia passar por ali, observando aquele belo quadro natural.

Mas, naquele dia, meus olhos levariam um choque ao se virar para perto de um monumento. Dois malucos, não sei se essa era a palavra certa. Eram dois malucos! Um casal de jovens, o rapaz, de cabelo desgrenhado e arrepiado para cima, de camiseta branca, calça jeans azul claro e um All Star vermelho. A menina, com um corte moderno, repicado, cabelos pretos, com uma blusinha estampada pink e uma minissaia jeans rasgada, e um All Star preto de cano alto, de couro. Apoiados no monumento, estavam em extremos amassos. Pareciam estar entre quatro paredes, e a grama seria a cama.

Mas isso não era tudo. Não satisfeito com os amassos, o garoto arrancou sua camiseta, abriu o zíper da calça. A menina também ficou seminua. Sim, iriam fazer amor ali mesmo, na praça, na frente de quem quisesse ver, em pleno começo de tarde. Por sorte não havia crianças ali, e poucas pessoas nesse momento passavam.

Fiquei indignado. O casal já tocava-se freneticamente, entre beijos e lambidas por todos os cantos. Quando começaram o ato, não agüentei, e fui até lá para tentar entender o que se passava na cabeça deles. Já estavam só de tênis quando fui lá repreendê-los.

- Ei, vocês dois, mas o que é isso? Que falta de educação é essa? Aqui agora é motel público?

O casal parou em seguida, e o rapaz ficou de pé, de olhando. Abriu um sorriso natural.

- Opa! Olá, tudo bem com o senhor?

- Tudo nada! – respondi. – Vocês não acham que uma praça não é lugar para ficaram transando, no meio de tudo mundo e ainda nessa hora da tarde?

A menina também ficou de pé. Porém, nem ele, nem ela, se preocuparam em se vestir. Permaneceram nus, só de tênis, ali, na minha frente.

- Bem... – respondeu o jovem. – determinar a finalidade dos lugares é relativo, senhor. O Congresso foi constituído para que os políticos discutam as leis para a nossa nação, e no entanto, já fora palco de verdadeiras vergonhas para o nosso país. A igreja foi construída para que os fiéis católicos fizessem as suas missas em louvor à Deus. E já não vimos falar até de casos de pedofilia com padres? Praticamente em qualquer ambiente de trabalho que o senhor for, encontrará com certeza algum caso de relação amorosa entre empregados, ou patrões. Agora, se amo minha namorada, não mexi e nem quero mexer com crianças, não roubo, não mato, não me envolvo com ninguém do meu trabalho, por que não posso fazer amor com minha namorada numa praça tão tranqüila como essa?

Franzi as sobrancelhas. Aquele rapaz era louco? O que tinha a ver Congresso, a Igreja, com a sua imoralidade na praça? Tudo bem que corrupção no Congresso, pedofilia na Igreja, relações sexuais no trabalho, também são coisas medonhas e vergonhosas, mas isso justificaria aquela cena em público?

Depois de ouvir isso, senti que eu e aquele casal teríamos muito para conversar... Porém, eu com meus cinqüenta anos e minha experiência de vida, jamais imaginei o rumo que tomaria aquela conversa...


continua...

Danilo Moreira

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7 comentários:

mulherices disse...

Bom, imoralidade e inadequação são coisas diferentes.

Mas aguardemos a continuação da narrativa para saber no que vai dar isso. :)

Inez disse...

Eitá muito bom seu texto, entendi bem o que você quiz dizer.
A imoralidade está tomando conta de todas as instituições, não há mais limites para nada.

Euzer Lopes disse...

Interessante...
Hoje em dia já nos provaram que o conceito de moral vai muito além daquilo que estavam nas cartilhas dos primeiros anos da vida escolar.
E aí vem um moleque com os hormônios em ebulição e nos faz pensar nos NOSSOS conceitos de moral.
Nada justifica algo que deva ser feito em quatro paredes aconteça à frente de quem quer.
Mas, razão ele tem? Pode ser.
Depende do que chamamos de Moral.

Marcelo A. disse...

Puxa, Danilão! Mandou super bem! Fiquei aqui, lendo e imaginando cada cena. A do casal, só de All Star, foi tudo! Por favor, não demore em postar a continuação. Não sei porque, mas algo me diz que essa história termina em ménage!

Uahahahahaaaaaa!!!

E eu sei do corre-corre da vida, mas, um pedido... Não suma! Você faz muita falta...

Abração! E acertou em cheio! A história é mesmo a minha cara!

Uahahhahaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!

ex-amnésico disse...

Convicções... elas sempre nos derrubam!

Eu é que estou em dívida aqui. E, pelo jeito, ainda vou ficar por um bom tempo.

Bom, quem perde sou eu!

Abraço mnemônico!

Arlan Souza disse...

Cara, logo no inicio eu pensei se trratr de fatos reais.
Muito bom, um retrado falado, um tanto obstrato da vida real.

Bruno Silva disse...

"Imoral é pouco!" foi o meu primeiro pensamento, porém depois das palavras do rapaz, estremeci. Tinha algo de decente em sua analise. E boa verdade.

Gostei do conto. E já tava querendo comentar sobre a circunstância, com juizo de valor e tudo, mas não irei divagar.

Vou ler a continuação.

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