quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Um Preço da Sinceridade


Quase todas as pessoas se dizem sinceras.

Dessas, uma boa parte fala tudo que pensa, mas sem pensar.

Exemplos é que não faltam no nosso dia-a-dia. Seja em casa, no café da manhã, alguém olha para você e diz “Que cara é essa? Que cabelo é esse? Que olhos remelentos são esses?”, passando pelo trabalho “Fulana se faz de santinha mas não passa de uma vagabunda”, até a hora de voltar para a cama “Meu dia hoje? Cheio de gente estúpida e que pergunta demais, como em todos os outros!”.

Muitas pessoas acham que serão elas mesmas se passarem o tempo todo disparando pelos cantos os defeitos das pessoas e situações que não as agradou. É bom por um lado, pois a sinceridade não nos deixa acumular rancores e dizeres engasgados na garganta, que com o tempo, vão se tornando o peso de uma caixa d’água.


Mas, tem o outro lado. Se você que considera uma pessoa que fala o que pensa, tenho certeza que já magoou alguém com seus dizeres, muitas vezes sem querer. E com certeza, em algum momento, já fora duramente crucificado por uma opinião sua. Pode até não ter se arrependido de nada do que falara, mas com certeza, você já pagou um preço alto por ter falado.

Se formos ver na História, muitas pessoas já morreram por falar aquilo que pensavam, seja nos tempos da Inquisição, seja nos tempos da ditadura militar.

Vivemos num mundo que a todo momento parece nos provocar e testar a nossa paciência, porém isso não é desculpa para alguns se acharem no direito de vomitar seus raios na cara de quem quer que seja, ainda mais se não tiver certeza da sua razão. Falar a verdade não é errado, errado é a forma ou o momento em que é escolhido para falar.


Fora que, na maioria dos casos, uma pessoa que se acha preparada para falar nunca estará preparada para ouvir. Ainda mais se o assunto for o seu próprio umbigo...


Danilo Moreira

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domingo, 13 de dezembro de 2009

Imoralidades - Parte Final


Narrador fictício.

- Tudo bem, senhor. – disse o rapaz.

– Vou fingir que acredito no seu papo. Mas fique tranqüilo que nós não queremos nos exibir, afinal, estamos só nós dois aqui apenas curtindo o momento. Não queremos público, assim como também não seríamos públicos de ninguém que fizesse o mesmo.


- Vocês podem ser presos por atentado ao pudor, sabiam? Ou acham que estão em Amsterdan?

- Não não, eu sei. Mas logo aqui, desde quando há seguranças? Reconheço que estamos agindo contra a lei, mas eu não ligo. Se seguirmos tudo que a lei nos manda, não vivemos, pois seríamos os únicos a seguir essas leis. Entende: seguindo as leis, mas nos sentindo mal.

- Espere garoto, não é assim que as coisas funcionam. Se a maioria não segue as leis, vocês têm que segui-las, caso contrário, não terão personalidade, serão verdadeiros maria-vai-com-as-outras.

- Não. – respondeu ele, sorrindo. – Pois se essas leis de pudor não sigo, o faço em prol dos meus desejos sexuais. Não pago impostos para ver o Governo controlando os meus desejos sexuais. Isso é algo muito particular, que ninguém deve se meter, entendeu? Mas tudo bem, eu peço desculpas se lhe provoquei constrangimento. Sou bom rapaz e a minha namorada também. A gente estuda, trabalha, ajuda quem precisa, não mexe nem cobiça nada de ninguém, até as minhas camisinhas eu compro com meu dinheiro ao invés de pegar de graça para o governo, deixando para quem não pode comprá-las. Não usamos drogas, nunca tivemos passagem pela polícia, defendemos a paz, a natureza, enfim, o senhor me vê e percebe que tenho educação e utilizo muito bem a língua portuguesa. Não há razão para ter vergonha de mim, nem dos meus genitais, e nem os da minha namorada. Deixe-nos viver a nossa vida de acordo com o que acreditamos, que o senhor pode ter certeza de que seremos pessoas mais felizes.

- Mas... vocês não acham que estão desrespeitando aquilo que eu acredito, a minha noção de moral?

- De fato, reconheço, estamos, mas não chamamos o senhor aqui. O senhor é que nos viu transando e veio de livre e espontânea vontade nos repreender, nos mostrando aquilo que o senhor acha certo. Nós poderíamos ter pegado as nossas roupas e fugido como animais, ou reagido com agressividade já que não tem mais ninguém aqui. Mas, não, como disse, eu sou do bem, e respeito a sua opinião. Só estou expondo e pedindo que respeite a nossa.

- E não queremos também ser exemplo de moral pra ninguém. – disse a garota. – Mas caso o senhor queira levar alguma lição daqui, pelo menos, pense que nós preferimos ser assim do que ser hipócritas moralistas, a fazer coisas imorais debaixo dos panos e de máscaras, sem paz de espírito, devendo à nossa própria consciência.


Não consegui mais falar. Achei que aquela conversa duraria tempo demais, e eu já estava atrasado para ir trabalhar.


- Bem... se é assim, façam o que achar melhor, mas lembrem-se: toda felicidade tem um preço, e de uma forma ou de outra, a gente tem que pagar. Boa sorte à vocês.


- Muito obrigado! E tenha um excelente dia! – respondeu o garoto, sorridente.


Deixei-os com sorrisos nos rostos, enquanto eu caminhava meio avoado. O casal voltou a transar, ali mesmo, pouco se importando com algumas pessoas que passavam e viam a cena, horrorizadas.
Ainda sim não concordava com aquilo. Eu que já tinha as minhas convicções morais não precisava me chocar com as deles. Mas de fato, uma coisa tenho que reconhecer. Eles foram sinceros comigo. Poderiam ter me agredido, fugido como dois ratos, ou inventado alguma desculpa esfarrapada pra dizer que não era nada daquilo que eu estava vendo, sendo hipócritas. Mas não, simpaticamente, o rapaz me explicou por que estavam ali, desprendido de preconceitos, pudor, e demonstrando ter uma leveza na consciência que me fez refletir se a minha conduta em ter escondido a eles os meus podres da adolescência teria sido certo.

Mas, de qualquer forma, independente do que será minha vida daqui pra frente, valeu pela reflexão.


Danilo Moreira

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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Imoralidades - Parte 2


Conto com três partes. Narrador fictício.

- E isso que você e sua namorada estão fazendo aqui também não deixa de ser desrespeito tanto quanto os exemplos que você acabou de me dar?

- Claro que não. – respondeu ele, taxativo. – Todos nós somos seres civilizados, porém, antes disso, somos animais com instintos sendo controlados a todo custo. Instintos que são necessários, com por exemplo, para que o senhor encontre o seu amor, faça sua família, ou simplesmente, para curtir a sua vida.

Resolvi sentar na grama, pois não conseguia esconder a minha pasmaceira (misturado com curiosidade) sobre a teoria que aquele jovem estava praticamente me dizendo. Simpaticamente, ele também sentou, colocando sua namorada no colo. Ela preferiu que ele abrisse as pernas e ela ficasse sentada entre elas, o que me causou um certo incômodo ao olhar.

Enquanto a abraçava, o rapaz continuou:

- Veja bem: a sociedade é hipócrita ao ter vergonha dos seus instintos. Quantas tragédias poderiam ter sido evitadas se as pessoas apenas tivessem mais liberdade em fazer aquilo que seus corpos realmente estavam querendo? Estou falando de vidas infelizes, meu senhor. Gente que enlouquece ou se mata pelos julgamentos da moralidade, enquanto os moralistas provocavam atitudes imorais. Todos nós viemos do sexo. Todos nós vivemos para o sexo! Todos nós só continuaremos nossas gerações através do sexo! Então, por quê a vergonha disso?

- Você está confundindo as coisas. – interferi. – O ser humano não pode só viver de instintos, senão o mundo seria o caos. Tem que haver uma regra moral, algo que mantenha a ordem. Eu até te entendo, mas não concordo. Ser hipócrita é uma coisa, ser escancaradamente imoral é outra. Nós não precisamos de gente de instintos soltos por aí como animais selvagens ávidos pelos genitais de seus machos ou fêmeas, precisamos sim é de pessoas civilizadas, cidadãs, que respeitem a todos e pelo menos respeitem a moral de uma sociedade, mesmo que falsa.

- E isso não é ser hipócrita, meu senhor? Sou jovem, sinto tesão pela minha namorada. Meu corpo pede o corpo dela. Se não obedeço ao meu corpo, se eu me entrego à minha rotina e deixo de satisfazer os meus desejos, ele com certeza vai reclamar, vai afetar o meu humor, a minha saúde, a minha vida social, e até o meu relacionamento. Isso tudo, é claro, com o tempo. Por que não fazer amor onde bem entendo? Na praça, na rua, na escada de algum prédio, no carro, qual o problema se não estou fazendo mal a ninguém? Duvido que o senhor já não teve essa vontade, isso se já não o fez...

- Bem...

Lembrei-me na adolescência, foi até na época da liberação sexual, do movimento hippie, do naturismo, onde peguei uma vizinha e fizemos amor na escada do prédio dela. Houve também uma vez em que eu ficara com uma garota na calçada da minha casa mas para disfarçar, fizemos encostados a um carro estacionado. Não ia contar aquilo ao garoto, pois, apesar de tudo, era diferente. Ambos foram à noite, com extrema preocupação de alguém pegar...

- Eu não. – respondi. – Nunca tive esses desejos libertinos. Sexo pra mim só entre quatro paredes. Não preciso ficar me exibindo como vocês.

A menina me fitou de cima a baixo. Parecia não ter acreditado no que eu havia dito.

continua...


Danilo Moreira


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domingo, 6 de dezembro de 2009

Imoralidades - Parte 1


Conto com três partes. Narrador fictício.

Engraçado como nós, pessoas com nossas ideologias e conflitos, nos deparamos por aí com cada coisa...

Estava eu indo trabalhar de terno e gravata, cabelos grisalhos alinhados com gel para trás, pasta recheada de papéis e um sorriso no rosto, quando olhei para o céu azul daquele começo de tarde. Lindo dia. Se pudesse, pararia por algumas horas, encostaria em algum banco de praça, tiraria meus sapatos de couro italiano, e esticaria os meus pés. Como não podia fazer nada disso, pelo menos, eu procurava ser um homem mais observador das coisas bonitas. Paisagens, monumentos, pássaros, pessoas, crianças... E uma praça. Era uma linda e enorme praça, cheia de grama, flores em muito verde. Ali não era uma região muito movimentada mas se via alguns moradores sentados nos bancos. Eu gostava de passar por ali, pois além da oportunidade de observar e respirar aquele ar puro, eu já poderia cortar um bom caminho até meu trabalho.

E resolvi naquele dia passar por ali, observando aquele belo quadro natural.

Mas, naquele dia, meus olhos levariam um choque ao se virar para perto de um monumento. Dois malucos, não sei se essa era a palavra certa. Eram dois malucos! Um casal de jovens, o rapaz, de cabelo desgrenhado e arrepiado para cima, de camiseta branca, calça jeans azul claro e um All Star vermelho. A menina, com um corte moderno, repicado, cabelos pretos, com uma blusinha estampada pink e uma minissaia jeans rasgada, e um All Star preto de cano alto, de couro. Apoiados no monumento, estavam em extremos amassos. Pareciam estar entre quatro paredes, e a grama seria a cama.

Mas isso não era tudo. Não satisfeito com os amassos, o garoto arrancou sua camiseta, abriu o zíper da calça. A menina também ficou seminua. Sim, iriam fazer amor ali mesmo, na praça, na frente de quem quisesse ver, em pleno começo de tarde. Por sorte não havia crianças ali, e poucas pessoas nesse momento passavam.

Fiquei indignado. O casal já tocava-se freneticamente, entre beijos e lambidas por todos os cantos. Quando começaram o ato, não agüentei, e fui até lá para tentar entender o que se passava na cabeça deles. Já estavam só de tênis quando fui lá repreendê-los.

- Ei, vocês dois, mas o que é isso? Que falta de educação é essa? Aqui agora é motel público?

O casal parou em seguida, e o rapaz ficou de pé, de olhando. Abriu um sorriso natural.

- Opa! Olá, tudo bem com o senhor?

- Tudo nada! – respondi. – Vocês não acham que uma praça não é lugar para ficaram transando, no meio de tudo mundo e ainda nessa hora da tarde?

A menina também ficou de pé. Porém, nem ele, nem ela, se preocuparam em se vestir. Permaneceram nus, só de tênis, ali, na minha frente.

- Bem... – respondeu o jovem. – determinar a finalidade dos lugares é relativo, senhor. O Congresso foi constituído para que os políticos discutam as leis para a nossa nação, e no entanto, já fora palco de verdadeiras vergonhas para o nosso país. A igreja foi construída para que os fiéis católicos fizessem as suas missas em louvor à Deus. E já não vimos falar até de casos de pedofilia com padres? Praticamente em qualquer ambiente de trabalho que o senhor for, encontrará com certeza algum caso de relação amorosa entre empregados, ou patrões. Agora, se amo minha namorada, não mexi e nem quero mexer com crianças, não roubo, não mato, não me envolvo com ninguém do meu trabalho, por que não posso fazer amor com minha namorada numa praça tão tranqüila como essa?

Franzi as sobrancelhas. Aquele rapaz era louco? O que tinha a ver Congresso, a Igreja, com a sua imoralidade na praça? Tudo bem que corrupção no Congresso, pedofilia na Igreja, relações sexuais no trabalho, também são coisas medonhas e vergonhosas, mas isso justificaria aquela cena em público?

Depois de ouvir isso, senti que eu e aquele casal teríamos muito para conversar... Porém, eu com meus cinqüenta anos e minha experiência de vida, jamais imaginei o rumo que tomaria aquela conversa...


continua...

Danilo Moreira

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domingo, 22 de novembro de 2009

Eu só quero respirar!


No mundo moderno as coisas acontecem múltiplas tão rápido que não informações podemos respirar!

Me lembro caminhando pela rua apressado com a mente pesada e os compromissos apertando o meu saco e me fazendo suar de calor com o sol escaldante que apalpava a minha pele junto com o ar da poluição que saia dos escapamentos dos carros que passavam por mim. Olhei no relógio e as horas voavam mais rápido que meu relógio biológico poderia acompanhar. Corri até o ônibus que me fez enlouquecer pela sua llllllllllerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrdeeeeeeeeeeeeeeeezza! Porra de coisas que só aparecem para estorvar a minha vida! Desci do ônibus fui até o trabalho mexi nos papeis mexi com o micro mexi com a secretária mexi com o quadro do Van Gogh na parede ao lado do banheiro fui comer depressa voltei aos meus afazeres a hora passou e eu finalmente...

Pude respirar!

Saí do trabalho afobado com suor descendo no corpo correndo junto com os outros com meu desespero pois meus pés estavam atrás e nunca conseguia alcançar. No caminho de casa mendigos casas postes árvores árvores beijos cães fios postes carros ônibus táxis motos mulheres tesão insetos poeira céu sol Coca-Cola peitos bundas tênis roupas músicas Coca-Cola cigarros flores bebes Mc Donalds asfalto gritos risos Habib’s cores cheiros mãos pernas braços ombros Branco do Brasil o tempo todo com você barulho livro...
E eu dormi!

Levantei-me desci e corri até em casa tirei os tênis tomei banho engoli qualquer coisa liguei a Tv mudei de canal desliguei a TV fui para meu quarto me arrumar sai para a rua fui para a balada conheci Patrícia beijei Eliana peguei Roberta beijei Silmara apertei Luciana bebi com Carol dancei com Luana dancei com Eva dancei com Sofia dancei com Cátia beijei Cátia amassei Cátia me excitei com Cátia bebi com Cátia sai com Cátia entrei num motel com Cátia transei com Cátia gozei com Cátia dormi com Cátia...

E não me lembro de mais nada.

Acordei só e voltei pra casa não lembrando de nada do que fizeram ontem o que eu era com quem ficara com quem beijara o que tinha para fazer mas engraçado que não consigo parar de andar não fico no mesmo lugar não faço uma coisa só meu corpo parece que vai desmontar eu preciso respirar tirar esse peso das minhas costas não consigo escrever certo não consigo pontuar não consigo me expressar não consigo falar quanta coisa pra pensar meu Deus quanta coisa pra entregar eu só quero respirar eu só quero parar eu só quero que pare o movimento eu preciso respirar muita coisa pra lembrar o tempo passa passa passa e passa e por um segundo meu mundo acumulado de informações tempo e velocidade resolve se jogar no chão.

E parar.
Parar...
Parar.

Minha respiração, por fim, voltei a sentir. Agora sim, pelo menos por alguns segundos, me sinto uma pessoa de carne e osso.

Era só para respirar...
Só para respirar

Respirar...


Danilo Moreira

Desculpem a demora, é porque de fato ando sem tempo para respirar...rs

Bom fim de semana!!

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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Águas Calmas


Tive a chance de navegar em águas calmas.
Deitei-me no chão e passei a observar todas as coisas.
Senti o meu coração batendo. Senti o ar que respiro.
Estiquei as pernas e deixei-me flutuar na brisa dos meus pensamentos.
Quero sentir-me voando como o vento.
Poder mexer-me pelo mundo conforme eu quiser.
Refrescar os outros rostos suados do calor escaldante e cruel.
Fazer algo em prol da bandeira dos meus sonhos.
E sempre, quando precisar, saber abrir os braços.
Sei que essas águas calmas tem um prazo.
Pois mesmo que eu volte a navegar pelo oceano selvagem e tempestivo.
Desejo que essas águas calmas estejam sempre a forrar a minha alma.

Dentro de mim...

Danilo Moreira

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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Alá no Gueto

“Cinco vezes ao dia, os olhos ultrapassam o concreto de ruas irregulares, carentes de esgoto e de cidadania, e buscam Meca, no outro lado do mundo. É longe e, para a maioria dos brasileiros, exótico. Para homens como Honerê, Malik e Sharif, é o mais perto que conseguiram chegar de si mesmos. Eles já foram Carlos, Paulo e Ridson. Converteram-se ao islã e forjaram uma nova identidade. São pobres, são negros e, agora, são muçulmanos. Quando buscam o coração islâmico do mundo com a mente, acreditam que o Alcorão é a resposta para o que definem como um projeto de extermínio da juventude afro-brasileira: nas mãos da polícia, na guerra do tráfico, na falta de acesso à educação e à saúde. Homens como eles têm divulgado o islã nas periferias do país, especialmente em São Paulo, como instrumento de transformação política. E preparam-se para levar a mensagem do profeta Maomé aos presos nas cadeias. Ao cravar a bandeira do islã no alto da laje, vislumbram um estado muçulmano no horizonte do Brasil. E, ao explicar sua escolha, repetem uma frase com o queixo contraído e o orgulho no olhar: ‘Um muçulmano só baixa a cabeça para Alá – e para mais ninguém’.”

Fonte: site Revista Época


É por isso que eu sou da opinião de que você deve pensar duas vezes antes de jogar algo fora, pois no futuro, isso pode lhe ser útil. Se você for blogueiro então, aí sim é que eu te recomendo este conselho.

Estava eu hoje a arrumar a minha cama, quando ao olhar para um amontoado de revistas, encontro uma Època de fevereiro desse ano, que eu tinha ganhado de brinde daqueles promotores de vendas. Dentre as várias chamadas, uma em tamanho minúsculo me chamou a atenção. Falava de um fenômeno que estava ocorrendo principalmente na periferia de São Paulo.

Ao abrir na matéria, vejo um rapaz bem típico da periferia, com pose e gestos de “mano”, adepto da cultura hip hop, mas com aquele chapéu e a barba que os mulçumanos usam. Seu antigo nome era Carlos Soares Correia, mas após se converter ao islã, passou a se chamar Honerê Al-Amin Oaqd. Hip hop e religião muçulmana... que mistura!

A matéria é extensa. Mostra que a origem dessa identificação dos negros brasi-leiros atuais com o islã remonta um evento pouco retratado nos livros de história, que foi a revolta dos malês (malês significa muçulmano na língua iorubá) na Salvador de 1835, que foi a revolta de escravos urbanos mais importante da história brasileira. Aliado a isso, veio a história de Malcom X (ativista americano), retratado principalmente no filme de Spike Lee em 1992, e principalmente, após do 11 de setembro, que levou muitas pessoas a conhecerem o islamismo.

Segundo alguns entrevistados, é uma forma de recuperar uma identidade reprimida pela escravidão ou ter uma identidade da qual possam se orgulhar. Um dos entrevistados, Ridson Mariano da Paixão, de 25 anos, justifica também essa conversão pelo fato de que outras religiões, como a católica, pregam uma pacificidade que não caberia à sua realidade. Conforme ele diz, “me incomodava aquela história de Cristo perdoar tudo. Eu já tinha apanhado de polícia pra cacete. E sempre pensava em polícia, porque o tapa na cara é literal. Então, o dia em que tiver uma necessidade de conflito, vou ter de virar o outro lado da cara?”. Ele afirma que não possui esse espírito pacifico e que se identifica mais com Malcom X, que descobre que no islã nos temos o direito de nos defender.

Na verdade esse movimento existe há mais de trinta anos, surgida nas mãos de pioneiros, como por exemplo, seu Malma, que fundou a Mesquita Muçulmana Afro-Brasileira em 1974, ou como a Dona Ilma, que nasceu em um quilombo e é convertida há mais de vinte anos. Mas nem todos dessas gerações mais antigas são favoráveis a essa mistura de hip hop e o islã, como a própria Dona Ilma diz na matéria: “O islã sempre trouxe cidadania para as minorias. E as periferias são as senzalas de hoje. Mas as novas gerações têm muito punho ainda, tenho medo que acabem sendo segregacionistas”, e que “Não precisamos mais de um discurso de raça, precisamos de cidadania. Acredito, porém, que é um ritual de passagem. Quando me converti, também era muito radical. Vamos deixar eles gritarem um pouco.”

Confesso que entendo muito pouco dessas religiões do mundo árabe, mas me chama a atenção essa necessidade de identificação dessa parcela da periferia e da forma rápida como ela está se propagando pelos quatro cantos do Brasil. Quem lê a matéria à principio pode pensar que esse movimento é algo fechado apenas aos negros, mas não, na própria matéria, vários lideres e pessoas convertidas deixam bem claro que é algo aberto para qualquer pessoa. Ou então, que estamos “criando novos Bin Ladens”, conforme eu vi depois no site, em vários comentários arrogantes e até preconceituosos.

Não. Apesar de eu ter minhas criticas em relação à luta racial e a religião (mas isso é assunto pra outras postagens), e não concordar tanto com certos pensamentos que na minha opinião podem vir a criar deturpações justificando o uso da violência ainda que como defesa (que no fim das contas sempre gera mais violência) percebi que a intenção na verdade é a de buscar uma identidade cultural e um conforto espiritual que os ajude a combater a desigualdade racial que os acompanha todos os dias, desde que nasce-ram, e que infelizmente ainda continua a produzir os machucados dentro da nossa sociedade.

E você, o que acha dessa mistura entre cultura da periferia e o islã?

A matéria completa você vê aqui, no site da revista Época:

Ou, algo mais resumido, aqui, no site do Estadão:

Bom resto de feriado a todos!

Danilo Moreira


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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Vany


Me lembro daquela casa cheia, todos na cozinha, conversas altas, gargalhadas, enquanto passava o Domingão do Faustão naquela velha televisão preto e branco.

Eu, uma criança pequena, curiosa, e senhora, já adulta, baixinha, gordinha, de personalidade forte. Me lembro do seu tom de voz agudo, bonito, bem feminino. Me lembro das suas gargalhadas.

Me lembro das histórias que me contava da sua juventude. Me lembro de ouvir os lugares que a senhora frequentava no Santa Cruz e na Vila Mariana antes do metrô (e na sua opinião, me lembro, os bairros nunca mais foram os mesmos depois da chegada dele.)

Me lembro das histórias da fábrica de chocolates onde a senhora trabalhava, quando subiu de setor, dos chocolates que sempre me trazia. A mim, aos vizinhos, a todos. Me lembro do seu coração de mãe, mesmo nunca tendo tido filhos, e me tratava como um filho seu. Tratava a mim, às meninas da vizinha, aos seus sobrinhos da vila Mariana, os meus irmãos, o seu irmão de criação surdo e mudo. E cuidava mesmo! Dava broncas, conselhos amorosos, puxões de orelha, falava mesmo, ou então, nos botava para cima, fazendo a gente rir mesmo quando a gente estava murcho. Me lembro do seu sorriso quase presente em todas as fotos que tirava. Me lembro do seu coração enorme, não hesitando em ajudar quem precisava, e quem a senhora amava. Me lembro da sua teimosia, e que teimosia!

Me lembro que a senhora estava em todas. E me levava para todas. Estava em todas também aqui em casa, no Natal, Ano Novo. E quando viajávamos para a praia? Não saia da água, assim como eu. Quando íamos para a igreja, do tempo em que eu a freqüentava direto. A senhora não tinha vergonha da sua fé. Cantarolava as músicas bem alto, com uma certa afinação, com tanata devoção, a fé realmente sempre te acompanhou.

Me lembro nos finais de tarde daquele cafezinho que, mesmo eu precisando ir embora, a senhora fazia questão que eu tomasse. Um café com leite e pão. Me fazia companhia. Eu também por muitas vezes te fiz companhia. Até, em certos momentos, mesmo tão inexperiente da vida, fui por acaso o ouvido que precisava para lhe escutar.

Me lembro dos seus problemas de saúde. Dos problemas causados pelo seu trabalho na fábrica. Me lembro do dia em que, já almejando a sua aposentadoria por tempo de serviço, uma supervisora acabou distanciando o seu sonho... e graças a isso, ao meu ver, sua vida nunca mais foi a mesma...

Me lembro da sua correria para se aposentar. Das ilusões com advogados, com as horas de espera, com as dores e as raivas que passou no INSS. Até que veio aquele dia... um médico maldito e antiético, que a fez ficar tão nervosa, mas tão nervosa e desesperançosa, que acabou abalando a sua mente...

Me lembro dos dias em que te via muda. Me lembro do tormento que era te ver muda. Me lembro do sofrimento que foi vê-la imóvel, depressiva. Me lembro da recuperação, do primeiro surto (causado por certas pessoas de quem a senhora acabou confiando demais).

Me lembro da sua recuperação, das minhas paranóias, do meu medo em não saber lidar com a sua situação, mesmo eu já adulto. Me lembro da sua felicidade, após quase 8 anos, conseguir finalmente a sua aposentadoria.

E principalmente, me lembro de seu último surto. Um surto tão grave, que também quase me fez surtar... a mim e principalmente à minha mãe, que passou a cuidar da senhora. Me lembro da dor que era te ver naquele estado, e da dor que foi de ter chegado ao ponto de ter que interná-la numa clínica. Me lembro do alivio que foi encontrar uma, e da certeza de que dessa vez a senhora conseguiria se recuperar da depressão...

E por fim, me lembro daquela noite, em que chegando do trabalho, recebi a noticia que menos esperava receber naquele dia, e que até hoje tento aceitar da forma como foi. Seu coração subitamente parara de funcionar. Sua mente, tão atormentada por alucinações e lembranças, teve um descanso eterno.

A senhora descansou.


Agora, me pergunto, por que é tão difícil lidar com perdas? Por que nós seres humanos nos acostumamos tanto com a vida, que em certos momentos, ela nos taca na cara sem dó nem piedade que além dela, existe a morte?

Hoje, sigo minha vida. Estou fazendo a minha faculdade, que como a senhora sabia, eu queria tanto fazer. Já sonhei como teriam sido as coisas se a senhora tivesse voltado daquela clínica. Sonhei com momentos antes da clínica. Sonhei com momentos no dia em que deixara a clínica para se juntar aos anjos... e derramei lágrimas... lágrimas de dor... uma dor tão forte, que lentamente, vai se cicatrizando, ainda que a marca do machucado, tenho certeza, ficará para sempre em mim.

Hoje faz um ano que partiu. Como estará? Onde estará? Não importa. Tenho certeza de que muito melhor do que eu, do que todo mundo neste mundo. Só peço pra continuar intercedendo por mim, pela nossa família, por todos que a amaram e até hoje não se esquecem do seu sorriso. Seu cãozinho está velho, triste, mas ainda resiste até o dia em que Deus quiser. Seu irmão de criação, surdo e mudo, agora mora sozinho na casa, que agora está silenciosa, ainda com a sua marca, ainda com a sua lembrança, mas fique tranqüila, que ele está aos cuidados da minha mãe, que também é irmã dele, e agora, se tornou a sua mãe.

Ainda sinto a sua falta. Ainda sentirei a sua falta. Todos nós sentiremos a sua falta. Sei que um dia todos nós vamos nos reencontrar. Até lá, fique com Deus, e obrigado por existir, seja em presença, seja através do seu exemplo...

E pode ter a certeza, que seu espaço no meu coração estará sempre reservado, com tamanho carinho que a senhora sempre me proporcionou, mesmo nos momentos em que sua mente não a acompanhava mais...

Fique em paz...

de seu sobrinho.

Danilo Moreira


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FOTO: Acervo pessoal

domingo, 20 de setembro de 2009

O Gosto do Rancor


Quem já provou o gosto do veneno do rancor
Sabe que seu gosto é tão ruim
Que cuspirá na cara do causador

Mesmo que ele seja seu espelho
E acabe voltando para dentro de você.



Danilo Moreira


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domingo, 13 de setembro de 2009

Uma Corda no meu Caminho


Nunca tinha reparado naquele caminho.

Marcelinho achou estranho. Estava cheia de árvores em volta. Parecia a entrada de um parque. Resolveu chegar mais perto para ver melhor. Havia uma corda na entrada. Estava fechando a passagem. Pelo jeito, não era para entrar ali.

Ficou curioso para saber o que havia além daquela corda.

Olhou para os lados. Não tinha ninguém à vista. Se passasse por cima ou por baixo, não haveria problema algum. Optou por passar por baixo.

Agachou-se. Deu mais uma conferida para ver se não havia ninguém por perto. Com cuidado para não se machucar nas pedras, foi se arrastando para debaixo da corda grossa.

Mas, de repente, sentiu algo estranho dentro de si. Voltou. Olhou bem a corda grossa que fechava a entrada de um lado a outro. Por que aquela corda estava ali?

Marcelinho se sentiu incomodado, como se aquela corda fosse um daqueles meninos folgados da escola a lhe peitar. Um desaforo. Aquela corda encarnara-se num desaforo aos seus olhos. Tinha curiosidade em saber o que havia lá dentro, e aquela corda era o empecilho, o obstáculo. Um obstáculo que teria que ser tirado.

Resolveu então forçá-la com seus braços. Tudo bem que para um garoto de dez anos soltar aquela corda com a simples força dos braços poderia ser algo quase impossível, mas o garoto acreditava na sua força ainda em crescimento. E empurrou. A corda estava presa em duas toras de ferro fincadas no chão. Marcelinho começou a pôr mãos força, à medida que a corda ia sendo prensada para frente.

E nisso, ficou, no mesmo estado.

Marcelinho parou. Cansaço. Não foi uma boa idéia. Olhou para as mãos. Estavam vermelhas de marcadas pela força que havia usado.

E então, cheio de ego, encarou novamente a corda. Teve a idéia de tentar rompe-la com os pés. Com o pé direto, forçou a corda. Da mesma forma que na primeira tentativa, a corda prensou-se para frente.

E a corda ficou no mesmo estado.

Começou a chutá-la, na esperança de com a sua força e velocidade unidas, a corda por fim seria rompida. Não deu certo.

Teve outra idéia. Já que a corda era forte no meio, e se ele fosse nas pontas tentar desamarrá-la? E foi o que ele fez. Na ponta direita, tentou desamarrar o os nós que estavam ali fincados na tora. E estava duro. O cara que havia feito aquilo devia ser um brutamontes com muita força nos braços. E com as unhas, o garoto tentou desamarrar os nós. Não conseguiu. Foi para o lado esquerdo. Também não conseguiu.

Eram nós muito bem feitos.

E então, Marcelinho, cansado, resolveu por um momento sentar no chão para tomar fôlego. Percebeu que com as mãos não conseguiria romper aquela maldita corda. Precisava de uma ferramenta. Teve uma idéia. Foi até em casa, e escondido dos pais, pegou uma faca de cozinha. Voltou até o local da corda. Sem pensar duas vezes, começou a cortá-la. E forçou, forçou, forçou... aos seus olhos nem o primeiro fio havia sido cortado. Aquela corda era forte mesmo.

O sangue subiu à sua cabeça. Não era possível que mesmo depois de tantos esforços, não conseguiria tirar aquela corda do seu caminho.

E, num ataque de fúria, tentou novamente cortá-la, dessa vez esfregando a faca com toda força que podia. Tanta força que ela acabou escorregando, indo parar diretamente no seu dedo. Olhou sua mão. Por sorte, fora apenas um pequeno corte. Chupou o sangue. Virou-se para a corda, e com todo o ódio do mundo, xingou-a com vários palavrões. Descontrolou-se, e começou a chutá-la. Numa dessas, escorregou e caiu sentado no chão. Bufou. Não tinha jeito. Aquela corda ficaria naquele lugar, e não sairia da sua frente.

Marcelinho sentiu-se frustrado consigo mesmo, um incapaz, um nada. As únicas coisas que conseguiu foram um machucado no dedo, e um tombo. Mais nada. Ego ferido.

E de repente, do outro lado da rua, eis que surge Manoel, amigo de Marcelinho, um dos garotos mais bobos e mais zombados da escola.

- Nossa, o que é isso? – surpreendeu-se o garoto ao ver aquele caminho misterioso. –

Vamos lá, cara! O que você tá fazendo aí parado no chão feito um bobo?

E assobiando, passou tranqüilamente por debaixo da corda, coisa de apenas um segundo.

Marcelinho olhou aquela cena, e ficou pasmo. Por um momento, o objetivo de cortar a corda, de tirá-la do seu caminho, o regou tanto que ele se esqueceu de que simplesmente, era só passar por baixo dela. E o problema estaria resolvido.

Era, simplesmente, culpa do seu ego.

Danilo Moreira


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domingo, 6 de setembro de 2009

2.4


Ontem foi meu aniversário.


Abri os olhos e logo me toquei de como o tempo havia passado. Lembrei-me de alguns presentes que eu havia ganhado, e alguns deles já tinham mais de 10, como um Master System 3, que felizmente ainda funciona, e um minigame que ganhei quando tinha 7 anos...


Me lembrei também de certas coisas que ocorreram desde meu niver passado até hoje. Estava me sentindo estranho naquele dia. Pressentimento? Talvez. Dias depois vieram fases difíceis, a ponto de me fazer encerrar até mesmo o meu antigo blog, já que até com ele eu não estava mais me dando bem. Dores, perdas, problemas sérios na família, gente se que foi de uma hora pra outra, são coisas que vieram para fazer o ser humano ficar mais forte, mesmo que com traumas e dores constantes. A dor da perda foi e continua sendo muito forte, já que perdi certas pessoas queridas, algumas de maneira que até hoje não consigo aceitar, ainda que entenda. Vi amizades vindo e indo embora. Pessoas que faziam parte de mim mas que hoje apenas fazem parte da minha história. Me senti tão estagnado que no começo desse ano resolvi virar o jogo e me renovar. Resultado: estou fazendo faculdade, voltei com um novo blog, resolvi correr atrás dos meus sonhos, ganhei novos amigos, crieo novos valores, novos conceitos, aprendi a ter novas visões, me sinto de braços mais abertos para coisas novas. Me sinto de fato aprendendo coisas novas.


Ainda continuo nostálgico, pois acredito que o ser humano é sempre feito de passado, cujo presente acaba sendo usado para montar as bases do futuro. Desejo o futuro. Quero o futuro. Essa talvez é a melhor diferença que senti. Foi um período em que muitas vezes ainda ponho a cabeça no travesseiro e ainda sonho com certas passagens que, poderia dizer assim, me marcaram mais, porém, me sinto mais motivado e receptivo, e penso que mesmo ainda não aceitando todas as coisas que aconteceram a mim e a pessoas que eu amo, foi para o meu bem, e talvez, para o bem delas.

Hoje me senti um pouco mais retraído, com vontade de ficar em casa, mais reflexivo, apesar de ter saído á tarde. Mas diferente do ano passado, me sinto mais tranqüilo, um pouco mais em paz comigo mesmo. Ás vezes até essa coisa de ficar mais reflexivo enjoa. Não quero dessa vez pensar tanto em mim como eu era, como eu sou, como eu serei, etc, apenas quero agradecer por ter chegado até aqui, com as pessoas que gosto, com a cabeça que tenho, e com esse desejo renovado de sempre buscar coisas novas.



Danilo Moreira

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A última vez que eu disse "por favor" e "obrigado"

O Ponto Três está de volta (e a minha internet também...uhuuu!!!rsrs). Aprecie, refleita, e divirta-se com o texto abaixo, tema de um trabalho que eu fiz na faculdade. Boa leitura!


Veja só como as coisas são engraçadas.


Estava eu caminhando pela rua, quando de repente de meu um estalo. Resolvi passar numa banca e comprar um jornal. Escolhi o primeiro que tinha visto.


Como ainda faltava muito para iniciar o meu expediente, sentei num banco de uma praça que ficava em frente ao meu trabalho.


Abri o jornal, lendo as notícias em destaque.


Mas, ao virar para a página 12, me deparei com um anúncio curioso. Era um concurso de uma famosa loja de eletrodomésticos, cujo prêmio seria um pacote de viagens pela Europa. Bastava responder a uma simples pergunta: “Qual foi a última vez que você disse por favor e obrigado?”. A melhor história ganharia o prêmio.


“A última vez que eu disse por favor e obrigado?”


Curioso, no mínimo. Fazer as pessoas refletirem sobre a sua educação. Eu particularmente recebi educação de casa, onde meus pais praticamente me mandavam usar estas palavras com os olhos mirando a mim quase como metralhadoras prontas a atirar na primeira reação subversiva minha.


Fui crescendo, e não sei, parece que com o passar da “era dos olhos paternos”, passou também o meu bom senso, e houve até momentos em que eu me recusava a pronunciá-las, algo como “se aquilo fosse algo a atrapalhar o meu tempo, já tão escasso”.


Última vez... última vez no ônibus? Não me lembro de ter dito um port favor ao pedir informações ao motorista e nem obrigado ao descer do ônibus. Não falei mesmo? Não... não falei. Puxa, o homem tinha sido tão cortes comigo... Bem, já foi.


Deixe-me ver... ontem no trabalho havia pedido um favor para um garoto estagiário deixar alguns papéis na mesa do diretor. Falei “por favor”? Hum... não. Só falei “Põe esse papéis na mesa do diretor pra mim.” E ele obedeceu, com um simpático “Claro”. E depois... ele voltou e eu disse... ah tá, “colocou os papéis lá na mesa, do jeito que eu te falei?”. E ele respondeu que sim. Não me lembro de ter dito mais nada depois disso... Nossa, não disse nem um obrigado? Aquele garoto sempre faz o que eu “peço”! Faz numa boa, às vezes com uma satisfação explícita nos olhos... É, estou precisando mesmo daqueles olhos paternos a me metralharem de novo, nessas horas.


Última vez... última vez... Meu Deus, não era possível que eu não tienha dito nem para alguém de lá de casa. Não, lá é que eu não costumo pedir mesmo. Parece que a gente perde essa educação básica com quem se tem mais intimidade... E nem na banca de jornal, quando fui comprá-lo? Não... também não tinha falado... isso estava me angustiando, não era possível que eu tenha me tornado este sujeito tão mal educado... Não, não, eu precisava fazer alguma coisa...


- Ei, você!


- Eu?


- Sim, você! Por favor, que horas são?


- Eh... são sete e cinqüenta e quatro.


- Obrigado.


Ahhhh... Não, eu ainda não havia deixado de ser civilizado! Ainda sabia ser educado, pelo menos, quando eu queria.


Nesse dia, inexplicavelmente, fui trabalhar com uma paz interior que há muito não sentia. E só por causa desse gesto... tão simples...


Não é à toa que sempre dizem: educação faz a diferença... nem que seja apenas dentro de nós mesmos.


Danilo Moreira



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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Acontece...

Olá leitores do Ponto Três.

Peço desculpas pela demora em postar, pois estou sem tempo por causa dos trabalhos da facul e principalmente, sem internet. O tempo aos poucos me acerto com ele, já a internet... só Deus (e a Telefonica) sabem...

Enquanto isso, o Ponto Três entrará num pequeno recesso, mas em breve, voltará com mais novidades.

Até mais!
Danilo Moreira

domingo, 16 de agosto de 2009

Globo e Record: Egos Feridos


(...)

O programa Repórter Record Especial mostrou que o poder da família Marinho teve origem exatamente durante a ditadura militar, período em que, por um acordo com os generais golpistas, a emissora de Roberto Marinho conseguiu sua concessão de canal. A Constituição brasileira da época proibia associações com grupos estrangeiros, mas a TV Globo burlou a legislação vigente e se associou à rede norte-americana Time-Life, obtendo investimentos irregulares que somavam US$ 6 milhões.

(...)

Para o advogado Arthur Lavigne, que defende a IURD, são regulares e legais as operações apresentadas como graves denúncias nos ataques contra a Rede Record e contra a Igreja Universal do Reino de Deus. “Minha defesa é a mesma desde 1994, ou seja, que há absoluta regularidade com relação ao que está sendo apresentado como denúncia. E eu repito: o Supremo Tribunal Federal já decidiu concretamente sobre esse fato com o arquivamento do inquérito”, explica Lavigne.

(...)

Em nota divulgada semana passada, a IURD disse que confia na Justiça brasileira e que tem certeza que o Poder Judiciário “é isento e não se influencia por pressões de qualquer grupo, nem mesmo o de uma organização que tenta manter o monopólio da informação em prejuízo do Brasil”.

(...)

Edir Macêdo diz que a Globo quer jogar o nome da Record na lama, eles nao estão olhando para o hoje, eles estao olhando para daqui 15 anos, porque eles esão vendo que a Record esta crescendo e ameaçando o primeiro lugar da emissora.

No final da entrevista o bispo é perguntado sobre qual seria a sua ambição, e responde: "A minha ambição é colocar a Record lá em cima, esse é o meu gol, vou trabalhar para que ela assuma a primeira posição , e eu vou conseguir, pode ter certeza, e ainda diz: "Vamos arrebemtar, arrebentar", finaliza o bispo.

Fonte:http://180graus.brasilportais.com.br/geral/reporter-record-faz-denuncias-contra-globo-confira-aqui-video-233145.html

Segue mais um capítulo da troca de acusações entre as duas maiores emissoras do pais, a Tv Globo e a Tv Record, iniciada no dia 11 deste mês no Jornal Nacional, onde fora veiculado uma reportagem de dez minutos com denúncias de desvio de dinheiro da Igreja Universal para a emissora da Barra Funda e até de formação de quadrilha por parte do bispo e líder da Universal Edir Macedo. Caso você queira saber mais sobre o assunto, clique aqui.

Desde 2004, a Record vem sofisticando a sua programação através de pesados investimentos, contratação de atores e atrizes conhecidos da Globo, da aquisição de formatos de reallity shows a até então inéditos na tv brasileira como o Aprendiz, novelas cada vez mais sofisticadas, e uma meta declarada aos quatro cantos do país de que sua intenção é a de chegar na liderança.

E por vezes, foi mesmo alcançado a liderança, ainda que por alguns minutos. A ultima foi no domingo retrasado, onde o sucesso A Fazenda desbancava a nova versão de No Limite (o reallity show, ao meu ver, mais antigo da Globo, até mesmo do que o BBB). Dois dias depois, abre-se um espaço no jornal mais importante da emissora carioca com a denúncia sobre a Universal e Edir Macedo. Daí por diante, o telespectador se viu dentro de uma verdadeira guerra de egos feridos, e até então, o que se vê é a Globo cutucando a Record, e a Record cutucando e desenterrando os podres da Globo e da família Marinho.

Fica muito claro a qualquer um que ambas estão brigando pelo monopólio da comunicação no Brasil, (conforme já fora dito até pelo Wander do Café com Noticias), mas o que revolta mesmo é saber que se está chegando a um nível onde aos meus olhos, o telespectador é a última preocupação. Sim. A Globo atacando a Universal e o Macedo (que de santo, ao meu ver, não tem nada). A Record se defendendo, exaltando Macedo e a Universal, e atacando a Globo e a família Marinho (que pra mim também de santos não tem nada) muitas vezes com ar de deboche. Daí, sentado no meu sofá, eu olho e pergunto, o que é que isso acrescenta na minha vida?

A sensação que se tem ao olhar essas cenas de ataques, dá se a mesma impressão de quando vemos aqueles políticos no congresso se atacando com palavras de baixo calão embelezadas por “vossa excelência” a cada dois segundos: é tudo farinha do mesmo saco.

Convém deixar registrado que não quero julgar a Universal, o Macedo, a Globo ou qualquer personagem dessa história, mas apenas quero deixar aqui registrado a minha humilde opinião de que, as duas possuem estrutura suficiente para competirem com a sua programação, e não desenterrando podres de cada uma. Todo mundo gosta de ver um barraco, mas no fundo, gosta de ver porque sabe que isso é algo lamentável, tão lamentável, que nossa curiosidade é apenas de saber quem é que vai sair ganhando, e quem vai sair perdendo.

Aguardemos os próximos capítulos dessa história...


Danilo Moreira


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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O múltiplo faz parte de você


Se queres conhecer teu mundo
Abra os olhos para todos os horizontes
Pois enxergar um só destino
Louvar um só conceito
Abraçar o mesmo desejo
O levará para a mesma conseqüência
E punirá os seus sonhos com a cadeia da mesmice
Levante-se!
Teu corpo é uma fusão de dois corpos
Teus pensamentos são uma fusão de vários pensamentos
Tuas crenças vieram de outras crenças
Teu destino complementa outros destinos
Tua língua representa vários povos
Tua cultura é uma mistura de vários tempos
O teu eu é uma fusão de muitos eus
O teu único uma fusão de únicos
O teu ego é uma fusão de egos.
Por isso, acorde!
Porque o múltiplo faz parte de você
Assim como você fará parte do múltiplo de outras pessoas.

Danilo Moreira


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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Nove e Meia - Parte II (final)


...No começo foi difícil aceitarem o nosso namoro.

- Sério? Mas por quê?

- Sei lá. Acho que é porque as pessoas não gostam de ver a felicidade do outros. Ou a querem ver do seu jeito...

- Sei bem o que quer dizer... O meu namoro no começo também foi tumultuado, mas não me arrependo não. Sou feliz ao lado dele, e é isso que importa.

- Quantos anos ele tem?

- Ah, vinte e dois anos, só um ano mais velha do que eu. E a sua?

- Ela tem vinte e um, dois anos mais nova do que eu...

E com o tempo, Rafaela e Marcelo foram embarcando dentro de um papo descontraído, contando de seus namorados, como eram, o que gostavam de fazer, situações engraçadas que já tinham vivido, momentos difíceis onde brotara a cumplicidade, e uma série de características que faziam parte de cada relacionamento, e cheio de coincidências, como locais que já haviam freqüentado, e até de alguns amigos em comum.

Algum tempo depois, Rafaela olhou em seu relógio. Já eram 21:42.

- É. Pelo jeito nossos pares têm outra coincidência: falta de pontualidade.

- Pois é. Até nisso. – concordou Marcelo. – Mas acho melhor eu ligar para ela e encontrá-la no caminho...

- Pensando bem... acho que vou fazer o mesmo. Vou ligar para ele.

- Aliás a gente falou deles, mas você não me disse o nome do seu namorado, não é?

- E nem você da sua.

- Pois é. Qual o nome dele?

Quando Rafaela ia responder o nome que havia pensado, eis que surgem duas pessoas atravessando a rua de lados diferentes. Um homem e uma mulher. Marcelo e Rafaela pararam de se falar por um momento. Ficaram de pé para recebê-los.

Mas, por um momento, olharam para o outro. Não, era mais uma coincidência, e esta, era a maior e mais surpreendente de todas.

- Ele é o seu namorado?

- Ela é a sua namorada?

- Sim. O nome dele é Bruno.

- Legal. E ela é a Renata. Não é linda?

- Maravilhosa.

E por fim, juntaram se os casais. Marcelo abraçou Bruno apertadamente, dando-lhe em seguida um longo beijo de língua. E, logo ao lado, Rafaela beijava sua amada, Renata, com uma doçura e vontade que só alguém com muita saudade da pessoa amada poderia sentir.

- Bem, nós já vamos indo. Renata, este é...

- Ah, Marcelo! Nem me apresentei.

- É mesmo...

- Ah, Bruno, está é a...

- Rafaela.

Ambos se apresentaram educadamente. Pronto. Agora era hora de ir. Rafaela e Renata iam para uma balada GLS, e Marcelo e Bruno iam pegar um cinema. Rafaela aproximou-se do rapaz, e disse:

- Como esse mundo é engraçado. Menti que era um namorado pensando que...

- É eu também fiz a mesma coisa, também pensando que você não ia gos... Mas enfim, preconceito bobo o nosso. Me desculpe.

- Imagina, eu é que peço desculpas. Obrigado por ter me feito companhia.

- Que é isso. Eu é que agradeço. Foi um prazer conhecer você e a sua namorada.

- Prazer foi todo nosso. – respondeu ela.

E por fim, todos se despediram, indo em seguida cada um para o seu rumo, enquanto senhoras carrancudas que passavam por ali comentavam como o mundo estava perdido, com tanta pouca vergonha por aí...

Danilo Moreira

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domingo, 2 de agosto de 2009

Nove e Meia - Parte I

História com duas partes

Rafaela olhou em seu relógio. Eram 20:54. Chegou cedo. Sorte que aquela praça era bem iluminada. Poderia ficar ali esperando sem receio. Após soltar um suspiro, sentou em um banco, e passou a observar o movimento.

Os minutos iam se passando e Rafaela viu em seu relógio que já eram 21:00. Ainda faltava um bom tempo. Teria que ter muita criatividade para esperar tanto...

Mas, o barulho de passos a fez desviar a sua atenção.

Caminhando tranqüilamente, Marcelo seguia para o ponto em que marcou seu encontro: o banco que ficava ao lado de um poste. Era o banco que Rafaela estava sentada. Vendo que o rapaz vinha na sua direção, a moça sentiu-se apreensiva. O que aquele homem queria com ela? Mas, Marcelo apenas fez um olá com a cabeça, e permaneceu de pé ao lado do poste. Preferiu não sentar, percebendo a apreensão da menina. Rafaela então, percebeu que o rapaz também estava esperando uma pessoa. E ambos ficaram como estavam; ela, sentada e olhando para o nada; e ele, olhando para as árvores, revezando com as olhadas no relógio. Também havia chegado cedo.

Silêncio. Como numa sala de espera de consultório, Rafaela cruzou as pernas, e começou a roer as unhas. Marcelo, com as mãos nos bolsos da jaqueta, começou a assobiar, ainda olhando o relógio do seu celular minuto a minuto.

Rafaela então, olhou para Marcelo:

- Moço, não quer sentar?

- Não não. Obrigado.

- Pelo que eu percebi você vai ficar muito tempo aí esperando em pé. Vai se cansar.

- Não vou não... eu acho...rs... Mas pode ficar.

- Senta. Tem espaço de sobra aqui no banco.

Marcelo olhou para a menina. Com um olhar simpático, ela pedia para que ele se sentasse. Ele não resistiu. Mostrou um sorriso envergonhado admitindo que ela havia vencido, e sentou-se ao seu lado, ainda que na outra ponta do banco.

- Obrigado.

- Imagina...

Outra vez, o silêncio. Minutos longos eram aqueles. Ambos olhavam para seus relógios. Cruzavam e descruzavam as pernas. Olhavam para o chão. Olhavam para as árvores. Olhavam para o movimento. Olhavam para o outro repetindo os mesmos gestos.

- Esperando a namorada?

Marcelo virou-se para ela, como se despertasse de uma espécie de transe.

- Eh... sim. Marquei com ela de se encontrar aqui às 21:30. Só que eu cheguei cedo demais...hehe... E você? Esperando o seu namorado?

- Sim, sim. Coincidência ou não, também foi marcado aqui e no mesmo horário.

- Caramba! Que coincidência, não?

- Põe coincidência nisso!

Ambos riram juntos.

- Namoram há muito tempo? – perguntou Marcelo.

- Sim, há quase dois anos. Nos conhecemos num barzinho perto da Paulista. No começo foi meio complicado porque a minha família não aceitava muito o namoro. Não gostavam dele...

- Eu sei... Também já passei por isso. Os pais da minha namorada também não me aceitavam. Ela quase foi expulsa de casa quando descobriram. A gente namora há cerca de um ano.

- Bacana. Onde você a conheceu?

- Foi numa balada na Vila Olímpia. Foi tão estranho no começo, no primeiro dia que a vi senti muita atração por ela, mas foi algo assim quase que instintivo, sabe? Nem eu imaginava que as coisas aconteceriam tão rápido como foi. No começo foi difícil aceitarem o nosso namoro.

- Nossa, mas por quê?

- Sei lá. Acho que é porque as pessoas não gostam de ver a felicidade do outros. Ou a querem ver do seu jeito...

- Sei bem o que quer dizer...

continua no próximo post...


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quarta-feira, 29 de julho de 2009

E Aos Meus Olhos, Boa Sorte


Há coisas que não voltam mais.

Escombros que já caíram. Vidas que já se foram. Restos e fragmentos cujos odores ainda tocam a alma e fazem doer todos os nervos do meu corpo.

Murros tomados pela vida e pela morte...

Olhos cada vez mais cinzas à procura de uma luz tão bela e aconchegante como já fora outrora.

Cansaço...

Sinto acumulado várias pedras que vira e mexe navegam pelas minhas paredes, esfregando sua superfície sobre os meus nervos, me arrancando lágrimas de dor.

E ponho-me a chorar, seja em lágrimas, ou apenas na complacência do silêncio.

Um olhar baixo, para o nada, ao som de uma música triste.

Até me esvaziar...

Sei que certas dores são inúteis e merecem ficar largadas nos arquivos do passado.

Mas enquanto não me acostumar com o presente, é do passado que tirarei minhas conclusões.

Mas há o futuro...

Futuro talvez atrasado, mas que aos poucos, volta a ocupar o seu lugar... os meus olhos...

Desejo o futuro. Desejo caminhar. Desejo me libertar das cores cinzas, mesmo que as use apenas para fazer arte.

E a vida continua, mesmo que eu caminhe com lágrimas ao peito, mas nesse mesmo peito bate um coração jovem, que precisa mostrar ao mundo o que viera fazer aqui.

E aos meus olhos, boa sorte.

Danilo Moreira

São Paulo, dezembro de 2008


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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Delírio - Ódio


Era um sujeito como outro qualquer
Que tinha seus pilares no lugar
Tinha sua vida no lugar
Tinha sua mente no lugar
Tinha seus sonhos no lugar
Tinha seus traumas no lugar

Seguia linearmente a linha da sua vida
Sua vida era seguida linearmente no lugar
Corria atrás de seus sonhos
Tinha suas asas voando alto, cujo volante era comandado pela razão
Levava seus espinhos com quem carregava travesseiros nas costas

Porém, num certo dia, seus olhos abriram de maneira diferente
O excesso de cutucões no seu ego abrira fendas no escudo que o mantinha são

Entrou na sua pele
Abriu as fendas do seu lado sincero
E o fez explodir...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH

e sua linha reta entortou-se para uma outra direção...

Mato a todos que me mataram
Degolo as cabeças que pensaram contra mim

Estupro os corpos que me recusaram friamente
Humilho àqueles que
me humilharam aos risos
Arrasto na lama àqueles que
me arrastaram
Quebro os vidros daqueles que
os meus quebraram
Torço os ossos daqueles que
torceram meu ego
Esburaco à balas a carne daqueles que
se julgam imbatíveis
Depredo as mansões daqueles que
pisotearam a minha casa
Berro aos ouvidos daqueles que
gritaram nos meus
Limpo meu ego com o sangue de todos que o sujaram


E sobre sangue, medo e escombros, colocara a cabeça no travesseiro. Agora iria dormir em paz...

Porém, toda paz proporcionada pelo ódio...
é na verdade...
traiçoeira...

Mato a [todos]
Degolo [todos]
Estupro [todos]
Humilho [todos]
Arrasto [todos]
Quebro [todos]
Too [todos]
Esburaco à balas [todos]
Berro aos ouvidos [todos]
Limpo meu ego com o sangue de [todos]

Ao cair a placa ligada aos seus nervos mais vitais
Percebe-se se sua alma ficara mais suja do que todos os outros

A paz ficou com nojo dele
Bateu asas para a terra do passado
Tua alma entrara de cabeça no lago do remorso
Estava condenado a afundar em suas águas
E sentir o seu gosto amargo para sempre

Beba essa água! Afogue nessa água! Beba essa água! Afogue nessa água! Beba essa água! Afogue nessa água! Beba essa água! Afogue nessa água! Beba essa água! Afogue nessa água! Beba essa água! Afogue nessa água! Beba essa água! Afogue nessa água! Beba essa água! Afogue nessa água! Beba essa água! Afogue nessa água! Beba essa água! Afogue nessa água! Beba! Afogue! Beba! Afogue! Beba! Afogue! Beba! Afogue! Beba! Afogue! Beba! Afogue! Beba! Afogue! Beba! Afogue!

E num certo dia...
abriu os olhos para o mundo...
viu que estava sozinho...

e devendo muito mais do que poderia pagar...

Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo!
Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Devo! Pague! Pague! Pague! Pague! Pague! Pague! Pague! Pague! Pague! Pague! Pague! Pague! Pague!
Pague!

E se sua mente não tiver a mínima condição necessária para ser mente,
a sinfonia dos devedores irá o acompanhar até a morte.
Até ele aprender a apertar seu Stop.
E aprender a apreciar, de fato, a melodia do perdão.

O perdão...
O habbeas corpus da alma
Cujo instrumento você terá que aprender a lidar
Se quiser continuar vivo em sua linha reta.

Danilo Moreira


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